Capítulo 3 - 1º Susto aos 3 meses

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Numa terça feira a tarde, fui dar a mamadeira para o Rui. Como de costume, amamento e coloco-o em pé no meu colo para arrotar.

Assim que ele ficou em pé reclamou um pouco e não arrotou.

Continuei com ele em pé mas ele começou a chorar. Achei estranho pois ele nunca chora, digo nunca mesmo. Parecia um choro de cólicas pois ele estava com a barriguinha muito dura.

Na hora achei que seriam cólicas ou gases pois o intestino do Rui não funciona muito bem.

Depois do choro ele começou a suar muito na cabeça, outro fator também estranho.

Pensei que ele estava com algum mau estar de dor de barriga.

Coloquei ele na minha cama, tirei a calça e a meia e deitei ele para fazer uma massagem na barriguinha. Ele voltou a chorar e um choro que nunca havia visto, um choro doído. De repente ele parou e ficou deitado, molinho, olhando para o nada.

Conversei com ele, e ele não olhava para mim, não ria e começou a fechar os olhinhos como se fosse dormir.

Aí vi que tinha algo errado com ele.

Imediatamente liguei para a pediatra e coloquei o Rui no colo da avó. Ele continuava acordado, mas molinho, sem reação, parecia desmaiado mas com os olhos abertos.

De repente ele começou a ficar roxo, os lábios azuis, e eu ao telefone simplesmente surtei. Comecei a gritar e a tremer e a pediatra disse para eu ir imediatamente para o hospital.

Mas como assim? eu precisava fazer algo antes de ir para o hospital, não ia entrar no carro com ele assim.

Começamos a mudar ele de posição, fazer a manobra para desengasgar, mas ele não estava engasgado. Então o que seria aquilo Meu Deus!

Ele não voltava, continuava estático, com os olhinhos tristes, não reagia, e eu gritava:

- Rui pelo amor de Deus, chora, grita, acorda!

Na confusão ninguém achava telefone de táxi e o vizinho disse que levaria a gente. Eu não tinha condições de dirigir e o Simão estava a trabalhar. Deixei o Sérgio com a minha mãe em casa.

Desci de casa com o Rui nos braços e na tensão, o vizinho não conseguia ligar o carro. Sai correndo com ele , esqueci carro aberto, celular, e a primeira pessoa que vi implorei para me levar ao hospital.

Todo esse tempo o Rui continuava com aquela carinha estranha, estática, e eu com o dedo na boca dele para caso fosse uma convulsão , não morder a língua ou não parar de respirar.

Eu moro a 10 minutos do hospital. Mas o caminho até lá foi uma eternidade por causa do show da Madonna.

Eu só rezava e pedia a Deus para que ele continuasse respirando , pois para mim, ele estava tendo alguma coisa muito séria que na melhor das hipóteses, traria alguma sequela neurológica.

Descemos a milhão no hospital e imediatamente o Rui foi atendido.

Ele ainda estava apático, parecendo não reconhecer ninguém, mas só de saber que ele estava respirando e já no hospital, pude ter um certo conforto.

O processo todo entre perceber que ele estava estranho e chegar no hospital foi por volta de 40 minutos.

Nesse intervalo o Rui não reagia e algumas vezes parecia que ia desmaiar de vez.

Eu não sei explicar para vocês o que senti. Só de lembrar a dor que passei. Uma sensação de impotência frente a um filho, querendo salvá-lo, querendo dar sua vida por ele.... Um medo de perdê-lo, uma dor... Eu gritava, rezava, chorava... Dizem que nós devemos ter sangue frio para poder agir com tranquilidade e tentar ajudar. Mas como ter sangue frio nessas horas?

Então iniciou-se uma série de exames para descartar algo grave como problemas cardíacos ou de má formação, ou mesmo ter sido uma convulsão.

Não sei dizer em qual momento O Rui começou a voltar e parecer que estava normal. Mas demorou um pouco. Talvez quando a enfermeira colocou a agulha para colher sangue e ele chorou já me pareceu ser melhor que ficar apático como ficou na última hora. Mesmo assim, o Rui ultra sorridente e simpático não dava nem sinais que estava por perto.

Só depois de dormir um pouco nos meus braços fazendo um electro, ele acordou e esboçou um mini sorriso.

Meu coração transbordou de felicidade e mesmo ainda sem saber o que ele tinha, só de estar vivo já era tudo para mim.

Assim que o Simão saiu do trabalho veio ter comigo. Expliquei tudo para ele, que estava tão aflito quanto eu. Ele quis passar a noite lá comigo, mas ele precisava de cuidar do Sérgio e também descansar pois no dia seguinte trabalharia de novo, e eu não.

Até sair o resultado do ultimo exame eu ainda tive muito medo de ser algo grave. Passei a noite no hospital com o Rui, e foi muito difícil para mim. Não preguei o olho, lembrava do que passei, e só chorava.

Graças a Deus, nada grave foi encontrado. Não tivemos uma explicação concreta sobre o acontecido , e nesses casos a melhor das hipóteses passada pelos médicos é acreditar que foi um refluxo logo após mamar que gerou uma dor que fez com que a pressão caísse bruscamente.

Mesmo ele estando bem, ainda estou muito abalado com o que passei.
Pois nas minhas andanças pelo corredor do hospital no mesmo andar que o Rui estava e na salinha infantil, me deparei com cenas de mães, dando a sua vida, para fazer um filho com câncer ou com problemas seríssimos, sorrir. Contando histórias, montando castelos, vestindo fantasias... isso me abalou demais.

Queria que todas aquelas mães também tivessem alta e pudessem ir embora de lá com seus filhos nos braços como eu pude fazer.


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