Iniciantes

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Várias, uma quantia exagerada de moças desfilava pelo salão com piso tão brilhante que chegava a incomodar os olhos. Ainne não sabia de qual material era feito, mas achou que talvez fosse obra dos anjos que um dia viveram na terra. O trono, por mais estranho que pudesse lhe parecer, era uma simples peça de madeira polida. Talvez tivesse sido obra de Ayel, pensou Ainne olhando curiosa para o salão sem móveis, porém cheio de Nefilins.

Ficou entendido por todas as novatas que elas não faziam parte do seleto grupo de moças que serviam aos anjos. Não ainda. Precisariam passar alguns dias aos cuidados da consorte chefe.

Ainne gemeu desolada quando soube disso, não queria ficar ali nem mais um segundo, quiçá dias. Ainda mais quando ficou sabendo de uma coisa que a irritou imensamente. Não poderia ter sido incluída no grupo de escolhidas se a líder de sua tribo não tivesse aceitado algum tipo de acordo. Ainne não fazia ideia que quando passou pelo portão, as negociações em seu nome, mesmo que ela tivesse dito que não escolheria ninguém, já estava acontecendo com a líder de sua tribo.

Então ela precisaria ter uma séria conversa com Gamula quando conseguisse sair dali. Pois aquela cobra de olhos cobiçosos a tinha trocado por algumas malditas passagens só de ia ao lado Sul. E como na condição de líder não podia incluir a si mesma na negociação. Ainne desconfiava que ela tinha negociado as entradas com os clãs mais ricos. Com certeza pedindo horrores de provisões e alimentos.

Gamula queria tornar sua simples clanades em um clã dominante e para ter sucesso somente com mais membros e muito alimento, pois então ela conseguiria obter o interesse de Nefilins sem clã. Pois eles, apesar de aceitarem prover o sustento dos membros do clã, gostavam de regalias e uma delas era a troca de provisões por belas moças por uma noite e somente os clãs maiores tinham uma quantia significativa de membros para oferecer opções em boa quantia.

E agora ela queria acertar suas contas com Gamula. Aquela traidora que comeu de sua mão e não pensou duas vezes em traí-la.

— Beba do vinho que lhe foi ofertado, pelos vistos está querendo caçar confusão, não é garota? — Censurou a senhora líder das consortes que estava ao seu lado, olhando fixamente para a taça que Ainne estava segurando sem nenhum momento levar à boca.

Ainne a ignorou completamente, nunca que ia beber aquilo. Tinha certeza que não era apenas vinho, havia algo mais naquela bebida e o comportamento liberal de Eloá com as várias mãos bobas que brincavam em seu corpo, mostrava isso.

A mulher continuou a olhando de modo severo e esperando ela obedecer, o que claro, ela ignorou decidindo circular pelo salão para se afastar daqueles olhos de coruja. Não queria ser vigiada, só queria que o tempo passasse logo para poder no dia seguinte, fazer algo para irritar o lindo, porém perigoso Adreel que acompanhava cada passo dela pelo salão. Ele não escondia seu interesse, ao contrário, sorria lindamente quando ela o flagrava a observando.

Ainne se sentia estranha, por mais que soubesse que ele não era nada do que todos diziam, sentia ainda assim, uma atração absurda por aqueles olhos, não era algo normal, ela estava de algum modo, sendo seduzida e constatar isso com tanta certeza lhe causou arrepios.

— Beba comigo, novata.

Um Anjo de cabelo acobreado a olhou de modo divertido levantando o copo em sua direção. Ainne olhou para ele tentando mostrar todo o desprezo que sentia, mas ele não pareceu se importar com seu olhar e manteve o copo levantado em sua direção. Era um homem bonito, forte e tinha os olhos de um estranho tom arroxeado. E estranhamente, ele a olhava expectante como se a desafiasse a algo, o que era, ela não sabia.

Adreel pareceu se mexer desconfortável em seu trono, talvez esperando o desfecho, esperando o que ela ia fazer. Ainne podia até aceitar beber com aquele Nefilin, podia até mostrar ao guardião dos justos que se ia ter que se deitar com um deles, ela ia escolher quem quisesse, já que não teve escolha ao ser arrastada para esse lado, mas seria um erro, se desse qualquer margem para isso, outros que estavam ali e até agora a tinham deixado em paz poderiam também tentar algo e ela como se conhecia, iria jogar o vinho na cara deles, quem sabe jogaria o copo e depois ainda encontraria algo com ponta para furar um daqueles vários olhos de diferentes tons dourados que a encarava cheios de malícia.

— Obrigada, mas não bebo álcool.

O Nefilin assentiu com um sorriso, não pareceu ficar chateado com sua resposta, porém quem não gostou da resposta foi a velha, a chefe das novatas que apontou o dedo em sua direção como quem avisava que depois ela ia ouvir.

Ainne já estava vendo que se ficasse ali mais tempo, ia arrumar problemas com ela. Decidiu fingir que não tinha percebido e novamente circulou, tentando desesperadamente encontrar um lugar onde não precisasse, a cada virada de pescoço, encontrar o olhar da líder ou de Adreel em cima dela. Tinha evitado olhar para ele para ver sua reação com a resposta que tinha dado ao Nefilin, mas sentiu de alguma forma que ele ficou satisfeito.

Observou, tentando em vão se distrair, os vitrais que contavam uma história. Um anjo com sua lança lutando uma batalha. No outro esse anjo estava sentado em um trono. Era Ayel. Ainne queria ver todas as imensas janelas para ver como a história era retratada naquela arte, mas preferiu não arriscar, as janelas decoradas seguiam direto para a direção de Adreel, se continuasse acompanhando os vitrais, automaticamente ela ia parar muito perto do trono e isso realmente não era uma boa ideia.

Suspirou e fez o caminho contrário, já estava a se ver maluca com seus próprios instintos gritando para que virasse na direção do trono, era como se fosse um chamado, como se de alguma forma fosse ele a manipulando para que sentisse vontade de virar para ele.

Fechou a cara e aceitou o desafio do próprio corpo e com esforço ela evitou virar o pescoço. Voltou a tomar distância andando rápido e manteve os olhos no copo, tentando parecer distraída, mas já estava sentindo as omoplatas coçarem a lembrando que estava em perigo.

Um sono nada normal começou a dominá-la e mais uma vez ela soube que era o filho de Ayel, de algum modo ela sentia através das agulhadas em suas costas que isso era obra dele, ainda assim ela agradeceu por estar sonolenta, já que dormindo não veria o tempo passar e o dia seguinte chegaria mais rápido.

Procurou disfarçadamente um local onde pudesse se esconder, ou pelo menos ficar menos visível e encontrou um canto onde não tinha um monte de Nefilins, apenas algumas novatas assustadas que olhavam tudo com extrema curiosidade. Ainne ignorou as moças e deitou em um monte de almofadas o mais longe possível, e logo, como que por mágica, acabou adormecendo.

Oieee :) Hoje vamos ter vários caps, se preparem viu. A qualquer momento e sem tamanho padrão u.u Maratonaaa

A Era dos Anjos- Os filhos de Ayel- DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora