O ruim de passar a noite bebendo é a ressaca do dia seguinte. Toda sua cabeça fica latejando e, não sei os outros, uma espécie de labirintite nos primeiros minutos depois que acordo.
E pra completar, sinto a minha pulsação no ritmo das pancadas que o martelo da na parede. Acho que o vizinho não sabe que dia de final de semana não pode fazer barulho antes das 9... Já passou das nove?
Me estico um pouco para pegar meu celular, e não, ainda são 8h15. Cedo de mais pra acordar depois de uma festa.
Continuo sentindo as pancadas. Aos poucos elas vão ficando estranhas, não é um ritmo continuo, era mais como uma música. Quatro tempos iguais e depois outros quatro tempos diferente do primeiro.
Precisei de um tempo até levantar - pra esperar o tontura passar -, e fui no banheiro. Na volta, percebi que o Caio não estava mais dormindo. Estranho, ele não dorme menos de 7horas depois de beber daquele jeito.
Sai do meu quarto em direção a sala. Todo o corredor pulsava, e consegui sentir as batidas com clareza enquanto andava. A porta do estúdio estava fechada, mas apostava que meu amigo estava ali.
Preferir ir na cozinha primeiro, e tomei um remédio pra enxaqueca - do que eu tomava quando tinha aquelas crises de ansiedade - e coloquei a cafeteira pra funcionar, já que estava com preguiça de passar café manualmente.
Fiz um sanduíche e comi enquanto esperava o café, e quando finalmente ficou pronto, pude até mesmo sentir a dor de cabeça diminuindo. Enchi duas canecas, adocei pouco a bebida e fui em direção ao estúdio.
Assim que eu abri a porta, o barulho da bateria parecia quase insuportável, tanto que precisei de um tempo pra acostumar meus ouvidos antes de entrar, mas assim que o Caio deu uma pausa, eu dei sinal de vida, e ele parou de maltratar o instrumento que ele diz que tanto ama.
- Você não dormiu? - perguntei entregando uma das canecas pra ele.
Caio parecia cansado. Ele usava um protetor auricular e um fone de ouvido, mas mesmo assim conseguiu me escutar.
- Muito pouco. Acordei de madrugada e não consegui voltar a dormir. Estava me sentindo mal, e precisei vomitar. - ele contou fazendo uma careta - Se eu soubesse que iria passar mal de qualquer forma teria dado pt.
Eu revirei os olhos.
- Acho melhor não, Clara não está aqui pra cuidar de você. - comentei e jurei que ele iria soltar alguma piada, mas ele nem se quer suspirou quando escutou o nome da Clara. - Você realmente não vai me contar o que você tem?
Ele olhou pra bateria, depois pra caneca por um longo tempo. Minha bebida estava na metade e eu tinha trazido um dos pufes pra perto da bateria.
- O que você faria se soubesse de uma informação e prometesse guardar segredo ate um período de tempo? - ele perguntou.
- Que? - Fiquei confuso, mas ainda assim perguntei pra confirmar - Tem alguém doente ou alguém matou alguém?
- Não, não é nada disso... Quer saber, esquece... Não, não, eu queria saber o que você faria.
- Mano, eu não estou entendendo nada do que você tá falando.
- Tá, vê... - ele bebeu um gole do café e falou com mais calma. - Imagina que você sabe de algo que, se cair nas mãos de alguém, vai acabar com a vida de várias pessoas. Mas aí você dá um prazo pra a outra contar, por que é necessário que todos saibam, mesmo fazendo mal. - ele deve ter visto a confusão na minha cara, por que tentou explicar de novo - Exemplo... Alguém morreu. A notícia vai ser espalhada, vai acabar com as pessoas que gostam desse alguém, mas não se pode esconder pra sempre, só adiar contar. Entendeu agora? O que você faria.
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"Memorias"
Novela JuvenilPietro Marques vivia muito bem namorando o amor da sua vida. Karina Ferrari fazia o loiro enlouquecer apenas de pensar. Musico prodígio, querido por todos e, inegavelmente, atraente, Pietro fazia todas as garotas de sua faculdade suspirarem, porem t...