Ver Genebra sumindo das minhas vistas conforme o avião seguia seu destino fez um desespero tomar conta de mim. Genebra era a minha casa, onde eu construí a minha vida e voltar para Portland era como voltar para um pesadelo antigo, que me assombrava quando criança.
As despedidas foram a pior parte, Bel me deu todo apoio e me ajudou nas documentações para a minha pós, mas isso não me animava pois eu estaria longe deles todos. A tia Demi chorou tanto que eu quase desisti, quer dizer, eu quase desisti a todo minuto que eu passava em Genebra. Ela só me soltou quando eu prometi que eu voltaria, pois ali era minha casa, mal sabe ela que eu nem mesmo queria ir. Jesse foi o mais difícil de aceitar, mas depois de muita conversa e desentendimentos ele aceitou e me levou no aeroporto com os demais.
E agora aqui estou eu no avião com destino ao meu maior medo, meu passado. Antes de eu sair de Genebra eu havia falado com Josh que disse que me pegaria no aeroporto. Eu prometi que voltaria somente com uma condição, que eu não iria ficar na casa dos meus pais, eu me negava a ficar na casa daqueles que viraram a cara para mim quando eu mais precisei. Josh disse que iria ver onde eu poderia ficar e logo desligou o celular na minha cara.
Josh pegou magoa de mim, eu sei que meus irmãos não sabem a verdade por trás de toda a história, afinal eu nunca havia contado a eles. Eu fui expulsa de casa por minha mãe e meu pai como sempre ficou ao lado de Mayara que nunca se orgulhou sobre nada que me envolvia, então quando ela teve a oportunidade ela logo me despachou.
Mas a história que chegou aos ouvidos de meus irmãos não foi bem essa, Mayara havia dito que eu havia fugido pois não queria lidar com as consequências de meus atos, plantou na cabeça de meus irmãos que eu não me importava com eles e que eu os abandonei pois não ligava para eles.
Sei que Josh não acreditou em uma palavra dela, eu o conheço muito bem, ele não se deixaria levar por Mayara. Mas meu irmão ficou magoado por eu não ter contado a verdade a ele e simplesmente ter partido. Logo Cecilia havia absorvido todo veneno de Mayara e nunca mais falou comigo, eu não a culpo pois também não fui atrás dela. Marcel sempre foi um amor, doce e ingênuo e sempre esteve em contato comigo, carinhoso e amoroso.
- Senhorita? – Ouço alguém me chamar me tirando de meus pensamentos.
Vejo a aeromoça me olhando com um sorriso educado no rosto, seus olhos pareciam cansado e ela parecia um tanto incomodada por estar ali, acho que já estava a me chamar a muito tempo.
- Desculpe. – Falo prestando atenção nela.
- O cinto. – Ela avisa. – Por favor, trave os cintos já iremos pousar.
O que? Já?
A notícia fez meu coração acelerar, minha boca estava ficando seca e eu sentia que iria ter um ataque de pânico.
Agarrei o braço da poltrona com força até os nós dos meus dedos ficarem brancos. Comecei a pensar em Genebra e em minha tia tentando me acalmar, mas saber que eu já estava em Portland estava me deixando em pânico.
Apesar de eu tentar me acalmar dizendo que vai ficar tudo bem eu não sentia bem isso, eu sentia que eu estava andando em um enorme labirinto e que em cada caminho que eu decidir seguir eu vou encontrar um fantasma do meu passado, que estará pronto para me atacar e me ferir até que eu não aguente mais. E então eu vejo tudo acontecendo novamente, a depressão, os remédios que eu passei boa parte tomando e os longos tratamentos com psicólogos.
O tempo seco de Portland já faz minha garganta secar, fico no aeroporto esperando por meu irmão que já está atrasado a mais de vinte minutos. Olho o relógio mais uma vez entediada, pelo jeito meu irmão esqueceu de mim, aproveito o tempo para tentar aceitar a minha decisão de voltar para esse lugar. Ainda entediada decido ligar para minha tia, que não atende o celular todas as vezes que tento, então ligo para Bel.
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Depois da Nevasca
RomantikO passado nem sempre fica no passado, muitas das vezes ele nos persegue loucamente por toda nossa vida. Abigail sabia bem disso, ela tinha um passado, um passo doloroso mas que ela não queria esquecer, pois esquecer o passado seria esquecer de uma d...