IX -Alícia

38 6 0
                                    

Ela se despediu de Maria e os outros nem notaram que ela se retirou para se sentar no banco da laje. A noite estava quente para uma noite de setembro. A taça de champagne em sua mão a fazia se sentir estranhamente chique, embora soubesse que não era de nenhuma marca famosa ou coisa assim. O gosto também não lhe trazia nehum tipo de satisfação, apenas a deixava com menos sede. A lua refletia sua luz no liquido borbulhante e o deixava ainda mais belo.

Alícia estava feliz por seu meio-irmão. Lorena era uma pessoa maravilhosa e fazia o irmão feliz. Nada mais justo do que uni-los com uma cerimônia oficial. A pequena Mariana ficara entusiasmada em participar disso tudo. Rômulo não conseguia parar de sorrir e se recusava a soltar a cintura da noiva. Madalena, a mãe de Lorena, e Ruby, estavam mais contentes que os dois apaixonados. As mulheres não se viam muito, mas se davam muito bem. Ambas eram cozinheiras de mão cheia e trocavam receitas como crianças trocam figurinhas. A união dessas duas famílias não podia ser mais perfeita.

Ela já tinha várias ideias de coisas que gostaria de ver no casamento do irmão: angélicas na decoração e gypsophilas no buquê da noiva; a cor creme nas mesas e rosa claro para os vestidos das madrinhas. O bolo seria fácil de esolher, já que os dois amavam baunilha e frutas. Mariana andaria até o altar com as alianças e seria o centro das atenções por um belo minuto. Ela quase podia ver Lorena entrando na igreja, maquiada e tão deslumbrante quanto nunca estivera, mas percebeu essa imaginação havia se transformado num devaneio de seu próprio casamento. Era ela quem entrava pelas portas da igreja com um vestido enorme de tule com uma calda e um buquê de gypsophilas. O tapete por onde andava estava cheio de pétalas de rosa branca. Rostos criados por sua imaginação sorriam para ela e seu coração acelerava a cada passo. No altar, Lilian, Missie-olho-de-prata e Laura Souza vestiam o rosa e tomavam o lugar de suas madrinhas de casamento. O noivo estava virado de costas, mas Alícia sabia que ele estava sorrindo. Ela se pegou sorrindo um sorriso bobo e não teve muito controle de seu próprio pensamento daí pra frente. Quem é essa Alícia que pensa em coisas assim? Ela se perguntou. Mas se deixou levar. Estava curiosa para saber quem sua mente havia escondido debaixo do terno preto no altar. Talvez ela já soubesse.

-Ei –Alícia se assustou. Dave vinha subindo a escada com sua prórpia taça de champagne pela metade. –Estavam te procurando. Lorena e seu irmão pegaram o carro e minha mãe foi embora. Com a rainha!

Ele fez aspas quando falou do carro e usou um tom de voz muito surpreso ao mencionar que a mãe e a rainha estavam andando juntas por ai. Alícia se limitou a levantar as sobrancelhas em surpresa e concordar com um aceno.

-Por que estavam me procurando? –perguntou.

-Talvez porque você seja parte da família, não sei... –revirou os olhos enquanto falava e sentou-se ao seu lado. Tomou mais um gole de seu champagne com uma careta engraçada. –Agora você é meio que... minha prima. Ou algo assim. Bem-vinda aos natais com sucos cítricos e Tang.

-Rômulo é meu meio-irmão. Então sou sua meia-prima-ou-algo-assim –ela também tomou um gole pequeno de sua bebida. –Bem-vindo aos churrascos de aniversário com maionese e pagode velho.

Ele levantou sua taça e eles brindaram. Dave fez alguma pergunta sobre sua perna que a menina ignorou. A ferida na perna era apenas uma marca que ia se curar. As pessoas deviam perguntar sobre as feridas psicológicas dela. A dor começou quando escreveu as mensagens que deixou com as pessoas. Primeiro escreveu para Tâmara, onde falava que sacrificava-se por ela. Não era de tudo verdade, mas, como uma guerreira, tinha que dar explicações para sua princesa. O trabalho de Alícia era proteger a princesa da terra quando ela pedisse. Não era um compromisso como o de Dave para Thaila, mas assemelhava-se a isso. A princesa valorizava muito as habilidades da menina, e ela achou-se na obrigação de dar explicações. A segunda carta ela escreveu para Lilian. Pedia desculpas, explicava um pouco melhor sobre as cartas que Pedro enviara e despedia-se. A terceira foi a carta para Adnei, seguida pela de Riley. Foram as mais difícies de todas. Seu coração apertava-se a cada traço, mas seria ainda pior se ela não fizesse o que Pedro mandava e ele fosse atrás de todas aquelas pessoas. A última carta ela fez para Matheus Rushly. Não estava em seus planos, mas ela achou que ia morrer em Chelmno. Nela, Alícia agradecia por toda a atenção e carinho que o menino demonstrara por ela na escola e explicava brevemente que eles nunca mais se veriam. Ela mal se lembrava dessa carta depois de três dias com Pedro e Isabelle no campo de tortura, mas Matheus se lembrava. Alícia não queria que ninguém fosse com ela até a enfermaria na primeira noite de volta para a escola porque o machucado estava horrível e ela provavelmente choraria. No entanto, Matheus apareceu por lá quando a enfermeira preparava as coisas para cuidar da menina. Ele deve ter empurrado uma ou duas crianças com dor de cabeça para alcança-la. Ele a beijou e segurou seu rosto.

Érestha -Castelo de Cristal [LIVRO 4]Onde histórias criam vida. Descubra agora