Numa terça feira a tarde, fui dar a mamadeira para o Rui. Como de costume, amamento e coloco-o em pé no meu colo para arrotar.
Assim que ele ficou em pé reclamou um pouco e não arrotou.
Continuei com ele em pé mas ele começou a chorar. Achei estranho pois ele nunca chora, digo nunca mesmo. Parecia um choro de cólicas pois ele estava com a barriguinha muito dura.
Na hora achei que seriam cólicas ou gases pois o intestino do Rui não funciona muito bem.
Depois do choro ele começou a suar muito na cabeça, outro fator também estranho.
Pensei que ele estava com algum mau estar de dor de barriga.
Coloquei ele na minha cama, tirei a calça e a meia e deitei ele para fazer uma massagem na barriguinha. Ele voltou a chorar e um choro que nunca havia visto, um choro doído. De repente ele parou e ficou deitado, molinho, olhando para o nada.
Conversei com ele, e ele não olhava para mim, não ria e começou a fechar os olhinhos como se fosse dormir.
Aí vi que tinha algo errado com ele.
Imediatamente liguei para a pediatra e coloquei o Rui no colo da avó. Ele continuava acordado, mas molinho, sem reação, parecia desmaiado mas com os olhos abertos.
De repente ele começou a ficar roxo, os lábios azuis, e eu ao telefone simplesmente surtei. Comecei a gritar e a tremer e a pediatra disse para eu ir imediatamente para o hospital.
Mas como assim? eu precisava fazer algo antes de ir para o hospital, não ia entrar no carro com ele assim.
Começamos a mudar ele de posição, fazer a manobra para desengasgar, mas ele não estava engasgado. Então o que seria aquilo Meu Deus!
Ele não voltava, continuava estático, com os olhinhos tristes, não reagia, e eu gritava:
- Rui pelo amor de Deus, chora, grita, acorda!
Na confusão ninguém achava telefone de táxi e o vizinho disse que levaria a gente. Eu não tinha condições de dirigir e o Simão estava a trabalhar. Deixei o Sérgio com a minha mãe em casa.
Desci de casa com o Rui nos braços e na tensão, o vizinho não conseguia ligar o carro. Sai correndo com ele , esqueci carro aberto, celular, e a primeira pessoa que vi implorei para me levar ao hospital.
Todo esse tempo o Rui continuava com aquela carinha estranha, estática, e eu com o dedo na boca dele para caso fosse uma convulsão , não morder a língua ou não parar de respirar.
Eu moro a 10 minutos do hospital. Mas o caminho até lá foi uma eternidade por causa do show da Madonna.
Eu só rezava e pedia a Deus para que ele continuasse respirando , pois para mim, ele estava tendo alguma coisa muito séria que na melhor das hipóteses, traria alguma sequela neurológica.
Descemos a milhão no hospital e imediatamente o Rui foi atendido.
Ele ainda estava apático, parecendo não reconhecer ninguém, mas só de saber que ele estava respirando e já no hospital, pude ter um certo conforto.
O processo todo entre perceber que ele estava estranho e chegar no hospital foi por volta de 40 minutos.
Nesse intervalo o Rui não reagia e algumas vezes parecia que ia desmaiar de vez.
Eu não sei explicar para vocês o que senti. Só de lembrar a dor que passei. Uma sensação de impotência frente a um filho, querendo salvá-lo, querendo dar sua vida por ele.... Um medo de perdê-lo, uma dor... Eu gritava, rezava, chorava... Dizem que nós devemos ter sangue frio para poder agir com tranquilidade e tentar ajudar. Mas como ter sangue frio nessas horas?
Então iniciou-se uma série de exames para descartar algo grave como problemas cardíacos ou de má formação, ou mesmo ter sido uma convulsão.
Não sei dizer em qual momento O Rui começou a voltar e parecer que estava normal. Mas demorou um pouco. Talvez quando a enfermeira colocou a agulha para colher sangue e ele chorou já me pareceu ser melhor que ficar apático como ficou na última hora. Mesmo assim, o Rui ultra sorridente e simpático não dava nem sinais que estava por perto.
Só depois de dormir um pouco nos meus braços fazendo um electro, ele acordou e esboçou um mini sorriso.
Meu coração transbordou de felicidade e mesmo ainda sem saber o que ele tinha, só de estar vivo já era tudo para mim.
Assim que o Simão saiu do trabalho veio ter comigo. Expliquei tudo para ele, que estava tão aflito quanto eu. Ele quis passar a noite lá comigo, mas ele precisava de cuidar do Sérgio e também descansar pois no dia seguinte trabalharia de novo, e eu não.
Até sair o resultado do ultimo exame eu ainda tive muito medo de ser algo grave. Passei a noite no hospital com o Rui, e foi muito difícil para mim. Não preguei o olho, lembrava do que passei, e só chorava.
Graças a Deus, nada grave foi encontrado. Não tivemos uma explicação concreta sobre o acontecido , e nesses casos a melhor das hipóteses passada pelos médicos é acreditar que foi um refluxo logo após mamar que gerou uma dor que fez com que a pressão caísse bruscamente.
Mesmo ele estando bem, ainda estou muito abalado com o que passei.
Pois nas minhas andanças pelo corredor do hospital no mesmo andar que o Rui estava e na salinha infantil, me deparei com cenas de mães, dando a sua vida, para fazer um filho com câncer ou com problemas seríssimos, sorrir. Contando histórias, montando castelos, vestindo fantasias... isso me abalou demais.Queria que todas aquelas mães também tivessem alta e pudessem ir embora de lá com seus filhos nos braços como eu pude fazer.
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Amor sem limite
CasualeMinha história podia ser como tantas outras, mas começou de uma forma muito diferente. Me casei com um homem, que já fora mulher, e mudou para me fazer feliz e ser feliz. Com ele tive 2 filhos gémeos, 100% nossos. Mas filhos, não é só coisas boas...