■ ʟɪᴠʀᴏ 1
Melissa Lee sofre com um dom de ver espíritos e sua vida se resume em trabalhar num lugar para loucos, buscando ter a sanidade mental e morando com um pai que a rejeita.
Harry Styles é um rapaz que começa a fazer parte da vida de Melissa...
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O medo já não preenchia os cantos do meu corpo, pelo menos não enquanto eu continuava enfiando a lâmina brilhante no peito da Sra. Howell, repetidas vezes. — Temos que ir, Melissa — disse Harry, de repente. Parei com os movimentos e tentei me manter calma, inspirando pelo nariz e expirando pela boca. O fato de olhar para a mulher morta na minha frente não me ajudou e, instantaneamente, a pergunta veio na minha cabeça como uma bomba: o que diabos eu havia feito? — Harry, eu... — Busquei os seus olhos atrás de mim, mas quando me dei conta ele já estava ao meu lado, me puxando e me mantendo em pé. — Eu disse pra não pensar em nada — falou, preocupado. — Você vai acabar se torturando se fizer isso. — E... e o que eu faço?
Pus os olhos novamente na Sra. Howell e imaginei que fosse apenas um sonho – um sonho no qual eu tinha o poder de controlar. A sua cor pálida, as pálpebras meio abertas, o corpo já rígido e a assassina ao seu lado, com a prova do crime nas mãos, acompanhada do sangue diluído. Balancei a cabeça, evitando os teimosos pensamentos e parando de olhar para a Sra. Howell. — Cubra o corpo dela. — Ficou louco? — atirei, perplexa. — Vamos, Melissa — Harry me olhou, irritado —, faça o que eu digo para irmos embora daqui! — Mas e se a polícia vier e encontrá-la desse jeito? — Comecei a me desesperar com a ideia dos homens entrando à força, armados e prestes a descobrir o assassinato de uma velha que sabia o que não devia. — Eles não virão tão cedo — respondeu, voltando a olhar para a Sra. Howell. Foi fácil de perceber o brilho mais forte em Harry, ele já não parecia um espírito, era como se estivesse ali de verdade. — Quando souberem, isso não vai mais importar.
Importava, porque me pegariam e eu ficaria longe dele. Só que eu resolvi não dizer aquilo, apenas fui até o corpo da Sra. Howell, peguei um lençol qualquer e a cobri. Limpei a faca na cama de solteiro e a pus dentro da bolsinha. Não olhei para Harry, somente desci a escada para o primeiro andar escuro. Os gatos continuavam na mesma posição e o som da viatura soou lá fora mais uma vez. Respirei fundo e voltei para a minha casa, passando pelo mesmo caminho do jardim e começando a sentir aos poucos o peso na minha alma.
Ao passar pela porta do meu quarto no segundo andar, Harry já estava em seu lugar habitual próximo da janela, me observando atentamente. — Posso pensar agora no quanto eu sou um lixo? — joguei, sentindo o cansaço aumentar de tamanho. Rapidamente caminhei até o banheiro e limpei os vestígios de sangue nos braços. — Você não é um lixo — falou Harry, com uma seriedade que eu não queria, assim que voltei ao cômodo. — É muito útil, na verdade. — É claro, não passo de um fantoche, não é mesmo? — eu disse, sarcástica, enquanto tirava o casaco. — Eu realmente não sei o que estou fazendo aqui. Pra que tenho a vida e o livre-arbítrio, se não posso usá-los? — atirei, sem ter a capacidade de parar as lágrimas que já corriam pelas minhas bochechas. — Eu sinto muito. — Você não está sendo sincero! — Você aceitou me ajudar... — Porque você estava fazendo da minha vida um inferno, Harry! — exclamei, sentindo-o se aproximar. — Você começou a usar o meu corpo, me forçou a fazer tudo aquilo, e a sua presença e o excesso de ódio aqui trouxeram todos aqueles outros espíritos! — Eu não os trouxe — Harry cuspiu as palavras, e percebi que começava a se irritar também. — Aquele homem odiava você, Melissa, ele odiava a sua mãe..., e até mesmo a si próprio. O que você esperava? Eles só encontraram um lugar para sugar energias. De qualquer jeito, não importa mais, porque eles já se foram. — Você ainda está aqui — murmurei, cruel. Afinal de contas, era como se eu quisesse que ele sumisse também. Mas não era aquilo – não quando eu sabia um pouco mais da sua história – e Harry tinha consciência daquilo. — Estou — concordou, e então limpou uma lágrima na minha bochecha. — Obrigado. — Por quê? — Por não me odiar mais. Era muito difícil ficar próximo enquanto você desejava que eu me desintegrasse. Eu conseguia obter energias com o seu medo e a sua raiva — explicou, e vi um vestígio de tristeza encher a natureza dos seus olhos —, mas era muito... ruim. Também não era o suficiente, e por isso eu precisei de mais. Por isso eu precisei matar pessoas. — E se, por acaso..., eu não tivesse acreditado em nada do que você havia me dito? E se eu ainda o odiasse e não cedesse? — Provavelmente — Harry hesitou por alguns segundos e desviou os olhos de mim —, eu teria torturado você, para que me ajudasse sem a possessão, à base do sofrimento e da manipulação.