Nenhum dos dois nunca havia matado qualquer ser humano. A atitude de Póla fora puramente instintiva. Mas não havia como voltar atrás. Jeaic andou em círculos várias vezes com as mãos na cabeça, visivelmente transtornado, enquanto Póla chorava de cócoras ao lado do corpo de Tara.
— O que vamos fazer? Temos que contar aos outros.
Póla levantou-se num salto, fitando Jeaic com uma expressão sombria.
— Ninguém pode saber disso, Jeaic. Ninguém!
— Não somos assassinos, Póla!
— Olhe pra isso! — apontou para o cadáver. — Somos assassinos sim!
— Você a matou.
Ela aproximou-se dele com a expressão ainda mais ameaçadora.
— Preferia que seu melhor amigo descobrisse que o traímos? Como você acha que ele reagiria? O que meu filho iria pensar? Seríamos obrigados a fugir da cidade por causa dos olhares nos culpando.
Jeaic olhava para o chão.
— É tarde demais, Jeaic. Vamos ter de nos livrar dela.
Póla pegou as mãos de Jeaic e as beijou demoradamente.
— Estamos juntos nisso, não estamos?
Jeaic apenas meneou a cabeça.
— Então vamos acabar com isso!
O ruivo arrastou o corpo pelas pernas até o cubículo onde há pouco ele e Póla haviam se amado. Um rasto de sangue desenhou-se sobre a neve alva; Póla arrastava neve para cima do rastro, na tentativa de ocultá-lo. Jeaic retirou os gravetos e tábuas da entrada da alcova, pôs o corpo dentro, depois saiu e tornou a cobri-la.
— Não vai ser o suficiente. Tenho de voltar aqui com uma pá e enterrá-la.
Póla tornou a chorar. Jeaic andou até ela e segurou-a pelos ombros.
— Devemos agir normalmente, entendeu? Do contrário, desconfiarão de nós. Aja como se nada tivesse acontecido, Póla.
Póla enxugou as lágrimas apressadamente.
— Tem razão. Vamos voltar logo ao trabalho — ela tentou dar-lhe um beijo, mas ele recuou.
Ambos seguiram rumos diferentes.
†
Owen e Brianna observavam a agitação na rua. Dezenas de pessoas estavam reunidas munidas de tochas nas mãos. No centro da multidão, estavam Jeaic e Liam, que pareciam selecionar pequenos subgrupos.
— Eles vão procurar a Tara, não vão? — indagou Brianna.
— Vão sim. Ela sumiu de manhã e ninguém sabe pra onde ela foi. A Tríona foi a última a vê-la, disse que ela havia saído do trabalho, mas não disse aonde ia — o garoto falava tentando imprimir uma certa maturidade na voz ao relatar os fatos a Brianna.
Os olhos verdes da menina apenas observavam todas aquelas pessoas separando-se em grupos com seus archotes, indo em direções diversas. Perguntava-se como uma mulher adulta poderia se perder em uma cidade tão pequena.
Na verdade essa pergunta se passava pela cabeça de todos. Tara, mesmo sendo solteira e não devendo satisfação a ninguém, era responsável e nunca fugia do trabalho. Seu desaparecimento repentino fez com que sua amiga Tríona se preocupasse e convencesse aos outros de que havia algo errado. Havia sempre a possibilidade de algum acidente ter ocorrido, principalmente envolvendo animais ferozes, como ursos e lobos.
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Brianna e o Demônio [completo]
FantasyBrianna é a personificação da inocência. Com apenas sete anos de idade, acredita que as pessoas boas quando morrem viram borboletas e vão para o céu, e as ruins viram mariposas e vão para o inferno. Foi sua mãe quem contou a história. Sua mãe que s...