Ainne despertou sentindo frio. Tudo estava em silêncio e ela acabou virando para se certificar que aquele Nefilin com aparência estranha não tinha sido uma ilusão. Não tinha, ela sabia que não, mas ele não estava mais ali.
Sua barriga roncou e ela sentou abruptamente, acabou gemendo desanimada. Tinha esquecido o que prometera a ao senhor Gulu. Olhou para as nuvens tentando se decidir se ainda daria tempo para fazer uma colheita rápida. Decidiu que buscaria alguma coisa, afinal tinha prometido.
A neblina estava densa, mas ela não teve dificuldades em encontrar suas botas, as calçou com pressa, ajeitou o lenço o amarrando na cintura e pulou. Deixou as asas se abrirem e seguiu para em direção ao acampamento que a tribo tinha levantado no dia anterior. Não se deu ao trabalho de se preocupar sobre o encontro com o Nefilin, na verdade ficou feliz por acordar e não encontrá-lo. No entanto estranhou o fato de ter dormido tão pesado ao lado de um estranho. Foi imprudente, mas ela seguiu seu instinto que não a enganara, pois ele sequer mexeu com ela. Na verdade fez o que parecia disposto quando deitou, fingir que ela não existia e sem querer, por ter dormindo tão rapidamente quando deitou ao seu lado, ela acabou fazendo o mesmo.
As poucas luzes externas dispostas em archotes na única rua da Cidadela que era organizada, tremulavam pelo vento. O movimento perto do aqueduto ainda era intenso, várias mulheres e garotos abasteciam imensos barris e alguns homens esperavam para carregar para suas tendas.
Ainne seguiu para o acampamento que fora fixado no fim da pequena vila. Poucos andavam por ali e Ainne supôs que estavam enfadados sem ter nada o que fazer. Pois não podiam se divertir sem as peles que ela deveria ter trazido, então não tinha como irem ao centro da cidadela para fazer negócios. O que claro, Ainne sabia era a troca de materiais difíceis de encontrar por odres de vinho e licores.
Na tribo se bebia o fermentado de cascas cítricas, e apesar de fazer efeito rápido não tinha o sabor dessas bebidas mais raras.
Ainne nem se importava com as caras de cobrança que iria receber, e mesmo que não consumisse álcool sempre ficava com uma pele para si, e também não abria mão de guardar um tanto do coque que recolhia das minas.
Ela gostava de negociar, era uma das coisas que fazia valer a pena seu esforço, era como separar para si mesma um pagamento pelo seu trabalho, e claro que ela trocava por muitas coisas, especialmente guloseimas, alguns tecidos, e banhos perfumados que o clã dos Védicos oferecia, seu maior orgulho era seu cabelo longo e negro e ela cuidava com carinho, mesmo tendo vergonha de admitir que juntava os lucros de seu esforço nesse tipo de luxo que somente tinha quando estavam na Cidadela.
Ao pensar nisso ela estalou a boca tocando na trança endurecida de pó. Sempre que chegava a cidadela ela reservava os dois primeiros dias para si, mas agora que encontrou seu cantinho, decidiu, naquele momento, que ia fazer a colheita diariamente na parte da manhã e ia reservar à tarde para cuidar de si mesma. Pelo menos enquanto estivessem ali.
Ainne seguiu rumo à floresta pousou despreocupada no meio das árvores, estava segura pela escuridão. Preparou armadilhas por todo lado e enquanto esperava algum dos muitos animais que viviam em abundância na floresta, serem capturados, saiu à cata de frutas, nozes, castanhas e aproveitou para colher raízes e folhas que conhecia muito bem mesmo sem nunca ter sido ensinada sobre o poder curativo das plantas. Era algo intuitivo, como se fizesse parte dela assim como voar. Pensou no senhor Gulu e na sua promessa sobre os remédios, acabou sorrindo justificou sua demora com um biquinho "antes tarde do que nunca"...
Colheu vários brotos para engrossar a sopa que costumeiramente era servida a noite, colocou tudo no lenço que vivia amarrado em sua cintura mais por praticidade do que adorno, já que era usado como um tipo de colada na hora da colheita. Assim que o encheu, o desamarrou, fez uma trouxa e sentou para esperar as armadilhas surtirem efeito.
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A Era dos Anjos- Os filhos de Ayel- Degustação
FantasyQuando matar um semelhante era a única maneira para se viver mais um dia, eles vieram e ditaram a sentença. Então ímpios e Justos viraram todos na terra. A regra agora é outra. Os pecados são pesados em vida, o mundo foi dividido e todos terão que a...