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Por Marc Bartra

       Eu queria muito oficializar as coisas com a Lea. Sim, eu sei, nós estamos bem como estamos mas eu não fui feito para estar numa relação sem compromisso, numa relação em que não esteja claro que estamos com determinada pessoa. 
        Eu estava um pouco hesitante em tomar essa decisão porque não sabia em que pé estávamos. Não sabia se ela queria esperar alguns meses até se sentir segura ou se estava disposta a estar seriamente comigo. 

       Não a queria pressionar. A Lea não gosta de ser pressionada e não seria eu a fazê-lo. 

       De qualquer das maneiras, tudo ficou mais claro quando ela me deu a entender que queria ser minha namorada. Decidi que tinha que preparar toda uma surpresa para um pedido de namoro em condições, digno do seu perdão. Eu não sabia ao certo por onde começar mas decidi que queria ser o mais romântico possível ainda que não tivesse muito jeito para a coisa. 
       Pedir conselhos ao Julian foi a melhor coisa que poderia ter feito e ele passou o treino inteiro dos últimos quatro dias até que a Lea regressasse a encher-me de ideias.

        Não brinco quando digo que fui coagido a comprar um arranjo de flores do tamanho do universo e três caixas de pétalas de rosas vermelhas para espalhar pelo chão do meu quarto. Como se não bastasse, o Julian ainda quis se intrometer ao ponto de decidir quais seriam os anéis que usaríamos. Acredito que toda a ideia foi mais por parte dele do que minha mas confesso que não teria pensado em metade do que ele pensou. Arriscaria-me a dizer que o Weigl pedia a namorada em namoro todos os dias ou então estava a planeá-la pedir-lhe em casamento porque não era possível ter todas aquelas sugestões na ponta da língua.

       Ao fim de quatro longos dias, estava tudo planeado. Tinha estado a preparar a Lea aos poucos para que ela não ficasse tão em choque quando eu efetuasse a tão complicada pergunta. 

       E eu, embora estivesse bastante ocupado com todo o assunto do pedido, notei que ela parecia distante. Tinha plena consciência de que algo tinha acontecido em Barcelona e ela estava a ocultar-me, provavelmente, para não me deixar preocupado. 

      Eu calculava que se tratasse de algo em relação à sua vinda quase definitiva para minha casa na Alemanha longe da sua família (que, particularmente, nutria um ódio especial por mim). 

      Falávamos todos os dias mas eu raramente conseguia tocar num assunto mais profundo tendo em conta que ela se limitava a escrever-me sobre os assuntos que tinha estado a tratar em cada dia. Eu não a julgava. As coisas são complicadas quando sentimos que não temos o apoio de quem mais precisamos/queremos. 

      Mas em momento algum me disse que tinha mudado de ideias. Ela queria estar comigo e isso transmitia-me uma segurança muito boa porque... Era recíproco.

 Tudo o que eu mais queria era estar com ela. 

💫💫💫

  — Quando é que a Miss Bartra Aregall chega, Marc?— Inquiriu o Mario, caminhando na minha direção. 

     Eu encontrava-me sentado no banco enquanto respondia a uma mensagem da Lea no whatsapp. Ergui o rosto para o poder encarar e, com um sorriso idiota estampado no rosto, respondi:

— Amanhã às catorze e dez.

— E tu vais buscá-la? — Voltou a questionar, sentando-se ao meu lado mas com o corpo virado na minha direção. Abanei negativamente a cabeça e o jovem alemão franziu o cenho, mostrando-se confuso.— Então... Como é que vão fazer? 

— Eu estarei, teoricamente, a treinar quando ela chegar por isso pedi à Melissa que a fosse buscar ao aeroporto e a levasse até minha ca---

— Tu estás louco?! Por favor, Marc, diz-me que estás a brincar quanto à Melissa, repito, a tua ex-namorada Melissa, ir buscar a tua quase-namorada Lea.— Perguntou e implorou, juntando as mãos como se estivesse a rezar para que o seu pedido fosse realidade.

— Não e não, para ambas as perguntas.— Proferi, dando de ombros despreocupadamente.— A Melissa disponibilizou-se e, se tu conheces bem a minha ex-namorada, sabes que ela seria incapaz de ser mal educada para com a Lea! Para além disso, a Mel sabe o quanto eu gosto dela porque me tem aturado quase todos os dias a falar sobre ter a  a morar comigo. 

  — Certo... Se tu achas que isso é uma boa ideia, então, tudo bem mas depois não te queixes se as coisas derem para o torto.— Analisou, colocando-se numa posição negativa em relação ao meu plano. Abanou negativamente a cabeça e cruzou os seus braços.— Mas... E depois?

— Então... Eu vou estar em minha casa. A Mel vai entregar as chaves à Lea para que ela possa deixar as suas malas e vai, na teoria, ficar à espera dela para a levar até ao centro de treinos mas, como eu vou estar em minha casa, não vai ser preciso que isso aconteça. — Fiz uma pequena pausa, recordando-me do restante.— Depois, a vai encontrar a casa escura e um caminho de velas e algumas pétalas do hall de entrada até à minha sala de estar. Vou colocar um vídeo a passar, um vídeo todo meloso, e, depois de fazer com que ela fique toda emocionada... Vou aparecer e dizer-lhe o que sinto, o que acaba por ser a parte mais importante

  — Estás a ficar um homem.— Ironizou, batendo com a sua mão sobre o meu ombro. Soltei uma leve gargalhada devido às suas palavras mas assenti.— Espero que não estragues tudo com a nossa miúda porque eu tive imenso trabalho em convencê-la a ir ver o jogo connosco na Allianz.

— Se eu estragar as coisas com ela, manda-me para a cabeça até que eu lhe peça desculpa e corrija as asneiras que fiz.— Pedi.— Embora tu saibas que eu sou mais teimoso que uma mula e que não vou ligar nenhuma... Pode ser que consigas fazer-me ganhar juízo.

— Difícil mas... Vou tentar.— Gargalhou.

    Trocámos um abraço e voltámos a focar-nos no treino. Eu estava, mais do que nunca, concentrado no meu regresso aos relvados. Depois do que aconteceu naquele autocarro, eu pensei que nunca mais voltaria a jogar futebol na minha vida. Eu pensei que estava acabado, que ficaria com sequelas do incidente e que nunca mais poria os meus pés num relvado.

     Mas atualmente, estava tudo a recompor-se e eu disputaria mesmo a final da Taça da Alemanha. 

   Melhor do que isso: eu teria a Lea a apoiar-me nesse dia. 

Não podia pedir mais nada. 

Estava tudo como deveria estar.

Worthless || Marc Bartra ✅Onde histórias criam vida. Descubra agora