Confusão

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Ainne acordou sentindo os lábios macios e estranhos encostado ao seu. Tinha esquecido completamente onde estava e como já estava acostumada com esse tipo de assédio na clanades, passou pela sua cabeça ser um dos homens da tribo. Ainda sonolenta sentiu a irritação com a falta de sossego, mais um que no meio da noite mexia com ela sem ao menos respeitá-la. E esse estava bem mais ousado então sem pensar duas vezes empurrou o corpo com força, mas não conseguiu mover nem um centímetro. Acabou mordendo o lábio que estava grudado ao seu e ouviu um gemido abafado seguido de uma risada.

— Calma. É só um beijo, porque se esquiva tanto? Evitou me olhar no salão e agora age como se estivesse sofrendo um estupro.

Ainne sentou abruptamente lembrando naquele momento onde estava e com quem. Encarou o rosto bonito de Adreel que a olhava com curiosidade e interesse. Então ela se lembrou do sono que a tomou do nada e da certeza que não era normal, foi ele que a fez dormir de algum modo. Ainne se via frágil e indefesa, ela o temia porque de alguma forma sentia que seu lado angelical não era forte o suficiente para resistir a força de Adreel. Esse medo a fez ficar confusa em como agir perto dele, o filho de Ayel era poderoso e não parecia preocupado nos meios que usava para ter o que queria, mas apesar do receio ela não podia demonstrar nada, tinha que agir como a mesma rebelde do inicio.

— Não deixa de ser algo do tipo. Poderia pelo menos me acordar ao invés de fazer isso enquanto durmo.

O olhar limpo dele em cima dela não se alterou. — Estava te acordando com um beijo. Isso não pode ser tão ruim, não é? E aqui no lado dos justos não permitimos estupros. É a lei e foi minha mãe que escreveu, por isso é uma lei celeste. Não se preocupe com sua integridade, ela nunca será abalada por mim ou meus anjos.

Ainne avaliou seu rosto, estava desconfiada que ele estivesse mentindo para conseguir com que ela baixasse a guarda, porém ele sustentou seu olhar sem manifestar reação. Parecia tão íntegro, tão verdadeiro que fez a certeza de Ainne esmorecer. Como ela sentia tanto receio dele? Era estranho se sentir assim. Por fim ela desistiu de tentar pescar que tipo de perigo ele lhe oferecia e soltou o ar com força o encarando cheia de coragem.

— O que quer de mim? Porque, dentre tantas, me fez vir? Tinha várias moças de várias etnias e idades como candidatas. Porque eu não pude escolher? E... Porque está me dedicando tanta atenção?

— Porque você atiçou meu interesse. Mais ainda quando vi o quanto é linda. E... Bom, não sei o real motivo, mas você tem algo que aguça minha cobiça, algo em meu ser avisou que eu deveria te escolher, mas não lhe quero mal...? — Ele a olhou confuso já que não foram apresentados devidamente e ela falou irritada.

— Ainne.

Ele sorriu e continuou. — Então, linda Ainne. Como eu disse, não quero lhe fazer nenhum mal, ao contrário, lhe dei uma benção, então porque age como se estivesse sendo mandada a morte?

Ainne não podia dizer a ele que sentia um perigo absurdo perto dele, que suas omoplatas pinicavam de tal maneira que a dor ficava quase insuportável. Se contasse ele saberia que ela era uma Nefilin. E a relíquia que Angelus havia lhe dado a estava protegendo disso, não poderia revelar seu trunfo. Talvez conseguisse descobrir um meio de sair dali voando e se soubessem que tinha asas poderiam arrancá-las para que ela não fugisse.

Adreel levantou uma sobrancelha cobrando uma resposta e Ainne suspirou decidindo falar a verdade, não sobre o instinto lhe gritando perigo, mas sobre o resto.

— Claro que estou com medo. Você não é nada parecido com sua mãe. — Ainne se ajeitou tentando ganhar tempo, não podia falar sem pensar e perder uma oportunidade única como aquela, tinha que ir direto ao ponto.

A Era dos Anjos- Os filhos de Ayel- DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora