Era de dia, o sol reflectia sobre o quarto de Amélia o que faz com que ela acorde da mesma maneira todos os dias. Os pássaros cantam e as ruas enchem-se de movimento e ruído e mais uma vez, a natureza cumpre a sua rotina. Amélia acorda desta vez tarde, ela estaria muito cansada ou então não queria passar por mais um dia mau como tem sido desde então. Bastava não fazer nada para algo de novo acontecer, por isso, preferia acordar mais tarde para não se cruzar com a sua mãe. Ela estava tão aborrecida com a sua mãe, que já tinha alguma dificuldade em acreditar no que é que ela dizia depois de tantas mentiras. Amélia ficava cada vez mais convencida de que não pudemos confiar em ninguém, mesmo que esse alguém fosse muito próximo de nós, acaba sempre por nos desiludir e Amélia odiava isso.
Ao fazer um esforço para se levantar, Amélia foi à janela ver as vistas de sempre da sua cidade. Ao mesmo tempo pensava:
- Mais um dia! - Dizia ela suspirando.
Depois sentou-se à frente do tocador onde costumava pentear-se, maquilhar-se, perfumar-se... Em fim, onde ela cuidava da sua beleza. Enquanto se penteava, bateram à porta. Amélia levantou-se, encostou o ouvido à porta e perguntou:
- Quem é?
- Ah sou eu menina, abra a porta.
Amélia abriu a porta e viu Alice com os braços cruzados com uma cara zangada. Amélia estranhando o comportamento, perguntou-lhe:
- Está tudo bem Alice? Já a vi em melhores dias...
- A menina quer-me explicar que horas são estas para acordar?
- Desculpa Alice mas é que eu quero evitar passar pela minha mãe. É que, depois daquela situação toda, não tenho coragem de olhar para ela.
- Assim é que as coisas não se vão resolver menina, devia conversar com ela.
- Acho que temos de dar algum tempo para nós.
- Para si quer você dizer. Os seus pais estão à sua espera lá em baixo para tomarem o pequeno-almoço. Devia ir se não quer arranjar mais chatices... - Disse Alice descendo as escadas.
Amélia pensou que talvez estivesse a exagerar e que Alice tivesse razão. Ela desceu também as escadas e foi ter com seus pais à sala de refeições. Ao entrar, disse com alguma disposição:
- Bom dia família.
- Bom dia Amélia, queres-me explicar porque é que decidis-te acordar a estas horas? - Perguntou Diana chateada.
- A mãe não tem nada haver com o meu horário. Eu levanto-me às horas que bem me apetecer! - Disse Amélia bocejando.
- Pronto já percebi, agora vais fazer uma manifestação por causa daquele assunto, não é? Às vezes consegues ser muito teimosa.
- Já não sou propriamente pequena, tenho o direito de ter a minha liberdade.
- Pode haver liberdade mas também tem de haver regras! Se é para te levantares cedo tens de cumprir isso minha menina. - Disse Diana levantando-se da cadeira e batendo na mesa.
- O que é que faria se estivesse no meu lugar se soubesse que a sua mãe tivesse-lhe mentido à cerca de ter um irmão?
Diana não responde e volta a sentar-se. Depois desta discussão surge uma troca de olhares entre mãe e filha. Amélia, olha para seu pai e pergunta-lhe:
- E o pai não diz nada? Que eu saiba também esteve envolvido nisto.
- Não compliques mais um assunto que já é complicado. - Disse Gonçalo.
Amélia, depois de acabar de comer, levanta-se e diz para seus pais:
- Obrigada por este pequeno-almoço inesquecível. Se me dão licença tenho coisas mais importantes para fazer.
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A Minha Motivação |livro 1|
Historische Romane| A Minha Motivação livro 1 | Amélia de Carvalho, a primeira mulher a frequentar a Universidade de Coimbra (1871-1966). Amélia é uma jovem de 23 anos de finais do século XIX, que vive à frente do seu tempo. Ela quer muito ter uma vida que não é típi...