28. O Último Rugido

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O cheiro de morte era claramente perceptível, a atmosfera escura dela também. Havia pessoas espalhadas pelas ruas, feridas, mortas, chorando, clamando a Deus por uma saída. Era uma cena perturbadora e altamente triste.

Via colegas de escola meus chorando por seus amigos mortos, mães chorando por crianças mortas. O centro da cidade era um ambiente de guerra devastado.

Cada passo que eu dava nas ruas, era um peso a mais no meu peito. Eu poderia ter evitado tudo isso se eu tivesse matado o Alfa na missão de invasão ao covil, agora eles estavam criando um apocalipse na cidade onde cresci a fui criado.

Vi meus vizinhos e colegas morrerem, amigos de longa data e colegas do meu pai. Haviam muitos mortos pelas ruas, seus entes queridos chorando, gritando, clamando misericórdia por suas almas. Lembrei dos meus colegas da Alcateia que morreram na Batalha da Fazenda, ainda não pudemos fazer um funeral ou cremar seus corpos em uma pira.

Me aproximei de um dos corpos, reconheci a pessoa na hora. Era Aisha Banes, a Tomate, ela estava com uma expressão de susto em seu semblante, havia sangue espalhado e seus olhos sem foco, olhando para o vazio. Ao seu lado, seu melhor amigo, Bayer, estava caído de forma parecida, mas ele ainda respirava.

- Mapa... - comecei.

- Eu sei, ele ainda está vivo! - Ela exclamou, se aproximando dele. Tentando fazê-lo acordar.- Gabe, Gabe. Acorda.

As pálpebras de Gabe tremeram, ele não demorou muito para acordar. O garoto era pálido, mas, naquela hora, ele parecia papel seda, ele estava quase transparente.

- Onde... Onde estou? Eu morri? - Bayer perguntou, olhando para Mapa. - Mapa, Jason... O que está acontecendo? Estamos mortos?

- Ainda não - Melina falou.

- Não, Gabe, não estamos mortos, nem você - falei, me aproximei dele.

- Ainda bem... vocês podem me ajudar a me levantar? - Ele perguntou.

Eu e Mapa nos entreolhamos com uma expressão preocupada, depois olhamos para Bayer, tentando encontrar a melhor forma de explicar o que havia acontecido.

- Me ajudem, caramba... por que não sinto minhas pernas?! - Bayer falava, ele se esforçou para sentar e então viu o que o impedia de se levantar. - MAS QUE PORRA É ESSA?!

O grito do garoto foi totalmente proporcional ao que havia acontecido com suas pernas. A perna esquerda não existia mais, sobrara apenas metade da coxa esquerda do garoto, a perna direita ainda havia testado um pouco mais, mas apenas um pouco abaixo do joelho, metade da panturrilha dele fora removida, junto com a canela e todas as partes inferiores da perna, incluindo o pé.

- Calma, Bay, isso acontece, você tem que tentar não entrar em pânico - falei. Me virei para as meninas. - Temos que levá-lo ao hospital, mas não sei como.

- TENTAR NÃO ENTRAR EM PÂNICO?! MINHAS PERNAS SUMIRAM, JASON! - Bater gritou.

- Na verdade, elas foram arrancadas do seu corpo e provavelmente estão no estômago de algum lobisomem - Mapa falou.

- Jason, coloque-o nos ombros, vamos fazer a escolta. - Mel falou, armando o arco, se preparando para qualquer coisa que pudesse acontecer.

Carol e Mapa se armaram também, senti mais confiança naquilo. Peguei pedaços de pano de outras vítimas mortas, comecei a estancar o sangue que os ferimentos das pernas do Bayer estavam jorrando, então o coloquei em meus braços e começamos a caminhar rapidamente na direção do hospital.

Estávamos a passos lentos, até porque não queríamos chamar muita atenção, mas queríamos chegar ao hospital o mais rápido possível.

- Quanto falta para chegarmos ao hospital? - Carol perguntou.

O Caçador - Crônicas dos Metamorfos (Vol. 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora