Aproximava-se da meia noite, a lua ainda brilhava plenamente no céu. Deveríamos estar dormindo, mas Carol, Gawain, Mapa e eu continuávamos bebendo refrigerantes - e até algumas cervejas contrabandeadas - ao redor da fogueira que estava quase completamente apagada.
Nós deveríamos estar dormindo, pois no dia seguinte iríamos começar uma rotina árdua de treinamento e aprendizagem sobre lobisomens e como combatê-los. Óbvio que eu seria mais um aluno, pois o professor seria o maior caçador de bestas que já passou pelo Bando, que foi dispensado com honras após servir com bastante astúcia e ferocidade à sua antiga organização, o meu pai adotivo - e tio de sangue - , Harold Hunt.
Em algum momento, que não sei dizer qual, Gawain e Mapa começaram a ter uma conversa bem mais interessante e a se aproximarem bastante, até que finalmente se beijaram e deixaram a mim e a Carol observando tudo.
Depois de alguns beijos, os dois seguiram caminho na direção da barraca dele e nos deixaram completamente sozinhos, apenas nós dois ao redor da fogueira quase apagada sob um enorme e brilhante luar.
- É muito lindo, aqui - Carol falou.
Olhei para ela, sob a luz da fogueira ela parecia muito linda, agora com a luz do luar predominante, ela parecia divina, quase achei que tinha um anjo ao meu lado, eu fiquei alguns segundos contemplando a beleza dela, até que, finalmente, voltei ao normal.
- É, de fato é, sim, um lugar magnífico - comecei - às vezes me sinto sortudo de ter crescido aqui.
- Sério? - Ela perguntou.
- Não, eu lembro que tem uma matilha gigante de licantropos nos arredores da cidade e já me cago, com medo de uma provável chacina na cidade - respondi, ela riu brevemente, era um bom sinal. Resolvi me arriscar. - Mas aqui, mesmo sob a luz do luar, acho que a coisa mais bonita que já vi aqui... foi você.
- Coisa mais bonita? - Ela perguntou, fingindo um ar de ofendida de um jeito bem convincente.
- NÃO! Coisa não - fiquei assustado, com medo de ter ofendido ela. - Pessoa, digo, ser, digo... - bati na minha própria cabeça. Xinguei a mim mesmo: - Valeu, cuzão, você estragou tudo! Como sempre faz com qualquer coisa.
- Você disse coisa de novo!
- Eu desisto. Foi bom ter te conhecido, Carol. Perdoe-me pela minha burrice - falei, me levantando.
Ela riu e se levantou, foi até mim e segurou minha mão. O tempo parecia ter congelado quando ela pegou minha mão, segurando-a e me puxando para mais perto dela.
- Espera, seu bobo - ela disse enquanto me puxava vagarosamente para mais perto dela. Eu a olhava nos olhos, seus olhos escuros brilhavam ao me olhar, isso me intrigava, mas ela aproximava o próprio rosto do meu devagar, o que me deixava mais apreensivo e com mais sensação de tempo congelado.
- Espero... - eu apenas pude proferir essas palavras.
- Jason... tem uma coisa que eu queria te perguntar... - ela aproximou mais um pouco o rosto do meu, eu podia sentir sua respiração e nossos narizes estavam prestes a se tocar.
- Pode perguntar... - eu disse quase fechando os olhos, esperando pelo beijo.
Mas, de repente, o DJ arranhou o disco fazendo aquele som irritante que faz mudar qualquer clima que possa ter quando ela fez a pergunta:
- Tem alguma lagoa, ou lago, que uma pessoa possa nadar por aqui sem ser atacada por piranhas, ou crocodilos, jacarés, ou por qualquer animal?
Esse foi, sem dúvida, o momento mais triste da minha vida adolescente. Um sorriso que estava se abrindo no meu rosto se transformou em confusão, mas consegui responder a pergunta sem muito atraso.
- Er... Sim! - Respondi fingindo entusiasmo. - Há um lago perto das cascatas onde não tem piranhas ou qualquer bicho selvagem que possa te atacar.
- Que maravilha! - Ela exclamou, então começou a me puxar para perto da mata um pouco mais densa. - Por favor, nos leve até esse local que deve ser maravilhosamente bonito.
Assenti, um pouco surpreso e tímido, para ela e segui uma pequena trilha de cinco minutos de caminhada segurando a mão dela. Durante quase todo o trajeto, ficamos em silêncio, e esse silêncio chegava a ser torturante, pois milhares de pensamentos disparavam em minha mente.
Eu pensava em como eu poderia ter sido tão estúpido de imaginar que ele iria me dar um mole daqueles. Pensava, também, em como sair daquela situação sem me sentir tão constrangido ou intimidado. Pensei tanto que não ouvi ela perguntando a já estávamos chegando, somente quando ela chamou minha atenção de novo eu entendi, mas seria inútil responder porque, de fato, nós já havíamos chegado.
Estávamos perto de uma pequena cachoeira, uma cascata, havia algumas pedras ao pé da queda d'água, lugar bonito para ficar sentado ou deitado admirando o céu.
- Chegamos... - eu disse. - Este é o local.
- É um local perfeito - ela disse, ainda segurando a minha mão.
Nesse momento, percebi que minha mão estava suada, exatamente a mão que segurava a dela. Soltei um pouco a mão dela, ela me olhou com um pouco de espanto, talvez confusa ou constrangida.
- O que houve? - Ela perguntou.
- N-nada, eu apenas suo muito fácil, principalmente pelas mãos, então né... - respondi, um pouco sem jeito. - Enfim, você disse que era um local perfeito. Realmente, é um local perfeito pra dar uma nadada, descansar um pouco, desestressar... ou matar alguém, né?
Minha piada forçada fez ele arregalar os olhos e depois rir brevemente, ela me olhou com um certo olhar de malícia.
- Exatamente por isso que pedi pra você me trazer até aqui - ela disse.
- Bom, bom... - respondi automaticamente, depois entendi o que ela falou. - Espera, O QUE?!
Ela deu uma tapa significativamente forte na cabeça.
- Para de ser lerdo, Jason, claro que não pedi que me trouxesse para cá para que eu pudesse matá-lo - Carol riu mais solta e eu ri com ela.
- Então por que me pediu para virmos para cá? - Perguntei, então resolvi brincar um pouco. - Para que fiquemos sozinhos e tivéssemos mais privacidade para que você pudesse me beijar?
- Sim.
- Ah, bom... - falei, e mais uma vez só me toquei um pouco atrasado o que ela havia dito. - Espe... - Dessa vez ela não me deixou terminar nem a primeira palavra, ela havia me interrompido de uma forma que eu jamais esperava.
Ela me interrompeu com um beijo, um beijo tão quente que era como se uma descarga elétrica intensa estivesse passando por todo o meu corpo. Foi uma sensação tão intensa e gostosa que foi, exatamente, e última coisa que me lembro antes de apagar.
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O Caçador - Crônicas dos Metamorfos (Vol. 1)
مستذئبClassificação Indicativa: 16 anos. Meu nome? Jason Hunt. Tenho dezessete anos de idade, sou filho adotivo de Harold Hunt, xerife da cidade de Naples. Flórida, Estados Unidos da América. Onde cresci e fui criado pelo xerife desde que ele e sua esposa...