A Cidadela
Ainne limpou o rosto e seguiu para outra câmara da caverna, escalou as pedras com o olhar fixo para o buraco lá no alto, o seu portal para a liberdade.
Quando saiu se viu rodeada por árvores altas, esguias e tortas, todavia boas o suficiente para esconder seu segredo.
Já sentindo a alegria lhe tomar o coração, abriu suas asas e subiu com velocidade em direção aos céus. Assim que passou pelas nuvens se deixou planar agradecendo aquele momento de completa liberdade. Seu momento, um tempo só dela onde ninguém dependia de suas mãos coletoras para ficar vivo, onde ela não devia sua vida a uma tribo de poucos que mereciam viver. Não importava que lá embaixo seu segredo fosse um estigma de morte, ali ela era a Nefilin alada e agora estava muito acima dessa podridão. Estava no céu e ninguém que não tivesse asas poderia encontrá-la.
Observou através das nuvens as tendas minúsculas lá embaixo. As cores variavam e as pessoas eram apenas pontos. Algumas pouquíssimas tribos possuíam animais. E essas eram as dominantes já que animais significava Nefilins como membros da tribo e quanto mais deles, mais forte e dominante a tribo se tornava, podendo se tornar uma clanades ou um clã e nesse último, o poder de comércio era maior.
Por algum tempo ela apenas aproveitou seu momento de liberdade, apenas focou no quanto a Cidadela mudava a cada visita da tribo, mas ela deixou de lado a visão lá embaixo quando percebeu o vulto marrom que aparecia vez ou outra a sua a frente quando a nuvem permitia.
Ainne percebeu que tinha voado em direção ao Norte, por sorte ainda não estava no limite da fronteira, mais um pouco e teria invadido. Não sabia o que aconteceria se isso tivesse acontecido, mas não era maluca para arriscar. No entanto aquela parede marrom a deixou curiosa e mesmo tão perto de ultrapassar o limite ela decidiu averiguar o que era. Aproximou-se cautelosa e subiu alguns pés de altura.
O monte era plano e estreito e a rocha ia expandindo até sumir abaixo das nuvens. Constatou com alegria que era o pico de uma enorme montanha que ficava no meio da grande floresta que fazia fronteira natural com os lados Norte e Leste e dali ela poderia ver a fronteira do lado Sul onde ficava o portão da pesagem. Essa extensa faixa de verde nativo dominava muitas partes do lado ímpio, inclusive uma parte do lado nortenho, mas ainda estava segura que não estava invadindo.
Voou com cautela circulando aquele pico para garantir que estava sozinha e com um suspiro maravilhado de alguém que acaba de encontrar seu lugar no mundo Ainne pousou, retirou as botas de couro e andou descalça por cada cantinho sentindo a frieza da pedra e se deliciando ao constatar que as nuvens e a neblina ficavam abaixo daquele cume e uma bruma fina e fresca roçavam a pele de seus pés.
Apaixonou-se na mesma hora por esse pedacinho acima do céu e decidiu solenemente que esse seria seu refúgio a partir daquele momento e passaria seus dias ali por todo o tempo em que a tribo decidisse ficar na cidadela. E assim passou a tarde toda fazendo planos do que poderia trazer, procurou as reentrâncias do lugar para usar como esconderijo de seus objetos inúteis, mas queridos. Depois de encontrar maravilhosos buracos pelas paredes da ponta onde poderia usar como "guarda bobagens da Ainne", ela decidiu finalmente dormir o que não tinha conseguido na tenda.
Após um bom tempo se virando para todo lado tentando em vão esperar o sono chegar, acabou desistindo e ficou deitada de costas observando as nuvens que passavam por seus olhos, tão perto que ela tinha a sensação que poderia tocar se esticasse a mão. Sentia-se tão em paz consigo mesma naquele lugar, que estava até com pena de sair dali para caçar e buscar as raízes e folhas que prometera ao senhor Gulu.
Ouviu o ruflar suave e logo o som de asas sendo recolhidas e seu coração acelerou. Aquele som só podia significar uma coisa. Um Nefilin alado se aproximou sem ela notar e isso era muito estranho já que ela sempre sentia o perigo ao longe.
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A Era dos Anjos- Os filhos de Ayel- Degustação
FantasyQuando matar um semelhante era a única maneira para se viver mais um dia, eles vieram e ditaram a sentença. Então ímpios e Justos viraram todos na terra. A regra agora é outra. Os pecados são pesados em vida, o mundo foi dividido e todos terão que a...