Ao mesmo tempo que Amélia pensava naquela pessoa que estava na foto, de repente, ela olha para a porta e vê um espírito a dirigir-se na sua direcção. Ela fica muito espantada e diz para si própria:
- Eu afinal tinha razão! Os espíritos existem, eu não estou louca!
À medida que o espírito se aproximava, Amélia ficava cada vez mais assustada querendo pedir ajuda mas as palavras não lhe saíam da boca. Ela analisa mais atentamente o espírito e reconhece-lo... Era o tal homem que estava na fotografia do seu diário. Amélia, pergunta timidamente ao espírito:
- Que quereis de mim espírito temido?
O espírito não dizia outra coisa senão o seu nome, o que deixava ficar Amélia mais curiosa. Ela insiste com o espírito e pergunta-lhe novamente:
- O que é que queres de mim? - Pergunta Amélia com mais força.
- Amélia... - Dizia o espírito que respondia sempre o mesmo cada vez que Amélia lhe perguntava qualquer coisa.
Ela, já impaciente, pega na foto e pergunta-lhe:'
- És tu que estás nesta foto, não és? Quem és tu e o que queres de mim?!
- Não te lembras de mim? Sou o teu colega da Universidade, Henrique. Não te diz nada?
- Não... - Diz Amélia confusa.
- Como assim não?! Eu morri por ti Amélia. - Disse o espírito ficando furioso.
- O quê? Por mim? Não isso não é verdade, não pode!
O espírito de Henrique já andava às voltas no quarto sem saber o que dizer, já que tinha sido esquecido pela sua amada. Depois de um minuto de silêncio, Amélia disse ao espírito em lágrimas:
- É por tua causa que eu estou internada aqui, sabes?
- Por minha causa? - Questionou Henrique ofendido.
- Sim é verdade. Os meus pais pensaram que eu estava louca...
- Eu sinceramente não sei o que é que vi em ti Amélia. Como é que eu fui capaz de me matar por ti?
- Achas que eu me lembro de tudo o que aconteceu? Eu mal me lembro de quem tu eras.
- Isto não pode acabar assim, eu irei voltar Amélia e vais-te arrepender do que me fizeste aqui hoje.
- Desculpa Henrique mas não tenho culpa do que tu fizeste. Foi uma escolha tua!
Ao acabar de dizer isto, aparece a enfermeira a espreitar na porta com um ar preocupado. Amélia olha para a enfermeira e diz-lhe:
- Ainda bem que chegou, por favor entre.
Amélia, quando desvia o olhar, repara que o espírito de Henrique tinha desaparecido sem ela dar conta o que a deixou muito espantada.
A enfermeira entra no quarto muito devagar olhando para todos os lados. Amélia, ao achar estranhar a atitude da enfermeira, pergunta-lhe:
- Está tudo bem enfermeira? Passa-se alguma coisa?
- Com quem é que estava a falar menina?
- Ah com ninguém... Estava a falar comigo mesma.
- De certeza menina? Parecia que estava a discutir com alguém.
- Não se preocupe, às vezes penso em voz alta.
- Mas está tudo bem? Tem a certeza?
- Sim está tudo bem enfermeira.
- Sabe que pode-me contar tudo o que quiser Amélia. E eu não acredito no que me está a dizer, eu sei que se passou aqui alguma coisa.
- Está bem eu conto-lhe, mas esta conversa vai ter de ficar aqui, promete-me?
- Eu garanto-lhe que não conto a ninguém menina, pode ficar descansada.
- A verdade é que eu estive a falar com um espírito.
- Outra vez menina?
- Sim eu juro que estive a falar com um espírito. E era o mesmo espírito com quem eu falei antes de vir para cá.
- Que estranho, mas sabe quem é esse espírito maldito?
- Não dava muito bem para ver quem era mas, acho que era este homem aqui... - Ao dizer isto, Amélia tira debaixo da almofada o seu diário e mostra à enfermeira a foto de Henrique.
- Quem é esse? - Perguntou a enfermeira curiosa.
- Chama-se Henrique e era o meu colega da Universidade.
- Não acha estranho ele estar sempre a aparecer quando está sozinha?
- É por isso que eu tenho medo de ficar sozinha porque tenho receio que ele volte a aparecer. Eu já não sei o que pensar à cerca dele. Mas a conversa acabou mal enfermeira, muito mal!
- Então o que aconteceu? - Perguntou a enfermeira agarrando a mão de Amélia.
- Ele disse-me literalmente que se iria vingar. E isso deixa-me preocupada. Ele não conseguiu entender que eu me tinha esquecido de tudo o que aconteceu, que culpa é que eu tenho disso? Diga-me enfermeira!
- A menina está a ficar muito irritada tem que se acalmar. Claro que não teve culpa, não pense numa coisa dessas, que disparate!
- Ultimamente tem estado a acontecer tudo muito depressa e estou a ficar muito confusa com estas histórias todas que nem me lembro! A enfermeira tem que me ajudar, eu já não sei o que fazer...
- A Amélia quer que eu lhe arranje um psicólogo? Talvez seja melhor.
- Eu não quero psicólogo nenhum! Só preciso que me deixem em paz.
- Eu não posso deixar a menina neste estado, precisa de ser acompanhada.
- Não preciso de um psicólogo não preciso de ninguém! Não faça nada por favor, já eu que não faço nada só arranjo problemas atrás de problemas.
- Não leve a mal isto que lhe vou perguntar mas, onde é que arranjou esse diário? - Perguntou a enfermeira olhando para o diário.
- Não tem nada haver com isso. Agora pode sair do quarto, por favor? Preciso de estar sozinha.
- Mas, menina...
- Saia! - Disse Amélia apontando para a porta.
A enfermeira ao ver Amélia irritada, baixou a cabeça e saiu do quarto sem dizer mais nada, tal como ela lhe pediu. Talvez assim ela acalmasse um bocado. A enfermeira ao fechar a porta do quarto, Amélia deu um grito e rasgou a foto de Henrique que, para ela, era agora um inimigo com quem teria de enfrentar a qualquer momento.
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A Minha Motivação |livro 1|
Historical Fiction| A Minha Motivação livro 1 | Amélia de Carvalho, a primeira mulher a frequentar a Universidade de Coimbra (1871-1966). Amélia é uma jovem de 23 anos de finais do século XIX, que vive à frente do seu tempo. Ela quer muito ter uma vida que não é típi...