Durante a viagem, Amélia recordou todos os momentos que se lembrava que passara na Universidade. Passou tudo muito depressa e se pudesse voltar atrás não teria alterado nenhum dia da sua vida. Ao mesmo tempo parecia um sonho transformado em pesadelo mas, depois acabava sempre num final feliz, tal como os contos de fadas! Esta era a sua realidade que lhe contaram e não conhecia outra. Talvez agora preste mais atenção cada segundo que passa, aproveitar cada momento e este era o dia ideal para começar com essa missão.
Amélia estava tão ansiosa por chegar à Universidade que já se sentia uma criança! O tempo parecia que passava mais devagar e não parava de perguntar a seus pais:
- Já chegámos? Ainda falta muito?
Hoje seria um resumo de todo o seu percurso, em que o passado estava muito bem presente. Apesar de estar ansiosa também tinha medo de terminar a Universidade, pois não estava pronta para o futuro ainda muito incerto. Como seria agora a sua vida? Não sabe para onde vai ou o que vai fazer e os seus planos não parecem agradar sua mãe e seu pai. Por um lado compreendia as suas razões e preocupações mas, não entendia porque não a deixavam viver. O mundo lá fora sempre foi muito assustador para seus pais que receavam sempre o pior mas, Amélia não concordava e dizia que o mundo não é falso, só está é mal frequentado... E muitas vezes parecia que ia acabar mas, quando acabava de acordar, via que estava tudo bem. O maior erro que seus pais estão a cometer é não sentir as melhores e as mais lindas coisas do mundo com o coração, tem sempre de fazer questão de as tocar, o que infelizmente é impossível.
De repente a carroça pára com força. Amélia, ao dar um pequeno salto, olha pela janela e vê à sua frente a Universidade e diz muito contente:
- Chegámos finalmente!
Logo depois o cocheiro abriu a porta e ajudou-os a sair. Amélia foi a primeira e sentia-se uma verdadeira princesa ao dar a mão ao cocheiro. Depois saíram seus pais com uma postura muito altiva é séria. Nunca os tinha visto assim mas também não se ia importar muito com isso. Hoje era um dia de festa e ia tentar ignorar todos os erros à sua volta.
Ao sair da carroça, Amélia vira todos os seus colegas, professores e amigos da Universidade. Foi muito bom ver os sorrisos das pessoas, mesmo daquelas que não gostava tanto. Ela sentia uma união muito engraçada e só é pena por não ter existido essa união durante estes longos anos. Amélia sentia-se novamente na berlinda mas, desta vez era diferente, nunca tinha-se sentido tão feliz como naquele minuto!
Depois de Amélia chegar e cumprimentar toda agente, seguiram para o jardim da Universidade que era utilizado normalmente para ocasiões como esta. No centro do jardim estavam muitas cadeiras onde se iam sentar os finalistas à frente e os seus familiares atrás. Ao fim de um tempo, todos estão finalmente sentados e, o diretor da Universidade, começa a fazer um longo discurso. Amélia já nem ouvia o que o diretor estava a dizer, a sua voz transformava-se numa espécie de som de fundo. Ela olhava para as pessoas e via que estavam a ter a mesma reação. Amélia olhava para o relógio vezes sem conta, para o diretor, para as pessoas e já lhe estava a dar uma grande dor de cabeça. Passado um tempo infinito, o diretor cala-se e as pessoas, que já estavam meio a dormir, aplaudem olhando uns para os outros pensando:
- Finalmente terminou!
Depois do discurso do diretor, chegou a vez dos professores que falaram durante pouco tempo, sendo muito claros e resumindo estes anos em uma só palavra que fora repetida tantas vezes: "Conquista".
Não poderia haver palavra melhor do que esta e sem dúvida que este dia foi uma grande conquista para Amélia tal como para todos os outros Universitários.Depois de todos os discursos, era o momento que todos esperavam, ouvir os seus nomes e receber os diplomas. Amélia era uma das primeiras e estava a tremer, não estava preparada para receber este belo diploma que é a grande conquista da sua vida. A Universidade foi uma aventura que irá sempre recordar e isto servirá de uma lição para refletir.
Cada nome que diziam, estava cada vez mais perto de chegar à vez de Amélia. Quando disseram o seu nome, o seu coração parecia que ia explodir naquele momento.
- E agora a nossa primeira aluna, Amélia de Carvalho.
As pessoas aplaudiram e olharam para ela e, antes de se levantar, olha para o lado e vê Vasco que lhe piscou o olho e fez um grande sorriso. Amélia sorriu e levantou-se passando pelo meio de tantas pessoas que a acompanharam nesta longa mas rápida viagem. Ao chegar lá, o diretor entregou-lhe o diploma. Amélia sentia que tinha o poder nas suas mãos e que esta era a prova de que valia a pena lutar pelos nossos sonhos, apesar de parecer duro e impossível, no final acabamos sempre por receber algo pelo nosso esforço.
Depois dela foram tantos outros que estavam no mesmo caminho, recebendo o diploma de maneiras diferentes; uns choravam, outros riam, batiam palmas, faziam dedicações aos seus queridos... Enfim, era um dia de grande festa e isso ninguém poderia negar, tudo estava no lugar certo e não poderia acabar de melhor maneira. Para Amélia, o espírito de Henrique foi finalmente banido, ela conseguira terminar a Universidade, teve as suas primeiras paixões... Espera, paixões?! Não sabia até hoje se teriam sido paixões ou se ainda não tinha acabado de resolver as coisas entre Vasco. Agora só queria divertir-se e não pensar muito nisso porque tudo acaba por se resolver, umas vezes mais rápido do que outras. A sua vida mudou muito desde que entrou para a Universidade e conheceu pessoas que lhe marcaram. Afinal o mundo não era assim tão perigoso como seus pais muitas vezes lhe diziam e, em pequena, passara tantas horas a olhar para a janela a pensar de como seria lá fora para nada! Só temos de aprender a explorar a natureza que nos rodeia e escolher sempre os melhores caminhos.
Apesar de tudo o que aconteceu, Amélia continua a ser a mesma.
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A Minha Motivação |livro 1|
Historical Fiction| A Minha Motivação livro 1 | Amélia de Carvalho, a primeira mulher a frequentar a Universidade de Coimbra (1871-1966). Amélia é uma jovem de 23 anos de finais do século XIX, que vive à frente do seu tempo. Ela quer muito ter uma vida que não é típi...