Estava sentado num café com o meu amigo Pedro, conversando depois de nossos expedientes como pais gays. Estávamos conversando se como gays e pais, nós nos identificávamos mais com pais ou mães héteros.
Pedro: Acho que eu me sinto mais como uma mãe que um pai.
Filipe: Sem dúvida, eu também me identifico mais com as mulheres - disse, pensando em como eu lidava minhas emoções de maneira mais similar à maneira como as mães expressavam seus sentimentos.
Mas Pedro e eu concordamos que há limites para o quanto nós poderíamos no identificar com qualquer pessoa hétero, que nos cerca todos os dias em aulas de natação, passeios nos parques. Como pais, nós gays passamos por experiências profundamente distintas. Claro, nós nos solidarizamos com qualquer pai ou mãe quando o assunto é trocar fraldas, alimentar os filhos de madrugada e como é difícil ficar sem dormir.
Meu caminho para a paternidade foi deliberado e eu sabia, quando entrei nessa, que minha escolha de criar filhos me deslocaria do padrão da comunidade gay.
Eu estava um pouco perdido, mas eu sabia que ser um pai moderno, gay ou hétero, significa aulas e actividades.
A paternidade é difícil, e ser um pai gay é ainda mais. Há tão poucos exemplos como nós!
Seria de se esperar que um pai gay estaria rodeado por outros pais em condições parecidas. Eu pensava isso. Mas frequentemente eu era forçado a ver como nós somos uma espécie rara.
Muitas vezes eu era o único pai gay, a onde quer que eu fosse. Claro que muitas vezes eu encontrava homens passeando com crianças, mas na maioria das vezes eles estavam tomando conta de seus filhos por um dia, invés de ser em tempo integral. E eles não eram gays.
Meu lindo Simão, se uniu a mim na caça por outros pais gays. Literalmente. Era só vermos dois homens empurrando um carrinho com uma criança na rua e nós saíamos correndo atrás. Eu me dei bem algumas vezes fazendo isso. Quando eu era solteiro eu conferia o carro de um cara, hoje eu avalio seu carrinho.
Com o tempo eu encontrei outros pais gays, e com eles encontrei espaço para conversar sobre tudo desde pais gatinhos, aos nossos trajectos à paternidade. Levávamos os filhos juntos, e nos impressionávamos, com as rodas de mães amamentando nos parques.
Ser um pai gay é como ser gay na década de 1990. Algo aceitável, mas ainda uma novidade. Então, já que eu havia me tornado um pai gay, eu decidi me apoiar no papel do "melhor amigo gay" que já havia interpretado tantas vezes no passado. Eu escutava os problemas das mães e dava conselhos, batia papo com as babás, ou passava o tempo aproveitando a oportunidade para conhecer profundamente meus filhos.
Esse Filipe me era familiar, eu já havia sido assim antes. E, sinceramente, era uma maneira boa de se poupar esforços numa época em que meus filhos estavam crescendo e se tornando um desafio maior.
No entanto, depois de 15 meses, eu me dei conta da oportunidade incrível que eu e o Simão temos de criar um novo componente na identidade gay. Nós somos pais gays, não pais héteros, não mães héteros. Não há uma palavra que nos defina ainda, mas nós somos quem somos.
Não há dúvida de que essa é uma identidade mais convencional que aquela que tipicamente se associa à vida gay. Nós passamos as noites em casa, vamos dormir às nove da noite, e na maior parte do tempo, vivemos vidas bastante convencionais. Mas nós não estamos mortos, nós ainda saímos para jantar, frequentamos bares, apesar de que muito mais cedo do que antes de termos filhos.
Eu já aceitei que sou um pai gay, num meio convencional, ou seja, a paternidade. Eu quero que meus filhos, falem sobre como sua infância foi ótima, não sobre como ela foi diferente do resto. Resumindo, eu serei o pai que eu quero ser quando, eu sou eu mesmo.
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Amor sem limite
De TodoMinha história podia ser como tantas outras, mas começou de uma forma muito diferente. Me casei com um homem, que já fora mulher, e mudou para me fazer feliz e ser feliz. Com ele tive 2 filhos gémeos, 100% nossos. Mas filhos, não é só coisas boas...