Vinte e seis: Sangue na neve

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Liam corria há vários minutos gritando por Póla e pelas crianças. Estava perdendo muito sangue, estava exausto, quase no limite, mas seu filho recém-nascido estava lá fora, naquela nevasca infernal. Um recém-nascido!

Vira várias pegadas no chão, mas nenhuma delas era de criança. Pessoas deviam ter ido atrás deles, pensou. Devem tê-los encontrado, esperava.

Ouviu um choro.

Correu naquela direção. Viu uma perna atrás de uma árvore. Chegou quase sem fôlego, e quase teve um ataque do coração ao ver a cena.

Póla estava sentada na neve com o bebê no colo. O bebê estava morto, com a pele já arroxeada e acinzentada. Póla chorava.

Liam estava em choque. Deu um passo, outro... então reparou nos fios de cabelo ruivo na moleira do pequeno cadáver. Sentiu a bile na garganta.

— Onde está nosso filho, Póla? Quem é esse cadáver que você segura? Onde está nosso filho?

Póla continuava a chorar.

— Responde, porcaria! Onde está meu filho? Esse moleque... Esse... Esse...

Ficou em silêncio, com uma expressão vazia, contemplando o bebê morto. Até as feições lembravam ele. Lembrou-se de Jeaic lutando para salvá-lo; lembrou-se de toda sua vida juntos. Seu melhor amigo...

Retirou uma faca que carregava em um bolso de sua proteção de couro fervido em óleo. Póla estremeceu, apesar do frio congelante, era de medo.

Os olhos de Liam não estavam cheios de ira, nem de decepção, nem de nada... Seus olhos estavam vazios.

Levou a lâmina ao pescoço e cortou a própria garganta. Caiu sobre a neve, banhando-a com seu sangue. 

Póla gritou.



— Ouviu isso, Brianna? Vem dali!

Owen puxou a menina pelo braço enquanto corriam. Brianna estava cansada, as perninhas doíam, mas estava disposta a acompanhar seu irmão aonde quer que fosse. O frio enregelante era quase insuportável, e não estavam devidamente vestidos para uma nevasca.

Owen parou bruscamente, depois gritou, soltou sua mão e continuou correndo. Brianna percebeu a razão: Liam deitado sobre uma poça de sangue e Póla com o bebê nos braços.

— PAPAI!

Póla colocou o bebê no chão e levantou-se. Agachou-se sobre o corpo de Liam e pegou a faca caída quase embaixo dele. Os meninos se aproximavam. Levantou-se.

— Papai! — gritava Owen às lágrimas. — Papai!

Assim que chegou perto o bastante, a bofetada de Póla acertou-o em cheio, derrubando o garoto desacordado. Brianna parou imediatamente de correr, dando um gritinho de susto.

Póla segurava uma faca.

— É tudo culpa sua! É tudo culpa sua! — o ódio ardia em seus olhos.

Brianna deu um passo trêmulo para trás.

— Senhora Wise... — sua voz saiu num sussurro quase inaudível.

— Desde que você entrou nessa família só desgraças aconteceram, sua putinha! Você é a culpada de tudo! Você!

— Eu não fiz nada... — justificou-se a menina com lágrimas nos olhos, tentando arranjar forças para recuar.

— Você matou meu filho. Você matou meu marido. Você matou Tara. Assassina! — acusou Póla avançando cada vez mais, com os olhos ensandecidos.

Brianna viu a mulher correr em sua direção, brandindo a faca ensangüentada e gritando como um animal furioso.



Brianna e o Demônio [completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora