Cinco - O demônio

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Os maxilares eram salientes para frente, mas não compridos como os de um cão ou arredondados como os de um primata; os dentes eram presas afiadas e grandes, enfileiradas na boca literalmente de orelha a orelha, como se ele estivesse sorrindo — Brianna não conseguia distinguir se estava ou não; as orelhas eram pequenas e pontudas, puxadas para trás, quase coladas ao corpo; os olhos eram enormes e desproporcionais, duas grandes bolas em tons alaranjados e escuros com uma pupila no meio, como os de um raríssimo tarsier; havia ainda dois cortes entre os olhos e a boca, as narinas da criatura. Tomada pelo terror, tremendo e com o coração a mil, tudo o que a garota conseguiu fazer foram barulhos quase inaudíveis com a boca, como quando se espanta um gato ou um cão.

A criatura chegou bem perto de Brianna, e as mandíbulas se separaram. E o que veio a seguir foi mais assombroso do que uma mordida.

A coisa falou.

— Não tenha medo — a voz era andrógina e gutural ao mesmo tempo. — Minha aparência incomoda você?

Com os olhos arregalados, sem compreender como aquele monstro falara, Brianna não conseguiu esboçar nenhuma reação.

— Sou seu amigo — insistiu o ser fantástico. — Não vou machucar você. Eu vim ajudá-la a encontrar sua mãe.

— Você... você veio me ajudar? — a voz de Brianna não passava de um murmúrio.

— Sim. Vou levar você até o paraíso.

— Mas você...

— Não se engane com minha exterioridade. Sou um demônio, o seu demônio da guarda.

— O que é um demônio?

— É um ser enviado para proteger você, o seu leal servo. Posso fazer o que você me ordenar, menininha.

Brianna tentava acreditar no demônio à sua frente, mas era difícil. De qualquer maneira, não estava mais tão assustada.

— O que eu quiser?

— Sim.

— Eu quero encontrar Hy Brazil. É lá que minha mãe está.

— Será uma longa viagem, mas posso levá-la sim. E protegê-la de todos os perigos.

— Pode me proteger?

— Sim.

— Então por que deixou que me maltratassem esse tempo todo? Eu vi você em meu quarto duas vezes.

— Você não estava preparada. Não era a hora. Mas a partir de agora, ninguém encostará um dedo em você.

Brianna olhou para o teto.

— Tem certeza? Meu tio é muito mal.

— Ele não será um problema. Quer que ele pare de machucar você?

— Quero.

— Quer que eu o faça parar?

— Sim — os olhos de Brianna se encheram de esperança.

— Espere aqui — o demônio andou de ré, sumindo na escuridão.

Brianna ficou imaginando o que o demônio diria a seu tio para convencê-lo a parar de machucá-la.


    


Brianna e o Demônio [completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora