Ainne imaginou que seria Adreel, mas para sua surpresa foi outro Nefilin que ela sequer sabia o nome lhe deu uma chance de finalmente sair dali.
Tinha acordado cedo e para não perder tempo seguiu em direção ao refeitório de todas as consortes dos anjos. Encontrou um salão farto de mulheres e rapazes que conversavam animados e lindamente vestidos e assim como no dia anterior, a maioria deles lançou um olhar gelado em sua direção. Ela nem se importou, também não olhou na direção de Eloá que já estava enturmada com um grupinho de garotas.
Ainne comeu bastante, precisava ter energia caso conseguisse seu intuito de ser jogada em um campo onde lutaria por sua vida. Assim que terminou, levantou escorregando uma pequena faca para dentro na manga, a única que encontrou e teria que se virar com essa mesmo, saiu do refeitório sem mostrar sua pressa, mas quando se viu sozinha, correu e trocou de roupa, vestiu a antiga calça de couro tingido, a bota de couro e a camiseta de algodão. Enfiou a faca no cano da bota se sentindo até mais corajosa por pelo menos ter algo para se proteger e seguiu para a porta, determinada a dar um jeito de sair dali.
Não teve tempo sequer de sair da casa direito quando trombou com o anjo pouco mais alto que o normal e com um cabelo lindamente castanho quase acobreado. Os olhos também cor de bronze foram direto para sua roupa e ele fechou a cara a mandando voltar e vestir o que lhe fora dado.
Ainne se fingiu de surda e ignorando essa ordem, desviou dele e seguiu em direção ao refeitório. Não imaginava qual o itinerário do dia, mas as opções eram muitas, havia oficinas de pintura, artesanato e spá de massagem na casa de Alabastro, não podia demorar muito ali, a consorte chefe não demoraria a aparecer e ela não queria que a mulher perguntasse sobre ela, ia fazer tudo o que lhe fosse ordenado até que fossem mandados aos anjos.
Foi segura por aquele anjo poucos passos depois, respirou fundo para conter o nervosismo que começava a tomar conta e deu um tranco com o ombro para que ele a soltasse, mas foi presa por braços fortes demais para se livrar. O anjo manteve perto de seu peito e ameaçou que se não fizesse o que ele mandou as consequências seriam pesadas.
Ainne não ia desistir agora, se colocasse aquelas roupas cheia de rococó não teria coragem para tentar algo, pois duvidava que conseguisse vencer um campo, e a palavra vencer significava provas e com aqueles trajes ela não teria chance. Sem conseguir se livrar do aperto, levou a mão ao vão de suas pernas e agarrou a única parte que sabia que o faria perder as forças, assim que encheu a mão Ainne apertou. Com um ofego de surpresa ele a soltou e ela aproveitou para escapar. Tomada de fúria por dois dias de completa pressão mental, Ainne o atacou com um chute e ele apenas se esquivou com um movimento suave. Quando ela levantou a mão para lhe acertar ouviu o sussurro e parou com ela no ar. "Eu queria ajudá-la, mas foi você que me ajudou com essa reação".
Não teve tempo de perguntar quem ele era, foi arrastada por outros dois anjos que sequer fizeram algum julgamento. Sendo segura pelas axilas ela foi levada por eles que voavam sem nada dizer.
Lá de cima ela viu o campo logo abaixo de seus pés. Sentiu um medo terrível ao ver a neblina amarelada que encobria o campo. Não teve tempo de dizer nada e foi jogada. Tentou abrir as asas, mas não conseguiu fazê-lo a tempo de evitar o impacto.
Caiu em um monte de terra solta, ainda assim gemeu dolorida e gritou algumas pragas para os anjos lá em cima, a queda foi amaciada, mas não o suficiente para lhe proteger o corpo.
— Anjinha? — Ouviu o sussurro de Angelus e seu coração finalmente se alegrou.
— Ange?
Ele apareceu ao seu lado, segurou seus ombros e a virou para ele, analisou seu corpo a procura de ferimentos.
— Estou bem, não me machuquei com a queda, caí em algo fofo.
Angelus não parecia satisfeito. — Claro que caiu, eu que preparei isso, mas achei que cairia no meio do monte de terra, não na parte mais fina. Mas me diga, te surraram? Foram violentos? Sinto que não está bem.
Ainne negou. — Não levantaram a mão em minha direção, sequer a voz.
Angelus analisou de cima abaixo e apertou os olhos. — Mas você não está bem. O que houve?
— Adreel, ele... Eu não sei Ange, mas ele estava usando alguma coisa para me fazer sentir algum tipo de atração, eu não sei explicar, mas...
Angelus assentiu. — Imaginei que isso aconteceria.
Ainne esperou ele dizer mais alguma coisa, mas ele se calou. Então ela se lembrou do outro anjo.
— Só que acho que não é somente Adreel que decide sobre as sentenças. Ofendi um anjo sem saber o que ele era no séquito, deve ser alguém importante porque nem mesmo esperou o julgamento de Adreel e mandou dois anjos me jogarem aqui.
Angelus piscou parecendo confuso. — Não foi o filho de Ayel que te mandou aqui?
Ainne negou também achando estranho. — Não. Parecia que ele estava caçando um motivo para me tirar de lá. Ele até falou que eu o ajudei a me ajudar. Não sei, mas me pareceu uma coisa assim. Todavia não entendi porque minhas asas não abriram na queda.
— Na verdade anjinha, de tudo o que contou essa é a parte menos estranha para mim. Tem regras aqui das quais não poderemos fugir.
Ainne esperou um pouco receosa. O olhar dele estava preocupado quando continuou.
— Suas asas não abrem para voo e terão que ser banhadas no betume, sem isso não conseguirá ativar as provas e mesmo que chegue ao portão, se não cumprir as regras ele não se abrirá.
— E como funciona isso?
— Terá que abrir as asas e banhá-las ali, no poço negro. Não pode deixar nada para trás.
O coração Ainne disparou, não pelo betume inflamável lhe cobrindo as asas, mas por ter que liberá-las, isso queria dizer que Angelus também precisaria passar por aquele processo e ela finalmente veria como elas eram. Como se soubesse o que passava pela cabeça de Ainne, Ange a olhou desconfiado e falou um tanto irritado.
— Já fiz isso assim que cheguei. Faça também. É só abrir as asas e deixar que o betume banhe os lados. O cano escorre uma quantia generosa que é bombeada do poço. Não vai perder nem um minuto até que fiquem completamente enegrecidas.
Ainne não demonstrou sua decepção, mas estava chateada, queria ver as asas dele, mas até ali, na hora do resgate, ele fazia questão de esconder dela esse segredo.
Angelus esperou pacientemente de braços cruzados, olhava para as asas de Ainne com admiração e ela não soube interpretar isso, afinal era como admirar parte de seu corpo já que as asas faziam parte dela.
Logo depois de ter banhá-las completamente no betume, Ainne as recolheu e sentiu o aroma horrível daquela resina escura ainda lhe adentrar o nariz. Sentiu então medo do que iria enfrentar, mas acabou sorrindo.
— Obrigada por estar aqui.
Ele estendeu a mão lhe dando um olhar morno. — Eu disse que estaria. Se não tivesse aparecido hoje e conseguisse isso somente em uma semana ou daqui um mês, me encontraria aqui do mesmo jeito, anjinha. Você é tudo o que tenho agora, e não vou perdê-la.
Ainne sorriu com o coração batendo com força no peito. Por mais que soubesse que ele a esperaria. Ouvir isso dele fazia arder todo o seu corpo. Seu anjo negro não tinha ideia do quanto mexia com ela saber que o tinha somente para ela.
Angelus a encarou agora sério, estendeu a mão e ela segurou com força se deixando guiar para a neblina amarela.
Amanhã respondo todos vocês está bem? Hoje estou corrida rs, obrigada por estarem lendo e participando com seus comentários que amoo, votos e suas indicações a amigos. Só tenho a agradecer vocês <3
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A Era dos Anjos- Os filhos de Ayel- Degustação
FantasyQuando matar um semelhante era a única maneira para se viver mais um dia, eles vieram e ditaram a sentença. Então ímpios e Justos viraram todos na terra. A regra agora é outra. Os pecados são pesados em vida, o mundo foi dividido e todos terão que a...