Estavam chegando, a caravana pouco se importava se ela estava ficando para trás, seguiam assanhados para ver as mudanças. Ainne não queria adentrar a cidadela, bastava ter chegado. Mais uma vez depois de anos ela voltava ao lugar que a fascinava, alegrava e lhe trazia lembranças dolorosas. Não era desse amontoado de tendas coloridas que ela sentia saudades, tudo o que pensava era o topo de sua querida montanha.
Ainne não acompanhou a tribo, preferiu não entrar na vila, bebeu água do rio que corria pelo aqueduto. Somente ali se podia usar as águas do rio, porém nunca se podia atravessar e cortar o caminho para os portões já que nenhum ímpio tinha acesso as suas margens. Os Ribeiros de alguma forma mantinham sua vila fechada e protegida de olhos curiosos.
Ainne tinha um pensamento contraditório sobre esses moradores da beira do rio, não sabia se os admirava por serem alheios a tudo o que acontecia na terra dos ímpios ou se os admirava por serem auto sustentáveis sem precisar de mãos Nefilins. Também não tinha se decidido se os odiava por não participarem das privações das terras ímpias. No entanto apesar de seus sentimentos díspares sobre eles, ela admirava a maneira como permitiam que a água fosse usada por todos mantendo sempre a vertente caindo no aqueduto construído por todo o muro baixo que os separava dos ímpios, e separavam os ímpios dos rios.
Assim que viu o último membro de sua tribo sumir entre as tendas, ela andou para a direita quase a correr. Ao adentrar a floresta, caminhou rápido olhando furtivamente pra trás e quando viu que não estava sendo seguida subiu aos céus e seguiu para o obelisco em ruínas que ficava na floresta e esse diferentemente do cume da montanha, lhe dava uma visão plena de toda a cidadela e arredores onde as tribos montavam acampamento.
De cima, sentada na ponta ela podia observar tudo. A vila era um amontoado de tendas e pessoas de vários clãs oriundos de várias etnias de todo o mundo. Do alto ela conseguia distinguir alguns. As roupas bufantes e coloridas do clã dos Védicos fazia contraste com as túnicas sóbrias e turbantes de cores fortes dos clãs dos Salam... Ainne ainda reconhecia as cores sempre escuras dos beduínos, esses eram nômades que depois de mudar constantemente sempre tinham como destino final, depois de vários anos, essa vila perto da muralha. Traziam sempre muitas crianças na esperança de que a pesagem voltasse e os salvasse das privações.
Ainda via roupas menos chamativas dos clãs ocidentais, que se uniram em clanades variadas que se respeitavam e trocavam a sabedoria da vida nômade e os recursos produzidos de acordo com os poucos Nefilins de suas tribos.
Das margens dos rios onde residiam os Ribeiros ela nada conseguia ver, via as casas simples, o rio Valais vindo do Norte e Nabu vindo do Oeste que se encontravam com o gigante Solar que cortava o Leste. Os dois rios menores em volume desaguavam em cascata no grande Solar que serpenteava pelas terras do Leste sumindo magicamente através das muralhas das terras dos justos. Ainne só conseguia imaginar que lá dentro ele formava várias vertentes que brotavam do subsolo.
Mas Ainne não se interessava em saber mais que isso sobre os estranhos Ribeiros, afinal só via água e casas, nada de morador e apesar da beleza dos rios, era monótono ver casas vazias e as margens sem pessoas. Então seu foco sempre era observar a Cidadela e os povos dos clãs dominantes, com eles ela poderia negociar, eles ofereciam seus produtos e aceitavam em troca o que precisavam, pois era assim que o líder conseguia prover as necessidades da própria tribo e ela fazia seus negócios particulares com o que reservava a si mesma.
Os Salam geralmente forneciam produtos de algodão, lã bruta, frutas desidratadas e queijos. Já para se conseguir vasilhas de barro, cordas de cânhamo, alguns tipos de conservas e alguns luxos, os Védicos que deviam ser procurados. No entanto os beduínos forneciam flechas artesanais eficazes, armas de variados materiais, as mais vendidas eram as de aço e as mais caras e raras eram feitas de hastes de asas para se defender dos Apóstatas. Ainne, apesar de temer essa escória que raramente aparecia, não tinha ainda conseguido o suficiente para negociar uma arma dessas, sabia que só conseguiria tal feito quando se libertasse da colheita para a tribo e passasse a colher para si, mas não abandonaria o casal Shaddit que já estavam acamados. Então, como ainda precisava ficar mais um tempo na tribo, ela fabricava suas flechas usando osso de animal e pena de ganso, mas não eram tão boas quanto as que ela negociava com esse clã.
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A Era dos Anjos- Os filhos de Ayel- Degustação
FantasyQuando matar um semelhante era a única maneira para se viver mais um dia, eles vieram e ditaram a sentença. Então ímpios e Justos viraram todos na terra. A regra agora é outra. Os pecados são pesados em vida, o mundo foi dividido e todos terão que a...