Entretanto, enquanto Amélia ainda estava a aceitar a má notícia, recebeu novas visitas e desta vez muito especiais. A enfermeira bateu à porta do quarto onde Amélia estava. Ela, muito triste disse-lhe:
- Por favor não entre preciso de estar sozinha.
- Mas tem visitas... E olhe que são pessoas muito especiais! - Disse-lhe a enfermeira tentando convencê-la.
- Quem são esses visitantes muito especiais?
- São seus pais menina.
- Os meus pais?
- Sim, pode recebê-los agora Amélia?
- Posso, mande-os entrar.
A enfermeira foi chamar os pais de Amélia tal como lhe tinha pedido. Os seus pais, ao entrarem no quarto, ficaram emocionados por ver a sua filha naquele estado. Diana foi a primeira a reagir:
- Ai filha o que é que te aconteceu?
Amélia olhou para a enfermeira que estava a pedir para não contar pois ela como tinha perdido a memória, ninguém poderia saber que ela lhe tinha dito tudo o que se passara. Amélia olhou novamente para Diana e disse-lhe fazendo-se de desentendida:
- Não sei o que aconteceu eu não me lembro...
- O quê? Como é que não te lembras? Enfermeira, o que é que a minha filha tem?!
- Infelizmente a sua filha perdeu a memória e não se lembra de nada nem ninguém.
- Espere eu não estou a acreditar no que estou a ouvir, a Amélia perdeu a memória?
- Sim, peço-lhe imensa desculpa mas é verdade.
- E por acaso já fizeram alguma coisa? Claro que não porque vocês são uns incompetentes! - Disse Diana muito irritada.
- Tem calma querida, de certeza que iram fazer alguma coisa para tratar dela. - Disse Gonçalo tentando acalmar a esposa.
- O seu marido tem razão, nós vamos fazer todos os possíveis para que a sua filha recupere a memória.
- Como?
- Estamos a pensar em fazer uma operação mas pode ter elevados riscos como graves sequelas.
- Mas qual é a probabilidade de isso acontecer?
- A percentagem da sua filha se salvar é pouca mas ainda à esperança.
- A senhora tem que me garantir que a Amélia vai ficar bem! - Disse a mãe de Amélia desesperada.
- Desculpe mas como já referi, eu não lhe posso dar muitas certezas neste momento mas a equipa que vai tratar dela é muito boa e tenho a certeza de que vão fazer um bom trabalho. Agora se me dá licença, vou deixá-los a sós com a menina.
A enfermeira, mal sai quarto, os pais de Amélia vão para junto dela matando as saudades. Amélia um pouco confusa, pergunta-lhes:
- Porque é que me fizeram isto?
- Oh filha, na altura pensámos que era o melhor para ti, não estavas bem... - Disse o pai de Amélia.
- Desde quando é que é melhor pôr a vossa filha numa clínica psiquiátrica?! Eu posso não me lembrar do que aconteceu mas, para eu estar neste estado é porque não vivi aqui bons momentos.
- Perdoa-nos filha, se nós soubesse-mos que isto te iria acontecer, nunca te tínhamos posto aqui garanto-te. - Disse Diana agarrando a mão de Amélia.
- Eu não sei se vos hei de perdoar. Eu devo ter sofrido muito!
- Se calhar é melhor deixá-la durante um bocado, ela precisa de tempo. - Disse Gonçalo no ouvido de Diana.
- Estás parvo? Eu não vou abandonar a minha filha ao lado de gente maluca.
- Mãe o pai tem razão, é melhor saírem. - Disse Amélia ouvindo a conversa dos pais.
- De certeza Amélia? Precisas de ajuda filha!
- Não preciso da vossa ajuda, não preciso de vocês e não preciso de ninguém! Agora saiam.
Os pais de Amélia, chocados com a decisão, saíram do quarto bastante devagar olhando várias vezes para trás. Diana, antes de passar do outro lado da porta, lembrou-se do que tinha de oferecer a Amélia. A mãe tira então da sua mala um objecto, que parecia ser um livro embrulhado num pano de seda. Ela volta para trás, dá o embrulho a Amélia e diz-lhe:
- Sei que me zanguei contigo durante muito tempo por causa deste presente que te dou agora, e sei que é muito especial para ti. Posso não gostar de te ver a ir para a Universidade mas, quando olho para ti, vejo que ficas tão contente! E se isso te faz feliz, então eu fico feliz por ti Amélia, por fazeres algo que gostas. Espero que mudes de ideias à cerca de mim... - Diana, ao acabar de dizer isto, escorre-lhe uma pequena lágrima no rosto e sai do quarto sem dizer mais nada.
Amélia não sabia o que haveria de dizer, por isso, acabou por não dizer nada. Antes de abrir o misterioso embrulho, ficou a pensar:
- Universidade?
Amélia examinou o embrulho e abri-o com muito cuidado. O seu coração estava a bater cada vez mais depressa... Ao acabar de desembrulhar, viu que era um diário. Mas este diário era diferente de todos os outros, porque era dela, só dela. Amélia abre o diário e, atrás da capa, estava escrito:
De: Amélia de Carvalho
Ela lê as primeiras páginas e começa a lembrar-se de alguns assuntos. Uns mais felizes, outros mais íntimos... Também se podiam encontrar alguns segredos e sentimentos que Amélia expressara no seu diário com algumas pequenas ilustrações. Metade das folhas estavam em branco, por isso Amélia chegara à conclusão que tivesse recebido à pouco tempo. Enquanto lia algumas das coisas que escrevera, pensara:
- Como eu escrevia tanto!
Ao acabar de ver o seu querido diário, achou muito estranho o que encontrara no fim; uma foto de um homem que se chamava Henrique? Por mais que ela tentasse descobrir quem era, não conseguia lembrar-se, deixando-a curiosa. Mas havia outra questão que a incomodava:
- Mas porque é que ela tinha aquela foto no seu diário? Seria alguém assim tão importante na sua vida?
Amélia guardou o diário debaixo da almofada para que ninguém o encontrasse por acaso, ficando a pensar nisto durante o resto do dia.
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A Minha Motivação |livro 1|
Ficción histórica| A Minha Motivação livro 1 | Amélia de Carvalho, a primeira mulher a frequentar a Universidade de Coimbra (1871-1966). Amélia é uma jovem de 23 anos de finais do século XIX, que vive à frente do seu tempo. Ela quer muito ter uma vida que não é típi...