Capítulo 14

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- Mamãe... Mamãe... Não me deixa aqui sozinha... Mãee...

Era um lugar escuro. Sem paredes, sem chão, sem teto, sem nada. Era o meu fim. Estava sentada abraçando os meus joelhos. A maior dor da minha vida chegou como uma bomba atômica. Consumiu tudo a minha volta sem me dar tempo de notar o que estava acontecendo. Não houve um grande estrondo, não houve explosão, uma luz forte e candente, nada que pudesse ser descrito como uma grande catástrofe. Apena o vazio. A pior de todas as dores, em uma proporção que jamais poderia ser narrada. Eu estava perto dos meus nove anos de idade e já desejava com todas as minhas forças... Não existir mais.

Ainda naquele sábado, Isaque mais uma vez ficou a noite inteira me observando. Quando acordei meu braço estava engessado e imobilizado. O gesso estava tão frio quanto branco. Tive a impressão que ainda estivesse um pouco úmido. Um coração todo tremido e torto, feito com caneta vermelha, acompanhado de uma frase que mais parecia um rabisco. "Para sempre, Isa..."

- Eu queria ser o primeiro a escrever. – Isaque puxa uma caneta piloto do bolso. – Mas você não parava de se mexer então tive que...

- Isaque onde está minha mãe?

Seus olhos pareciam querer saltar pra fora do rosto.

- Eu... Faltou sublinhar aqui...

- Não toca em mim! – Com a mão direita impeço que ele toque no gesso. A caneta salta de sua mão com a força que seguro seu pulso. – Diz logo Isaque, onde está minha mãe!

Eu estava dura e firme.

- Isa, por favor... – Sua voz estava mole e seus olhos lacrimejavam.

- Vamos Isaque! – Aperto ainda mais seu pulso o sacudindo de forma truculenta. – Por favor, não minta pra mim... – Meu rosto queimava de uma ansiedade perversa. Eu queria logo saber se aquele vazio no meu peito era real, eu queria logo saber a verdadeira face daquela dor.

- DROGA ISAQUE, PORQUE NÃO FALA ALGUMA COISA SEU IDIOTA? – Eu estava gritando enquanto o empurrava. Ele estava imóvel e mudo.

- SAI! SAIA DE PERTO DE MIM! – Com os joelhos o afasto o suficiente para que minhas pernas pudessem empurrá-lo para longe. Ainda sem reação e com lágrimas escorrendo em seu rosto, ele cai no chão.

- Isa o que está acontecendo aqui? – Alguém invade a sala.

- MELLI ONDE ESTA MINHA MÃE? DIZ AGORA MELLI! ONDE ESTA MINHA MÃE?

- Fique calma Isa. – Ela se aproximava devagar como se eu fosse uma louca fora de controle. Talvez eu estivesse mesmo ficando louca.

- NÃO! SÓ IREI FICAR CALMA QUANDO VER MINHA MÃE! – Retiro a agulha do meu braço esquerdo sem me preocupar se ia ou não me machucar.

- Doutor! Um médico aqui por favor... – Melli gritava no corredor por ajuda. Eu realmente estava fora de controle. – Isaque vá chamar o César... AGORA!

Isaque estava em estado de choque, assustado, preso com seu desespero naquele chão frio.

- Vai Isaque! Levanta! – Era em vão.

Mesmo engessado, meu braço estava pendurado em meu pescoço por uma tipoia. Assim que Melli tenta me segurar pela direita, salto pela esquerda, fazendo ela cair sobre a cama. Um pouco sem equilíbrio, sinto minhas pernas formigarem. Por pouco não caio por cima de Isaque. A porta estava aberta. Ao meu lado esquerdo o vidro que separava aquele quarto do corredor. Pude ver Cesar chegar correndo do outro lado do vidro, quase que junto comigo. Antes de ele alcançar à porta, salto para fora esbarrando o ombro esquerdo na parede do corredor. Quase caio. Antes de dobrar os joelhos improviso uma força nas pernas me livrando das mãos de César em um novo salto para frente.

Outras Proporções de Dor - Ato 1Onde histórias criam vida. Descubra agora