u m • A b i g a i l

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CAPÍTULO UM

We ignore those with opinions of hate.
We're not like the rest of them.
Friends with insanity as of lately. – 5H.

O tempo está agradável, Genebra amanhecia com um lindo sol estampado no céu. Minha cama estava confortável demais, mas a responsabilidade do dia a dia gritava em minha cabeça. Devagar levanto-me e me espreguiço. A paisagem do lado de fora é maravilhosa, desde que eu me mudei para casa de minha tia Demetria em Genebra eu me apaixono cada vez mais por esse lugar.

Decido levantar de vez e me arrumar logo para ir ao estúdio, antes que Belinda pire com meu atraso pela terceira vez essa semana. Coloco minha calça jeans preta junto com minha regata branca e minhas famosas botas.

Assim que me mudei para Genebra eu entrei na faculdade de artes e hoje eu tenho um estúdio de artes com minha colega de faculdade, Belinda. Nós fazemos diversos tipos de trabalho, mas eu me concentro mais em meus quadros, eu me liberto neles.

- Está atrasada. – Ouço minha tia gritar do andar de baixo.

Sorrio ao imaginar a cara que ela deve estar fazendo agora. Demetria me recebeu tão bem em sua casa que eu nunca sequer pensei em voltar para minha casa em Portland, eu nem mesmo tinha o costume de ligar para meus pais para saber como andava as coisas por lá. Quem me mantinha atualizada era Marcel, meu irmão, em nossas breves conversas por mensagens.

- Jesse irá me levar hoje? – Pergunto entrando na cozinha e depositando um beijo na bochecha da minha tia. – Bom dia. – Me apresso a dizer.

Me sento na mesa e aproveito o farto café que ela preparou. Começo a comer minhas torradas e arregalo os olhos ao olhar para o relógio.

- Nossa! – Exclamo e engulo o suco o mais rápido que posso.

- A senhorita está atrasada de novo, Abby. – Minha tia larga o que está fazendo na pia e se vira em minha direção me olhando incrédula. – Jesse ligou e disse que estará aqui em cinco minutos, então tome logo esse café que eu também quero arrumar essa mesa.

Sinto um alivio ao ouvir que Jesse iria vir me buscar, eu estava muito atrasada e o estúdio ficava longe da minha casa. Jesse sempre me salvava nessas horas e me levava de carro, já que de transporte público eu demoraria bem mais.

Termino meu café e ajudo minha tia tirar a mesa, e nada de Jesse aparecer. Quando penso em ligar para meu amigo, ele rompe a porta da cozinha todo afobado.

- Está atrasado também? – Pergunto colocando as mãos na cintura com um sorriso cínico no rosto.

Jesse sempre enche a boca para falar da minha falta de pontualidade, mas acho que ele está caindo por terra em seus julgamentos.

- Nem me olhe com essa cara, eu me atrasei por sua culpa. – Fala tomando folego.

- Por minha causa? – Pergunto sem entender. – E por que estava correndo?

- Sim por sua causa, eu estava contando com sua ligação para acordar. – Jesse fala indo até a minha tia e beijando sua testa dando bom dia. – E corri porque a louca da vizinha soltou aquele mostro dela.

Jesse sempre esteve presente na minha vida desde que me mudei para Suíça, ele morava na casa de trás da minha tia e nos tornamos amigos inseparáveis, ele sempre esteve comigo em meus ataques de pânico e sempre respeitou meu espaço e isso fez com que nossa amizade durasse, já que eu afastava todos que me enchiam de perguntas sobre minha vida.

- Jura mesmo, Jesse? – Rio da cara dele. – Está fugindo do Bobby?

Bobby é o labrador preto da vizinha maluca, eu não sei se Jesse foge mais do cachorro ou da própria vizinha que vivia dando em cima do meu amigo. Jesse era bonito, seus cabelos loiros e seus olhos azuis sempre fizeram as meninas da faculdade caírem aos seus pés e acredite em mim, meu amigo soube aproveitar.

- Ele me odeia. – Ele se defende. – Vamos logo, Baby! – Sou arrastada até o carro e me despeço de longe da minha tia que ri da cena.

O percurso todo sou obrigada a ouvir Jesse falar sobre o novo empreendimento que a empresa do seu pai estava construindo e em como ele estava empolgado a estar à frente das obras. Jesse se formou em Engenharia Civil e amava o que fazia, seu pai tem uma construtora super renomada na Suíça e claro que o Senhor Jones se orgulhou muito do filho que decidiu seguir o caminho do pai.

Assim que ele estaciona o carro na frente do estúdio eu salto para fora do carro depositando um beijo rápido em seu rosto. Corro para dentro rezando para minha amiga estar de bom humor hoje, Belinda sabe ser muito exigente quando quer.

- Bom dia. – Falo na maior cara lavada assim que avisto ela sentada atrás da mesinha da recepção.

- Onde diabos você estava, Abigail? – É... o meu bom dia caloroso não adiantou muito.

- Talvez eu tenha perdido um pouco a hora. – Coloco minha bolsa na bancada e levo um olhar feio de Belinda e me apresso em guardar a bolsa no armário.

- Um pouco? – Ela exalta a voz. – Já são dez e meia, Abby. – Ela fala derrotada.

- Desculpe eu realmente não dormi bem a noite. – Assumo a contragosto, não gosto de falar sobre meus pesadelos.

Jesse e Belinda sabiam um pouco sobre o meu passado, eles não me pressionaram a dizer nada, mas eu confiava nesses dois loucos o bastante para confidenciar a eles meu passado sombrio. Minha tia era a única que sabia de tudo, linha por linha eu havia contado a ela, e ela me surpreendeu se mantendo ao meu lado a todo momento.

- Pesadelos de novo? – Pergunta preocupada.

Aceno que sim com a cabeça e vou direto para o fundo do estúdio querendo evitar a conversa que eu sabia que estava por vir. Belinda é muito persistente em suas ideias e isso as vezes me deixa irritada com a minha amiga.

- Eu já disse para você... – A interrompo.

- Eu sei, mas eu não me sinto à vontade o bastante para procurar um psicólogo ainda, está bem? – Lanço meu melhor sorriso para ela.

Ela me fita com seus enormes olhos verdes, que estampam preocupação. Belinda parece uma boneca com suas sardas, cabelo vermelho e olhos verdes, ela é linda mesmo que não aceite esse fato.

- Está bem, não está mais aqui quem falou. – Belinda fala vindo me abraçar. – Agora vamos ao trabalho porque eu aceitei outra remessa de piso.

Bufo incomodada.

Belinda havia inventado a ideia de desenhar em pisos cerâmicos encomendados, devo admitir que ganhávamos bem em cima disso, mas era uma chatice desenhar nos pisos.

- Nem reclame, pediram um desenho fácil dessa vez. – O pior de tudo é que tínhamos que fazer um por um, a mão.

Sem perder mais tempo, vou logo pensar em um desenho: "Futurista e amigável" como estava exigindo na ficha, e o tema não fazia o menor sentido para mim.

Começo então a me concentrar no que eu mais amo fazer, desenhar...

Depois da NevascaOnde histórias criam vida. Descubra agora