Capítulo 11

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4 meses depois...

Alguns meses se passaram. Mamãe ainda estava desempregada e as contas não paravam de chegar. A velha culpa ainda caía sobre meus ombros. Ser transferida para um colégio público, jamais seria possível no início do segundo semestre. Eu não ia mais ao colégio. Mamãe não pagava mais as altas mensalidades, porém a preocupação com minha educação não deixava ela dormir. O aluguel estava indo para o seu segundo mês de atraso. Foi quando mamãe me acorda no meio da noite, dando a notícia que finalmente o dinheiro de sua rescisão havia sido depositado. A quantia era o suficiente para sobrevivermos tranquilamente por mais uns 6 meses. Ficamos tão felizes, que mamãe e Melli se reuniram em um maravilhoso almoço em família. Pois sim, todos juntos, era como uma família pra mim.

Isaque havia saído do hospital e depois de muita insistência, consegui com que ele me perdoasse. Seus pais estavam viajando enquanto Isaque se recuperava. Para minha sorte, Melli, mamãe e Isaque prometeram guardar segredo sobre o ocorrido. Segundo Melli, os pais de Isaque até que estranharam seu jeito calado e isolado. Mas não chegaram a desconfiar da agressão. Foi um longo e duro processo reanimá-lo sem levantar suspeitas. Toda aquela mentira consentida em conjunto por Melli, mamãe e eu, foi uma tremenda vergonha. Isaque apenas concordava com tudo que dizíamos e decidíamos. Se seus pais descobrem, os estragos seriam bem maiores. Descobrindo ou não, a culpa ainda pesava sobre meus ombros. Olhar e conversar com Isaque, em certos momentos, parecia uma tortura.

Capítulo 11

- Espero que possamos fazer isso mais vezes.

- Olha Caroline, com esse assado maravilhoso, faríamos todos os dias. – Srta Marli recolhia a bolsa de couro, enquanto limpava a boca com um guardanapo.

- Isa você tem muita sorte!

- Sorte? – Eu estava surpresa. – Mas porque Isaque? – Cada vez que ele interagia comigo, era uma fisgada em minha cabeça. Eu ainda tentava me acostumar com um Isaque calado e educado.

- Sua mãe é incrível... Cozinha muito bem!

- Ooh querido, obrigada. – Mamãe abraça Isaque lhe dando um beijo no rosto. Senti até um pouco de ciúmes, mas nada que pudesse ser visível.

Todos já estavam de pé. Mamãe, César, Melli, Jonas e Isaque.

Meu ex companheiro de banco de trás, havia enfim revelado seu nome. Jonas, era como o morto vivo se chamava. Continuava calado e de semblante abatido. Mas ajudou muito no processo de recuperação psicológica de Isaque. Jogávamos vídeo games, assistíamos a filmes, fazíamos de tudo para animar Isaque dentro de casa. Ele não queria sair por nada.

Eu estava na cozinha ainda bebendo meio copo de suco de abacaxi. Aquele canudo branco com linhas vermelhas traçadas em espiral estava com a ponta mordida e amassada. Era um jeito esquisito de admirar aquela cena. Todos felizes, sorridentes e cheios de histórias para contar. Eu queria ouvir todas, sem exceção. Queria gerar mais lembranças daquela maravilhosa tarde. Aquelas pessoas, felizes, se despedindo na sala de jantar, faziam parte do meu momento, do meu registro, o meu peculiar jardim das memórias incríveis.

- Ei pessoal, que tal eternizarmos esse momento? – César consegue a atenção de todos, especialmente a minha. Ele tira de dentro da sua mochila, uma câmera fotográfica digital. Meus olhos saltam surpresos. Meu peito acelera de tamanha animação.

- Ai meu Deus, César... – Uma rápida corrida até saltar em suas costas.

- Ei garotinha...

- Isa, olha os modos... – Mamãe tentava dar bronca, mas a risada de Cesar ao me sentir em suas costas deixou a voz dela doce demais para ser respeitada.

Outras Proporções de Dor - Ato 1Onde histórias criam vida. Descubra agora