Capítulo 15 - Final

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Desta vez eu não tentei conter o choro. Desta vez eu impulsionei. Eu não ia mesmo conseguir resistir.

- Não... Não... – De curtos sussurros, minha voz foi aumentando.

- Não! Me solta! – Me remexia causando desequilíbrio no homem que me segurava presa em seu ombro.

- Fique calma garota.

Inclino o peso do meu corpo para frente, escorregando pelas mãos dele.

- Eii... – Ele perde o equilíbrio e me deixa cair desastrosamente. Por pouco não acerto com o rosto no chão.

- Segura ela! – Outras pessoas gritavam.

- Se acalme menina. – Algumas senhoras ficam de pé.

Todo o meu torso estava grudado no piso gelado e brilhante do hospital. Diante de mim a porta automática. A minha saída, a concretização da minha fuga.

- Mãe, você não morreu... Isso não pode ser verdade.

Sinto alguém segurar meu calcanhar quando já dobrava os joelhos, prontos para sustentarem o peso do corpo sobre meus pés descalços. Centímetros depois, meu rosto estava no chão novamente.

Me arrastava puxando e avançando o corpo com a ponta dos dedos. O piso escorregadio me obrigou a usar as unhas. Meu rosto ardia como se estivesse esfumaçando. Meus músculos latejavam. Um amontoado de coisas ruins embolava. Uma dor desconhecida crescia como um tumor, um câncer, que aos poucos se alimentava de toda pureza e beleza que existia dentro de mim. Estava sendo consumida por uma força destrutiva que nascia do meu próprio íntimo. Eu era um vulcão frágil em meu próprio calor. Vulnerável à minha própria lava.

- M... Mã... – Minha boca parecia conter minha voz. As centelhas de memórias começavam a surgir.

- Não! Não!

- NÃOOOOOO! – O grito saiu como uma explosão.

- Ela vai escapar... – Uma das senhoras alertava.

- MÃE! MÃE... – Minhas unhas arranhavam o chão de forma frenética. Era como estar presa em uma pista de gelo. Sacudia as pernas e puxava o corpo com os braços estirados no piso. A dor tomava forma bem devagar, se aproveitando de cada frame de desespero meu. As lágrimas ainda estavam presas.

Tudo fica sem som, lento, mudo e borrado. Leve como em um sonho. Meus pés estavam livres.

"Isa..."

Ela estava ali, na minha frente. As paredes pareciam ser consumidas por uma espécie de fogo invisível. O chão desintegrava como farelos de um pão velho. Toda a cena, tudo a minha volta, eram bonecos que desapareciam se desfazendo em pétalas de rosas. Tudo era um vazio, uma única luz, uma única imensidão branca e rosada.

- Ma... Mãe?

Seus cabelos flutuavam no ar. Seus pés descalços estavam diante do meu rosto.

"Filha?"

Ela estende a mão e me ajuda a se levantar. Usava um vestido azul claro tão leve e fino, que ela inteira mais parecia um frágil floco de neve.

- Porque me deixou sozinha mamãe? Porque foi embora?

"Eu estou aqui Isa, jamais iria te abandonar. "

- Mentira... – As lágrimas afogavam meus olhos.

" shhh..." – Apenas com o dedo indicador ela me interrompe. Sinto tocar minha boca suavemente.

Outras Proporções de Dor - Ato 1Onde histórias criam vida. Descubra agora