d o i s • A b i g a i l

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Os meus fones gritavam a minha música do momento em meus ouvidos tornando o passeio de bicicleta ainda mais agradável. As paisagens que me acompanhavam faziam meu peito se encher de esperança, esperança passageira.

Ouço o toque do meu celular interromper minha música e uma leve irritação me atinge. Saco, a música estava em sua melhor parte.

"Oi tia." Atendo já sabendo que era ela só pelo toque que eu lhe atribuí, para diferencia-la dos demais. Jesse, Belinda e Tia Demi tinham seus próprios toques em meu telefone.

"Querida, está longe de casa?". Tia Demi pergunta e sinto a inquietação em sua voz. "Hm, uns dez minutos de casa, porque?". Pergunto com pressa. "Volte para casa por favor, hm... sua mãe ligou." Tia Demi diz e desliga rápido, querendo evitar a enxurrada de pergunta que eu iria fazer.

Droga, minha mãe ligar a ponta de fazer a Tia Demi me avisar só podia ser B.O. Ligo para Jesse desmarcando nosso passeio no parque e volto o mais rápido que posso para casa. A cada pedalada eu sinto meu coração pulsando fortemente dentro do meu peito. O que será que a Dona Mayara queria comigo agora. Bufo.

Chego em casa e vejo Tia Demetria andando de um lado para o outro. A muito tempo e não a via tão nervosa.

- O que houve? – Pergunto preocupada indo até ela.

- Sua mãe ligou surtando e falou um monte de coisa para mim. – Ela começa a falar rápido.

- Isso não é novidade, titia. Você sabe como Mayara é louca. – Falo pegando em seu braço fazendo ela parar de andar.

- Ela exigiu que você voltasse para Portland. – Ela fala e eu fico estática.

- Como assim ela exigiu? Desde quando ela manda em mim? – Pergunto incrédula e irritada.

- Querida a situação está delicada. – Tia Demi me olha preocupada.

- Eu nunca irei voltar para lá, tia não me peça isso. – Olho para minha tia que me fita compassível. – Por favor! – Suplico.

- Abby, você sabe que uma hora terá de lidar com seu passado, não sabe? – Ela me puxa para o sofá e se senta ao meu lado. – Eu te acolhi aqui como uma filha, ajudei você a passar por seus traumas, mas você precisa deixar isso no passado... – Ela suspira. – Você sabe que minha casa estará sempre de portas abertas para você, não sabe? Acho que essa ida a Portland será boa para você, você precisa ir ver seus irmãos, Abby. Já fazem cinco anos que você fugiu de lá, é muito tempo.

- Eu já entendi, tia. – Falo irritada com o rumo dessa conversa. – Mas eu não volto para Portland nunca mais na minha vida. – Afirmo decidida.

- Abby me escuta! – Minha tia elava a voz irritada. – Você precisa deixar seus traumas irem embora, ir a Portland vai te ajudar com isso. Você precisa se perdoar, querida. Alba não está mais aqui e você sabe que ela te amava muito e odiaria te ver longe de seus irmãos. – Minha tia toca um assunto que eu considero proibido em minha mente.

Antes mesmo que eu possa protestar sinto as mãos de minha tia limpando as lágrimas que escorriam pelo meu rosto. Eu havia contado tudo sobre Alba para minha tia, mas eu odiava que falassem da minha amiga para mim, eu simplesmente não aceitava o fato das pessoas quererem falar por ela.

- Tia eu não quero lidar com o passado, meus pais praticamente me expulsaram de casa quando todos apontavam para mim. – A dor que sinto faz minha respiração ficar pesada.

- Querida, isso vai ser bom para você. – Ela fala beijando minha testa.

Subo para o meu quarto em silêncio, eu não estava conseguindo digerir aquela conversa. Só de pensar em voar de volta a Portland meu estomago revirava. Só de lembrar como as pessoas daquele lugar me tratou, como meus próprios pais me trataram faz eu sentir raiva de minha tia cogitar fazer eu voltar para lá.

Depois da NevascaOnde histórias criam vida. Descubra agora