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(Lea Cardenas)

    Quando recebi a mensagem do Marc, fiquei extremamente feliz. Corri até à casa-de-banho, constatando se estava apresentável. E... Bem, até que estava— mas só porque tinha saído de manhã. Peguei no meu telemóvel e no cartão que abria a porta do quarto, descendo, rapidamente, de elevador até ao piso zero. 

   Não foi difícil de avistar o Marc até porque ele estava a dar um autografo a um rapazinho com cerca de dez anos. Caminhei na sua direção com passos pequenos— proporcionais ao meu tamanho—, alcançando o jogador espanhol em pouco tempo. Puxei a ponta da sua camisola sem força, apenas para lhe chamar à atenção e assim que o seu olhar se cruzou com o meu, o Marc abriu um amplo sorriso. 
    Assim que terminou o que estava a fazer, virou-se para mim e envolveu-me com os seus braços. Encostei a minha cabeça ao seu peito e envolvi também o seu corpo com os meus pequeninos membros superiores. 

  — Não fazes ideia do quão feliz estou por estares aqui.— Confessou, afagando o meu cabelo cuidadosamente.— Quando me visualizaste a mensagem, pensei que não virias ter comigo. A prova de que te amo é o facto de ter viajado cerca de seis horas para vir ter contigo. 

— Seis horas? Tu és louco, Marc! — Observei, erguendo o meu rosto para o poder encarar.

— Eu sou louco por ti. — Acrescentou, afastando alguns fios do meu cabelo da frente do meu rosto.— Para além disso, tu vais voltar para Barcelona e eu não queria deixar-te ir sem dizer algumas coisas que são importantes e não podem ser adiadas.

  — Queres subir para o meu quarto? Talvez seja melhor tendo em conta que és famoso e não convém que sejas reconhecido enquanto estamos a ter uma conversa importante.— Sugeri, explicando-me em seguida. O rapaz assentiu e deu-me a mão, sendo guiado por mim até ao elevador. 

    Rapidamente chegámos ao meu quarto. Eu passei o meu cartão junto à porta e esta abriu-se, permitindo a nossa entrada. O meu quarto não estava, propriamente, arrumado e eu fiquei um pouco embaraçada por isso, confesso.

     O Marc fechou a porta atrás de si, caminhando na minha direção. Parou no meio do espaço, ficando de frente para mim e piscou-me o olho, brincando comigo.

  — Então... O que me querias dizer, Marc?— Inquiri, observando-o atentamente.

  — Eu queria dizer-te que...— Engoliu em seco, desviando o olhar do meu rosto.

   Percebi, de imediato, que se tratava de algo mais sério. Deduzi que ele fosse falar sobre sentimentos ou até mesmo sobre nós e isso deixava-me um pouco mais hesitante e nervosa. Eu tinha algum receio em relação ao que ele ia dizer. Receava que dissesse que não queria estar comigo de uma forma mais séria. Receava que ele se tivesse apercebido que, no fundo, não estava apaixonado por mim mas sim pelas memórias do nosso relacionamento ou pelas memórias do sentimento que existira em tempos. 

  — Eu queria dizer-te que eu sou apaixonado por ti desde que te conheço. Eu apaixonei-me por ti assim que ouvi o teu riso ou assim que sorriste para mim e eu constatei a existência daquele espaço entre os teus dentes. Eu sempre te achei diferente... Mas num bom sentido. Tu tinhas o que as outras pessoas não tinham e eu gostava disso. Eu gostava do teu sotaque diferente, da tua maneira decidida de ser. Eu gostava de ti. Eu gosto de ti.— Proferiu, exibindo um sorriso apaixonante. Correspondi ao gesto, fazendo o mesmo devido às suas palavras carinhosas. Prosseguiu.— Mas ainda que goste de ti e seja capaz de o admitir sem qualquer tipo de problemas, eu sei que as minhas atitudes nem sempre demonstram essa realidade mas... O que eu sinto é real, Lea. Sempre foi. Eu tenho noção de que tu não te sentes segura em relação ao que sinto e não te culpo. Confesso que também ficaria chateado e magoado se me sentisse assim. De qualquer das formas... Eu acho que tu precisas de tempo para que te habitues ao meu regresso. Eu posso esperar por ti. Eu vou esperar por ti. 

    Depois de toda aquela declaração por parte do Marc, respirei fundo. Ele observava-me com alguma preocupação, talvez por não ter tido a reação que ele esperava. Mas eu estava em choque.

     Enquanto eu digeria toda a informação, o Bartra sentou-se sobre a minha cama com um ar de desilusão estampado no rosto. Achei a situação caricata, afinal, qualquer expressão facial que ele fizesse acabava por ser engraçada.
      Aproximei-me dele e sentei-me sobre o seu colo, acariciando o seu rosto. Os seus olhos esverdeados fitaram os meus. 

     Ainda não sabia ao certo o que dizer. Eu queria estar com o Marc. Eu não queria esperar coisa nenhuma. Por outro lado, eu não tenciono ter um relacionamento à distância. Se já era complicado lidar com os ciúmes dele quando eu estava por perto, imaginemos o que seria se eu estivesse a quilómetros de distância. Na verdade, a horas de distância. Nós ficaríamos a cerca de catorze horas de distância. C A T O R Z E.

      E mudar-me para Dortmund não parecia uma opção. Primeiro por não perceber nada de alemão, segundo por não ter sido convidada e terceiro por a minha vida estar toda em Barcelona.

       Mas a verdade é que eu seria capaz de abdicar das coisas que tenho em Barcelona e mudar-me para onde o Marc está. Eu tentaria aprender alemão e construiria uma vida aqui. Ou, no mínimo, tentaria. Porque é isso que as pessoas fazem quando se amam. Elas tentam e abrem mão de algumas coisas pelo bem da outra pessoa ou da relação. 
        Só precisava que ele me convidasse para ficar ou que me pedisse. 

  — Bom, Marc... — Comecei por dizer, tentando organizar as ideias na minha cabeça.— Eu não posso dizer que sou apaixonada por ti desde o início porque a realidade é que não sou. Eu pensava que tu eras uma pessoa diferente... Pensei que serias arrogante por jogares no Barcelona, na altura, estavas tanto na equipa B como na A, dependia das decisões do treinador. Eu deduzi que tu serias esse tipo de pessoa que se acha superior e, ainda que fossemos amigos, eu não acreditava que fosses genuíno. A verdade é que conforme te ia conhecendo, fui aprendendo imensas coisas e descobri estar redondamente enganada. Tu não eras um jogador de futebol iniciante que achava que tinha o rei na barriga. Tu eras uma pessoa completamente normal. Eu tive a sorte de te ter como melhor amigo por quatro anos e tu estiveste sempre lá para mim. Quando me apercebi, já estava apaixonada por ti também. Eu tive algumas dificuldades em lidar com o sentimento, é verdade, mas depois de começarmos a namorar... Eu tive a certeza de que gostava de ti. 

     Fiz uma pequena pausa, recebendo um grande sorriso da sua parte.

  — Sabes, eu detesto este tipo de coisas, detesto ter de te explicar o que sinto por ti porque me apercebo do quão estúpida fico quando estou apaixonada.— Soltei uma gargalhada baixa, acariciando novamente o seu rosto.— Mas eu sei que tu precisas de ouvir isto. De qualquer das maneiras, eu cada vez comecei a gostar mais de ti. Vou ocultar a parte da história em que tu tinhas crises de ciúmes semanalmente e, principalmente, aquela em que traíste a minha confiança... A verdade é que quando tu me mandaste aquela mensagem e fingiste não te lembrares de mim, aquilo afetou-me profundamente. E foi aí que eu caí na realidade... Que eu nunca te esqueci.

     Eu não precisei de dizer mais nada. O Marc aproximou o seu rosto do meu, selando os nossos lábios e dando início a um beijo calmo. Ele acarinhava a minha bochecha com o seu polegar enquanto os nossos lábios se moviam em sintonia.

      Um beijo puxou o outro e acabámos por nos envolver numa cadeia infinita deles. 

      Era muito bom ter o Marc de volta.

Isso fazia-me repensar sobre nós. 

Não queria voltar a estar longe dele.

Worthless || Marc Bartra ✅Onde histórias criam vida. Descubra agora