Quem está ai?

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(Antes)

Há cinco anos que Mateus não se parece com Paulo, no início foi estranho, irmãos gêmeos univitelinos (idênticos) que não se pareciam, por consequências de cirurgias, é claro.

Ele sempre odiou se parecer com Paulo, desde criança que ele odiava esse fato, para ele Paulo era feio, por dentro e por fora.

Paulo nunca foi o filho preferido, nunca foi querido entre seus "amigos", nunca era bom para ninguém.

Depois que Mateus se cortou, Paulo reverteu a situação, disse para todos que seu irmão era louco, que tomava remédios e aquele corte o deixou feio por fora. Apenas uma pessoa em toda a escola ainda falava com ele, Emilly, era sua única amiga. 

Ela odiava Paulo por tudo que ele fazia Mateus passar.

Um dia Paulo empurrou Emilly do parquinho e ela quebrou o braço, Mateus criou um ódio enorme por Paulo, isso persiste até hoje.

Mateus vivia dizendo que um dia iria casar com Emilly, que ele a amava, eles até andavam de mãos dadas pela escola, todos achava isso muito fofo, até que um dia, no recreio, ele a beijou, foi tudo muito rápido, aquilo a pegou de surpresa. Depois disso, ela nunca mais falou com ele.

E ele ficou sozinho naquela escola imensa, sem amigos, sem colegas, sem seu próprio irmão. Sentava-se sozinho numa mesa afastada para o lanche, isso quando os outros garotos não roubavam dele. 

Ele era o garoto que ficava afastado de todo mundo no recreio, era o menininho que sempre se sentia sozinho e sempre estava sozinho encolhido dentro de seus pensamentos, escondido dentro de si mesmo, sentado numa área afastada de todos, era o garotinho que todo mundo humilhava e que quase todos os dias apanhava na escola, só por ser diferente, só por ter uma cicatriz em seu rosto, só por ser considerado feio.

 E a única pessoa que mantinha tudo aquilo suportável, o abandonou. . .

Meses depois sua mãe faleceu, a única pessoa que o amaria para sempre, tinha partido, ele e seu irmão foram criados por uma mulher que sua mãe ajudou. Mas ela não gostava de nenhum dos dois, pelo contrário, fazia eles de escravos.

Ela levava Mateus para pedir esmola nas ruas, pela sua condição física e um pouco de sujeira e roupas rasgadas, ele conseguia bons trocados, Paulo tinha que cometer pequenos furtos.

Ela sabia que no futuro precisaria dos dois para executar o seu plano.

Tudo isso mudou quando Mateus viu Emilly em umas dessas vezes em que estava pedindo esmola, ela nem o reconheceu, ele correu atrás dela, a chamou, mas ela não ouviu.

Ele tinha esperança que Emilly pudesse o salvar daquela mulher. . .

Mas as coisas pioraram depois desse episódio, ela o trancou num quartinho que tinha na propriedade em que eles moravam, ele era maltratado, comia uma vez por dia, não tomava banho e passava o dia todo chorando.

Em 2010, uma tempestade muito forte derrubou o telhado do quartinho em que ele dormia, ele passou dois dias embaixo de chuva e ficou muito doente, ela o levou para o hospital e ele foi internado.

Durante aquele período muita gente fez amizade com ele, inclusive um cirurgião que retirou sua cicatriz e que também modificou seu rosto, tudo isso de "graça".

Tudo que ele precisava fazer era se ajoelhar diante do médico e fazer alguns movimentos com a boca em seu órgão sexual.

Algum tempo depois, ele era forçado a ficar de quatro em uma maca, e era lhe introduzido o pênis na cavidade anal.

Mateus era um adolescente de quatorze anos que era abusado sexualmente pelo homem que quis "ajudá-lo", sua mãe, única defensora, estava morta, ninguém sabia de seu pai, Emilly o esqueceu e a mulher que deveria cuidar dele, foi a que mais maltratou.

Ao completar seus quinze anos, ele tentou se matar, se jogou da ponte dos desejos (lugar em que Maria se suicidou), e por algum motivo, ele não morreu. Passou alguns minutos boiando na água do rio e depois acordou.

 Naquele tempo, disseram que o demônio não o deixou morrer, outros disseram que ele era o próprio demônio, e algumas pessoas afirmaram que quando ele saiu da água, não era mais ele, ele estava com os olhos pretos e a única coisa que queria era VINGANÇA!

Ele fez o médico cirurgião assinar uma procuração passando todos os seus bens para ele, depois disso o esfaqueou até a morte, a polícia só encontrou o corpo muito tempo depois dentro de um rio perto da cidade, ele estava dentro de um saco, quando abriram sua carne já estava podre e encontraram a faca que o matou dentro de seu ânus.

Até hoje não encontraram o assassino.

Mateus ainda não se sentia vingado, ele queria mais, queria fazer a vida de todos que o maltratou, um verdadeiro inferno, todos que entram em seu caminho, jamais retornam.

(Agora)

Ele tinha decidido, iria atrás de Emilly, bateria na sua porta e falaria com ela.

Passava das onze horas da noite, ele andava na rua escura e desértica da casa dela, seu coração batia forte, sua respiração estava ofegante, ele parou na frente da casa, as luzes estavam apagadas, nenhum barulho, dentro ou fora da casa, era tamanho o silêncio, que era possível ouvir seu coração batendo cada vez mais forte.

Ele deu um passo para frente e colocou a mão na porta, não se mexeu, ficou ali imóvel, depois tirou sua mão e decidiu ir embora, se virou e nesse momento levou um golpe certeiro e caiu no chão.

<Dentro da casa> Ela não estava conseguindo dormir, pegou seus fones de ouvido e pôs uma música, alguns minutos depois ficou com sede e resolveu descer para tomar água, não ascendeu nenhuma luz, foi apenas com a lanterna de seu celular. 

Abriu a geladeira, pegou a garrafa, encheu o seu copo, bebeu, colocou a garrafa  de volta na geladeira e voltava para o quarto quando ouviu um barulho lá fora, mas parecia bem perto, muito perto.

Ela ficou ali, imóvel, com um pouco de medo, ela se virou e deu de cara com a amiga, aquilo foi inesperado, ela levou um susto e gritou.

- Que susto!

- Calma, o que foi?

- Eu ouvi um barulho!

Ambas olharam em direção a porta e viram através das gretas embaixo da porta quando algo era arrastado.

<Fora da casa> Mateus caiu no chão desacordado, ele ficou o observando caído, parecia tão frágil. Ao ouvir o grito, ele puxou Mateus rapidamente para o lado da casa, ele ouviu um ranger de porta, alguém a tinha abrido.

Uma voz perguntava: Quem está ai?

Mateus acordou atordoado no chão, viu um homem de costas do lado da casa se escondendo.

A voz se aproximava, Mateus se levantou e deu um soco na cara do homem e então percebeu quem era. Ele pegou sua arma e Mateus tentou se defender.

A voz deu um grito após ver ambos brigando com uma arma na mão.

<DISPARO> Ela cai no chão.

"O que você fez?" 

"Não foi eu, a arma está em sua mão!" Disse Mateus.

Ambos correram.

Clarisse acordou com o barulho do disparo e desceu para ver o que estava acontecendo, viu a porta aberta, ela saiu para fora e ouviu uma voz desesperada gritando e foi até lá.

- Ai meu Deus! Liga para a ambulância! 

Clarisse rasgou um pedaço de sua camisola e tentou prender o sangue que saia da barriga dela.

O lado escuro do AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora