Capítulo 10 - Pietro

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Depois do surto na praia, eu tive outro parecido e dois antes.

O primeiro foi com o Flynn e com o Caio. Estávamos tocando e eu pedi para tentarmos tocar uma que eu tinha escrito antes do acidente. Eu já tinha lido a letra e sabia as notas, eu sabia como era a musica. Mas enquanto tocávamos a batida pesada, tentei focar na letra e como estava minha situação quando escrevi a musica.

Ela falava da dor de uma perda familiar. Ela se chamava Chris song's e no caderno que eu tinha achado com a música tinha anotações sobre a melodia e sobre a musica, e o que era para ser uma folha de letras, tinham cinco. Cada paragrafo tinha uma anotação sobre meu estado emocional naquela época, e no final meu EU da musica se reerguia com ajuda de pessoas próximas. Eu não sabia que podia escrever uma musica tão forte que representasse tudo o que eu sentia, de acordo com as anotações, e que me emocionasse quando eu tentava toca-la sozinho.

Eu tentava lembrar de alguma coisa do meu pai, da forma que ele é descrito na musica, mas a única coisa que eu lembrava era os acordes que eu já tinha decorado, mas forçar meu cérebro me fez ficar com uma dor de cabeça forte e me fez errar varias notas, então começamos a tocar de novo e eu errei a letra. Na terceira vez que tentávamos tocar a musica eu errei a mesma nota que a primeira vez e o mesmo trecho que a segunda. Com isso - além de estar com dor de cabeça, irritado por não lembrar de nada e emocionado pela letra e a dor que ela me passou por ter perdido meu pai, e melhor amigo, em um acidente e não lembrar dele - fiquei furioso comigo mesmo por errar uma musica que eu treinei sozinho por dias para não errar quando a banda ensaiasse junto.

Essa foi à primeira crise. Joguei a guitarra que estava segurando em um dos pufes, arremessei o microfone no chão - fazendo-o quebrar em vários pedaços - e comecei a socar a parede mais próxima.

Eu estava furioso por não me lembrar de nada. Já estava dentro do prazo dito pelos médicos. POR QUE EU NÃO LEMBRO DE NADA?

- CALMA PIETRO. - Escutei gritos altos, só então percebi que estava gritando.

Senti alguém segurando meus braços atrás do meu corpo. Eu tentava me soltar, mas seja lá que foi que me segurou não me soltava. Então Caio apareceu na minha frente e começou a me sacudir - então era o Flynn que estava me segurando - pedindo para eu me acalmar e parar de gritar.

Então eu fiz, eu parei, como se tivesse voltado de um transe. Caio, que ainda me sacudia pelos ombros, parou e me olhou, esperando que eu continuasse a me debater. Então Flynn soltou meus braços e eu me distanciei dos dois, e me joguei em um dos pufes do estúdio e comecei a passar a mão repetitivas vezes em meu cabelo curto e puxei algumas mechas, o que fez minha cabeça doer ainda mais, e vi o Flynn tirar minhas mãos da cabeça com um tapa forte. Reclamei, mas respondi por que tive aquele surto e o que tava sentindo, então Chelly apareceu e contei o que aconteceu, ela me deu um remédio para dor e fui dormir depois disso, não antes de pedir desculpa para o Caio e Flynn sobre o meu surto.

O segundo foi no consultório medico dois dias depois. Meu neurologista marcou exames mensais para saber se fiquei com alguma sequela depois do coma, além do APT, e durante a consulta eu desabei em chorar e falei minha frustação de não consegui lembrar de nada, Clara tava comigo e ficou acariciando minhas costa enquanto eu desabafava. O neurologista apenas me receitou alguns remédios antidepressivos, calmantes e um analgésico forte para quanto tiver outra daquela dor de cabeça. Mas recomendou que eu levasse a receita para o meu psicólogo aprovar também, antes de começar a tomar.

A terceira foi na praia. Eu já tinha passado um dia meio mal, li novamente o caderno de musicas detalhado e senti novamente a emoção que a musica Chris Song's me passava e outra de quando fui traído pela primeira vez.

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