Os cabelos da princesa da morte estavam terivelmente embaraçados e sujos de poeira. Por mais que não fosse uma de suas atividades preferidas, Isabelle conseguia acalmar-se penteando-os. Tabata estava com os olhos fechados, apreciando os cafunés de sua representante. A pobrezinha precisava demais descanso, mas nunca ouvia os conselhos de Belle. Estar de volta ao mundo físico da maneira como ela fizera exigia mais cuidados, mas Tabata acreditava muito em seus poderes negros e nos poderes brancos dos Litos Alvos. Além disso, ela odiava dormir em barracas ou tendas e vinha tendo noites péssimas. A tenda de Tabata era alta e comprida, e abrigava sua cama, uma pequena banheira de madeira e uma penteadeira de madeira leve. O colchão de ar que ela fazia alguém encher todas as noites estava ficando velho, e o ar escapava durante a noite. Pedro Satomak passava a madrugada inteira bebendo próximo às fogueiras ou torturandos almas menos fortunadas. Sobrava Isabelle para estar com a princesa.
-Não falta muito –Isabelle falou, colocando o pente de lado e arrumando os fios pretos dela para trás. –Logo voltaremos para o castelo e vai poder descansar propriamente.
-Sim, eu sei, minha princesa –ela disse, virando-se para encara-la e sorrindo.
-Quer que eu prepare o jantar? –Isabelle levantou-se antes que ela pudesse começar a falar mais.
-E o que teremos hoje? Mais carne salgada com vegetais aguados?
-Sim, senhora. A não ser que Pedro tenha mais algum lanche naquele sobretudo imundo dele.
-Vá checar para mim. Meus lábios estão secos e minha língua já se esqueceu do significado da palavra 'doce'.
-Seus lábios estão perfeitos, senhora –ela abriu o zíper da enorme barraca real e pôs um pé para fora. Estava frio naquela noite, mais do que o normal. No horizonte escuro ela via uma cadeia de montanhas com topos de neve, e algo lhe dizia que Alícia Weis olhava na sua direção de algum lugar no alto.
Os maiores pedaços de carne estavam separados para a princesa da morte, assados sem gordura e servidos com as maiores batatas. As cenouras haviam acabado há dois dias, e os cozinheiros adicionavam outras coisas para variar, como alface velha e liláses. Ela os deixou preparando o prato e foi até a fogueira com a maior concentração de psicopatas. Pedro Satomak estava no meio deles, segurando a mão de um homem risonho sobre o fogo. Ele gritou depois de alguns segundos e os homens brindaram, espirrando cerveja e vinho para todo o lado.
-Princesa! –ele exclamou quando a viu se aproximando. O homem desapareceu por um segundo e Isabelle sentiu um braço envolvendo sua cintura. Ele os transporotou de volta para o banco de madeira onde estava sentado e acomodou-a em seu colo. –Como posso ajuda-la, beleza?
-Começe não me tratando por 'beleza'.
-Gosto de chamar meus amigos por uma boa característica que os define. Já conhece Odor de Porco e o Tetas? –ele sorriu, mostrando seus dentes amarelados para as pessoas em volta da fogueira.
Isabelle revirou os olhos para ele não ver, depois sorriu para ele. O riso dele extinguiu-se imediatamente. A menina já tinha desistido de lutar contra Pedro e suas manias irritantes de morde-la ou fazer piadas provocativas. Tudo o que ela fazia era ignora-lo, e ele já estava acostumado. Se ela interagisse de qualquer maneira queria dizer que ele se arrependeria. Isabelle ajeitou-se para poder falar em seu ouvido e sentiu-o estremecendo.
-Sua senhora tem fome –ela disse. –Pare de agir como um desocupado e arranje algo doce para ela. E eu não sou sua amiga.
-Certo –ele engoliu em seco. Passou a mão pelos cachos dela e foi reprimido com um tapa. –Vamos, senhorita.
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Érestha -Castelo de Cristal [LIVRO 4]
FantasíaA verdadeira guerra iniciou-se após a morte do rei. As coisas não parecem estar andando para frente. Thaila está mais preocupada em divertir-se e deixar os irmãos felizes do que ajudar Dave a descobrir do que se trata o enigma da rainha. Riley cons...