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No dia seguinte, Amélia acorda muito cansada e não conseguindo levantar-se com muita facilidade. Ela olha para a janela e vê as árvores do jardim cheias de cor das flores que já nasciam nestas alturas da primavera. Tudo estava calmo, uma manhã normal com os pássaros a cantar e o céu a rasgar as nuvens e o sol a brilhar cada vez com mais força. Esta paisagem animava Amélia que acordava normalmente muito sonolenta... Em Lisboa não teria uma paisagem destas e não haveria de acordar com o som do silêncio mas com o ruído da cidade.

O dia de ontem tinha sido de muita animação e desgastante para ela. O que arruinou a festa foi o facto da sua tia ter começado com aquela conversa que já lhe enchia os ouvidos! A festa começou muito bem mas acabou de uma maneira bizarra.

Amélia olha para o relógio e vê que são oito horas em ponto. Certamente seus pais já estariam acordados e a tomar o pequeno-almoço na sala de jantar, e chateados por não estar lá Amélia. Apesar disso, Amélia estava desiludida com seus pais por não a terem defendido com as acusações da sua tia Mafalda. Ficou magoada mas também por mais que a defendessem não iria dar a lado nenhum, porque a teimosia da sua tia era maior do que a teimosia das feirantes da feira dos sábados!

Amélia fecha as cortinas e, ao olhar de repente para a secretária, vê um envelope com um laço vermelho. De quem seria? Ela pega no envelope e lá estava escrito:

De: Sra e Sr Miranda de Carvalho
Para: Amélia Miranda de Carvalho

Amélia ficou assustada ao ver que era uma carta de seus pais, pois tinha receio que tivesse acontecido algo de mal. Amélia abriu a carta com muito cuidado para não a rasgar por completo. Ao abrir a carta, Amélia vê uma folha muito bem dobradinha. Ela achou engraçado o cuidado que seus pais tiveram com a apresentação e o pormenor do laço... Quando abriu o papel, quase pensou que estava a sonhar e que isto era impossível de acontecer tão depressa.

Coimbra, 16 de Março 1886

Querida Amélia:

Decidimos com alguma dificuldade e desgosto, deixarmos-te partir para Lisboa. Eu e o teu pai pensámos muito acerca deste teu desejo e chegámos à conclusão que era o melhor para ti e, apesar dessa ideia não nos agradar, deixamos-te esta oportunidade de concretizares este sonho. O que te faz feliz, fará um grande sorriso para nós teus pais. E também, com muita pena minha, não saberei se nós poderemos despedir-te de ti... Talvez será melhor assim, pois não saberei se conseguia ver-te partir. O bilhete está no fundo do envelope e deverás partir ao final do dia. Vamos ter muitas saudades e serás bem vinda a esta que será sempre a tua querida casa. Visita a tua família a Coimbra sempre que quiseres!

Uma carta escrita pelos teus queridos:

Sra e Sr Miranda de Carvalho

Ao ler isto, Amélia ficou com muitos sentimentos ao mesmo tempo, sentimentos de tristeza, de felicidade e de saudade. Saudades essas da sua casa, de Coimbra e do mais importante da sua família. Deixar Coimbra e a vida que lá tem era muito difícil e iria ficar com um nó no peito para o resto da vida, mas ao menos, teria uma nova cidade à sua espera e pronta para recebe-la. Era tudo muito em cima da hora receber esta notícia nas próprias mãos e ter de partir ainda hoje. Era hoje o dia de partir, era hoje o dia de deixar a sua família e os seus amigos, era hoje o dia de deixar tudo para trás, era hoje o dia de deixar Coimbra de vez.

Amélia coloca a carta um pouco molhada com as lágrimas de seus pais que esborratavam as letras que sua mãe escreveu e ao ver bem no fundo do envelope o bilhete, retira-o e colocá-lo na secretária.

Amélia suspira e senta-se à frente da janela a olhar pela última vez esta linda paisagem que dentro de poucas horas teria de deixar. Batem à porta. Amélia levanta-se e abri-a, vendo Alice muito triste do outro lado. A empregada entra, suspira e diz para Amélia:

- A menina já recebeu a carta dos seus pais não foi?

- Sim já a recebi. Mas como é que sabia?

- Fui eu que convenci os seus pais a deixarem a menina ir para Lisboa...

- A sério? Eu nem sei como lhe agradecer Alice.

- Não precisa de me agradecer menina, só acho é que não estou pronta para a ver partir. - Diz Alice começando a chorar.

- Calma Alice, calma está tudo bem. - Diz Amélia tentando acalmar a empregada.

- Eu cuidei da menina desde que nasceu e agora vai-se embora...

- Alice, eu não podia ficar aqui para sempre, não é verdade? Já tenho vinte e três anos e está na hora de refazer a minha vida sozinha.

- Só espero que volte depressa.

- Um dia ei de voltar, prometo. Também não é fácil para mim não pense... Mas agora não a quero ver chorar. - Diz Amélia limpando as lágrimas à pobre Alice.

Depois desta conversa muito emocional, Amélia vai fazer as malas para se preparar para a longa viagem que vai ter de percorrer. A empregada também a ajuda a fazer as malas, tentando não se esquecer de nada. Nas malas estavam todas as suas roupas, jóias, sapatos, chapéus e outros objetos importantes que haveria de precisar mais tarde. Quando já parecia estar tudo pronto, Amélia lembra-se do seu diário. O diário era algo que nunca poderia esquecer de levar consigo e ia ser a sua melhor companhia nesta viagem. Amélia procura-o em todo o lado mas não o encontra, começando a entrar em pânico. Alice tira um livro do chão cheio de pó, limpando-o. Quando a empregada se apercebe do que se trata, pergunta a Amélia:

- Oh menina, este não é o seu diário?

- Boa encontraste o meu diário! - Disse ela aliviada por não ter perdido o diário.

Amélia pega no diário e colocá-lo no bolso do seu casaco. Ela leva as malas tal como Alice que a ajuda a levá-las até lá abaixo.

Ao chegar à porta de casa, Amélia dá um abraço a Alice e, ao abrir a porta, vê à sua frente o cão que tinha encontrado à pouco tempo no jardim. Amélia pega nele e diz:

- Tu meu amigo vens comigo!

Alice, antes de fechar a porta, despede-se de Amélia:

- Adeus menina! Faça uma boa viagem.

- Adeus Alice! - Grita Amélia dizendo adeus com a pata do cão.

Ela, juntamente com o seu cão, seguem então caminho para a estação de comboios, onde os esperava uma nova aventura ainda por descobrir.

A Minha Motivação |livro 1|Onde histórias criam vida. Descubra agora