Capítulo 34 - Clara

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Dizer que Irritada era meu sobrenome era a mais pura verdade. E combinava com o segundo: Clara Fodidamente Irritada.

Aquele pirralha ia pagar. Ah se ia.

E com alguns pensamentos sobre vingança que eu quase cai mais uma vez, mas dessa vez o Caio me segurava, entre um negócio de segurar e seu braço, dentro do ônibus.

Eu não tinha nada contra ônibus, só quando eu era obrigada a ir e a voltar, 97% do caminho lotado, e/ou estava com cólica. Hoje os três itens se aplicavam.

O pirralha do 3 andar tinha furado dois pneus do carro do Caio - pela terceira vez -, e nós estávamos num ônibus lotado, eu estava com muita dor e pra completar, hoje era um dia muito chato. Há três anos, o dia de hoje vem sendo uns dos piores dias.

Mas uma vez o motorista faz uma curva em alta velocidade, mas dessa vez quase caio em cima das moça que se ofereceu pra segurar a minha mochila e a do Caio. Ainda bem que já estávamos perto de casa.

Aguentei o caminho inteiro sem falar nada, apenas agradecendo a moça tentando mostrar toda minha gratidão na voz. Entre a parada de ônibus e nosso prédio, parecia que a cada passo minha raiva aumentava. E o meu amigo percebeu isso.

Assim que descemos do ônibus, Caio fez questão de levar minha mochila - muito bom, por que estava pesada - e caminhou a poucos passos de mim. Ele sabia o que fazer quando eu estava nesse estado de puro ódio, tanto, que se estendesse a mão, poderia me segurar e evitar um estrago.

Quando entramos no elevador, pensei duas vezes antes de apertar o botão para o terceiro andar. Em vez disso, a razão bateu, e apertei para o quinto andar, Caio me olhou confuso, mas quando eu saí do elevador, ele veio atrás de mim. Ele estava estranhamente calmo, o que me obrigava a fazer o que ele não tinha feito.

Toquei a campainha do apartamento do síndico umas quatro vezes, e senti passos rápidos vindo até a porta.

- Clara? Caio? O que fazem aqui. - Igor, o síndico, perguntou.

- Quero as filmagens do estacionamento dos últimos dias. - ordenei. Então Caio finalmente entendeu o que eu queria fazer, e tomou a frente.

- Meu carro teve dois pneus furados. De novo. E quero que o pai do responsável pague, não tenho dinheiro para ficar gastando com pneu e ainda furam...

- Ah sim. Seu pai falou comigo, Caio. Eu fiquei de ver agora de tarde... Você falou como se soubesse de algo.

- Foi o... - tentei falar, mas o loiro colocou a mão na minha boca, me impedindo de dedurar o garoto. Me debati, mas não consegui sair dos braços do Caio.

- Temos nossas suspeitas. Até por que não foi à primeira vez. - ele disse, enquanto tentava me manter calada - E depois, furar pneu de carro é sacanagem. Eu pago meus impostos tudo certinho, não sobra muito pra trocar algo que foi furado de propósito.

- Como você sabe que foi de propósito.

- Eu entrei no carro ontem, liguei e quando fui sair da garagem, os dois pneus esgotaram. Pouf, pouf. Sai do carro e encontrei vários parafusos e pregos debaixo do pneu.

- Ok... Quando eu vir às gravações, te mando uma mensagem.

Depois de agradecer e se despedir do síndico, Caio me levou de volta ao elevador.

- Eu já ia resolver isso. - ele disse frustrado com minha reação imprudente. - Você não precisava se intrometer Clara.

Ele parecia realmente chateado.

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