O ruído característico de cobras ecoava na escuridão; fossem suas línguas bifurcadas dançando no ar ou o som na terra feito enquanto se arrastavam. A primeira reação de Brianna foi de correr, mas nas trevas em que estava, aquela não era a melhor opção. Ficou então imóvel, com a impressão de que seus joelhos tremiam mais que os guizos das cobras.
Sentiu a pele escorregadia de uma delas roçar seu pé. Teve vontade de gritar.
Mas estava petrificada de medo. Sentiu novamente o réptil passar por ela, desta vez, passando sobre seu pé esquerdo e roçando no calcanhar do direito. Respirou fundo várias vezes seguidas, como se o ar estivesse lhe escapando. O pânico parecia crescer e tomar conta da menina cada vez mais, chegando a um nível insuportável.
Brianna gritou. O grito fino ecoou pela caverna.
Então silêncio.
Brianna não sentiu nenhuma mordida e não conseguia mais ouvir o barulho das serpentes.
— Silêncio, menina! — ouviu uma voz feminina à sua frente dizer, reverberando logo em seguida. Então uma chama foi acesa. A princípio um ponto mínimo de chamas, que foram crescendo rapidamente, até iluminarem todo o ambiente.
Quem segurava a tocha era uma mulher de meia idade, cabelos desgrenhados, usando roupas sujas, descalça, com olhos azuis profundos e espantados. Era magra, o que era acentuado pelo volume de seu cabelo. As chamas revelaram um espaço enorme atrás dela, de teto baixo e íngreme, que em poucos metros estendia-se ainda mais para baixo, onde o fogo não alcançava; mostrando quão grande era a caverna adiante. O espaço em que as duas estavam era menor, de cerca de cinco metros de largura por dois de altura.
As cobras — seis ao todos, de espécies diferentes — rastejavam em direção à mulher, que não se alardeou.
— O que veio fazer em meu esconderijo? Como veio parar aqui? — a mulher falou com firmeza embora mantivesse o olhar preocupado.
— As cobras vão atacar você!
— São minhas cobras. Não vão me fazer nada. Como veio parar aqui? — as cobras aninharam-se próximo à mulher, e uma delas, uma longa e cinza, subiu em espiral pela sua perna.
Brianna ficou fascinada com aquilo.
— Elas são mansinhas?
— São letais, mas não comigo. Como veio parar aqui? — impacientou-se.
— Eu estava fugindo de um... eu esqueci o nome. Era grande como um urso — tentava lembrar-se da descrição de Marduk.
— Um lobisomem? — a mulher não parecia surpresa.
— Isso mesmo! — lembrou-se do termo.
A mulher olhou para o buraco do declive atrás da menina e deduziu que caíra por ali.
— Deveria ter devorado você. Com quem estava?
Brianna lembrou-se da bronca de Marduk sobre não contar a ninguém sobre ele.
— Estava sozinha — sentiu que sua voz saía de forma estranha; não era acostumada a mentir.
— Estava lá fora naquele frio sozinha? Acha que vou acreditar nisso? Onde estão seus pais? É uma armadilha, não é? Estão usando adultos em miniatura agora — a mulher falava inquisitivamente, cerrando os dentes de raiva.
— Eu falo a verdade, senhora. Também está sozinha?
A mulher foi pega de surpresa. A menina falara com uma um olhar tão condescendente e triste, que por um instante, ficou abalada em sua convicção de que se tratava realmente de algum tipo de emboscada.
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Brianna e o Demônio [completo]
Viễn tưởngBrianna é a personificação da inocência. Com apenas sete anos de idade, acredita que as pessoas boas quando morrem viram borboletas e vão para o céu, e as ruins viram mariposas e vão para o inferno. Foi sua mãe quem contou a história. Sua mãe que s...