Narrado por Jota...
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Como que começo esse causo? Talvez apresentando Pedro e falando um pouco a seu respeito, já que ele é um dos personagens principais...
Pedro filho do meio do casal João e Sandra, nasceu e foi criado no meio oeste catarinense.
Na infância, tendo um irmão mais velho, dificilmente lhe compravam calçados e roupas novas, e tendo uma irmã mais nova, dificilmente lhe davam atenção e ainda acabava sendo incumbido com a responsabilidade de cuidar da pequena Márcia que tinha apenas cinco anos.
Bruno era o mais velho com dezesseis anos, estudava na Escola Agrotécnica, pensava grande e se o pai permanecesse estabilizado financeiramente, realizaria o sonho de ser veterinário.
Diferente de Bruno, Pedro foi o garoto revoltado, incompreendido e o mais marcado por um acontecimento: a morte prematura de Márcia. Por um descuido dele quando tinha nove anos, a irmã morreu afogada no lago que ficava dentro da propriedade e foi severamente acusado de ser o responsável por aquela tragédia na família.
Ainda muito jovem, Pedro pensou em fugir de casa e aos treze anos tentou dar fim na própria vida.
Seu pai por ser colono rico, tinha maquinário de grande porte em um galpão e foi lá que o jovem encontrou onde amarrar a corda na qual corajosamente seguiria com o propósito de encerrar sua vida de culpa. Mas fora pego pelo seu Werner, um dos empregados do pai, que com um grito o desencorajou, deu-lhe uns tapas na cabeça e o fez prometer que não pensaria mais naquilo.
— Mas olha... piá! Se eu te pego fazendo arte outra vez, te ergo no laço. Nem que o João me mande embora. Onde já se viu? Não tem dó da tua mãe? Heim? Pelo amor de Deus, a "muié" perdeu uma filha. Tu ficou bobo da cabeça?
Em vez de chorar, o jovem contou o que aconteceu e o que seus pais lhe diziam na hora da raiva:
— Todo dia a mãe diz que a culpa é minha. Ela chora, chora e me olha com raiva. O pai também...
— Eles sentem falta dela, piá. Não têm raiva de ti não. Daqui uns anos isso passa...
Foi uma bronca em tom paternal de um homem rude e simplório que criara bem suas cinco filhas e colocava Amanda, a mais nova, no mais alto pedestal. Dela aceitava somente grandes expetativas para seu futuro. E eis que ela engravidou muito jovem. O velho mandou que sumisse de casa, mas ela acabou sendo acolhida e amparada por parentes em Joinville.
E... passaram muito anos que transformaram ferimentos em cicatrizes. Exceto no coração do jovem que por alguns desafetos, falta de atenção em casa e sua própria má vontade, reprovou no segundo ano do ensino médio. Tinha na época somente dezesseis e a mãe lhe jogava na cara o quanto Bruno era inteligente, esforçado e se orgulhava deste estar cursando medicina veterinária, enquanto Pedro era um rapaz cheio de preguiça e desânimo.
— Até a Amanda Werner foi morar em Joinville pra estudar. Seu Werner que é empregado, tem uma filha da tua idade que vai pra faculdade no ano que vem e tu, vai fazer o segundo ano tudo outra vez.
Pedro fora criado num período onde responder pai e mãe era uma afronta, então se calou e a deixou falando sozinha. Mas a noite teve que explicar o porquê da reprovação a um homem severo como seu João.
— É só pra estudar e tu vai e "roda"! Isso é uma vergonha. Olha onde Bruno tá hoje em dia. Daqui a pouco eu e a tua mãe, a gente morre e tu vai ficar fazendo o que da vida? Porque o Bruno vai ser veterinário e tu? Vai torrar a tua parte e trabalhar de peão? Porque é isso que acontece com quem não estuda. Eu tô pagando um colégio particular, Pedro. Tenta enfiar na tua cabeça que eu mal sei escrever meu nome e fazer umas contas, o pai não quer te ver sofrendo e passando o que eu já passei, guri.
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Te carreguei no colo...
RomanceFinalizado! Romance ambientado no Meio Oeste Catarinense. Afeição pode se transformar em afinidade. A afinidade pode se tornar uma paixão. Romance adulto. Contém descrição de cenas de sexo entre homens. LGBT. Se você estiver lendo esta história em...