Eles não se olham, a ausência se tornou uma pessoa. Alguém que ocupa um espaço naquela casa, incomoda.
- Ele vai ficar bem mãe.
A mãe só assente, leva a mão a boca, dessa vez consegue segurar o choro.
Fabiano vai pra fora, fica no quintal sob a luz amarela olhando as luzes na rodovia distante.
Puxa a carteira de cigarro do bolso da camisa, pinça um com a mão esquerda e coloca na boca, a direita vai até o bolso da calça, pega o isqueiro.
A mão esquerda em concha protegendo o cigarro, acende o isqueiro, puxa o ar quando a chama atinge o cigarro. Guarda o isqueiro no bolso, dá uma tragada e fica com o cigarro entre os dedos.
Fica olhando a mata escura, a rodovia indiferente.
As lágrimas descem, descontroladas. Ele chora até as cinzas queimarem sua mão. Dá uma outra tragada, dessa vez não abaixa o braço, deixa o cigarro no mesmo nível da rodovia.
Joga a bituca no chão e apaga o resto com o bico da botina, alcança a carteira no meio do bolso e a joga no latão de lixo. Volta pra dentro, toma banho e vai dormir.
Acorda e abre a boca pra reclamar dos alarmes no celular do irmão, mas a cama está vazia.

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Diante dos olhos
RomantizmEssa é a história de dois irmãos e dois sonhos. Kauê tem um sonho de ser um astro do futebol. Fabiano tem um desejo mais difícil, sonha com um amor que se foi. Um mais que o outro, precisa mudar de ares para conseguir o que quer. Kauê se imagina...