IV -Missie

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Às vezes ela achava que Dave Fellows era engraçado, mas aquele papel em suas mãos era hilário. Um bilhete que a convidava para uma festa no Rio de Janeiro que terminava com a frase "a rainha estará lá, então venha, por favor". Nunca lera coisa mais ridícula em toda a sua vida. Ela agradeceu Izzie por ter levado o bilhete até seu quarto e voltou a sentar-se à escrivaninha. Virou a folha para ver o verso. "Não estou brincando. Ela vai mesmo até lá. E não fale nada para Tamires. Precisamos nos ver de novo, então venha." Ela parou de rir. Não podia acrediar no que estava lendo. Thaila fora de Érestha era uma ideia ridícula. O reino precisava dela agora mais do que nunca. Era impossível que ela tivesse tempo para uma festa. Mas se Dave estava mesmo falando sério ela só descobriria se fosse no endereço indicado. Ela precisava de alguma distração, desesperadamente.

Dois meses após a morte do rei, Tamires anunciou para seu povo que não seriam mais uma província neutra. Thaila ainda a proibia de falar sobre os sonhos de morte que o rei tivera e a princesa não queria simplesmente anunciar uma coisa e não ter uma boa solução para os que discordassem. Alila Oskovitch e Olímpio Lopez, representantes de Teresa e Edgar, respectivamente, sugeriram que a princesa firmasse um acordo com os elfos, afinal, eles eram neutros. Aqueles que não concordassem em ficar ao lado de sua senhora teriam facilidade para se mudar para lá e reconstruir uma vida. Missie teve tantas reuniões com Átila Markova que conhecia cada fio de cabelo dele. O príncipe dos elfos tinha objetivos muito altos e ambições difíceis de contornar. Ele aceitaria os legados da princesa e ofereceria assistência se Thaila se casasse com ele. Tamires rejeitou e propôs que eles conversassem sobre alguns tratados diferentes dos já existentes entre o reino élfico e Érestha. Ele rejeitou e disse que aceitaria seus legados se a própria Tamires esposasse-o. A princesa apenas riu e Missie estava de volta àquele pequeno reino independente pela terceira vez naquela semana. A última proposta foi bem estranha. Átila pediu perdão e algumas reuniões sobre tratados. Nem Missie e nem Tamires sabiam do que se tratava, mas a princesa acabou aceitando, sentindo-se, assim, menos mal ao fazer seu discurso. Ela falou que fazia isso pelo pai e entendia o medo da população. Ninguém ficou muito feliz com a proposta de mudar-se para junto dos elfos, mas muitos o fizeram mesmo assim.

-Aqueles que ficarem junto de mim são os verdadeiros legados, os que confiam em mim, os que servem à mim –ela falou, em conclusão. –Os que se forem, protejam-se, e retornem quando tudo estiver acabado. Esperarei de braços abertos.

A reunião feita logo após o discurso, com todos os representantes, foi deprimente. Dave não pode comparecer pois estava com Thaila fazendo alguma coisa importante, e mandou o menino Gabriel. E ao invés de uma garota de cabelos castanhos pintados com os pés na mesa, a cadeira ao seu lado era ocupada por um menino alto de olhos cor de mel. Adam era um ótimo proficional, e era exatamente isso que Missie odiava nele. Ele não era Bia, não tinha nada dela. Pensava que acostumar-se-ia com a falta dela mas, a cada dia que se passava, ficava mais difícil. Ela tentava sair de casa com frequencia, distrair-se com amigos ou até entupir-se de lição de casa, mas nada ajudava muito. Só tinha uma pessoa que poderia resolver isso, e ela estava enterrada nos jardins de gelo de um príncipe.

Às vezes ela se perguntava se era justo ela sentir-se daqela maneira por tanto tempo. Sua princesa perdera o pai, a pessoa por quem fizera a decisão de ajudar na guerra, o chão de sua vida. Os príncipes estavam todos tão tristes que a atmosfera no reino todo era de luto constante. O brilho do reino morrera junto de Éres. Missie percebia que as prioridades de Thaila estavam longe de envolverem o bem estar emocional do povo, ou seja, ela não tentava anima-los, dizer que tudo ficaria bem. Principalmente porque todos saberiam que não era verdade. Quando sua princesa foi cumprir com sua palavra e prestar juramento a seus irmãos, Missie achou de verdade que ela ia colapsar e chorar diante de todos. Ajoelhou-se e falou o que fora instruída. Beijou a mão de todos os irmãos, até mesmo Tâmara, e ao fim desculpou-se por tudo antes de voltar para seu quarto. Uma vez trancada com a representante, a princesa sentiu-se confortável em chorar até adormntar-se. Ela não sabia ao certo, mas tinha quase certeza de que todos os outros fizeram exatamente a mesma coisa.

Érestha -Castelo de Cristal [LIVRO 4]Onde histórias criam vida. Descubra agora