— Toalhas molhadas! Rápido!
Tríona, Seona e Sive estavam desesperadas na casa de Póla. Ela sentia dolorosas contrações e sentia que a criança nasceria antes do tempo.
Owen estava em pânico vendo a mãe gritar de dor no quarto, cercado pelas três mulheres. Seona correra para pegar toalhas e uma bacia com água. Não havia tempo de procurar uma parideira, elas tinham de fazer o parto.
— Pra fora, crianças, os dois! — ordenara Sive.
Brianna nunca havia visto uma criança nascer, mas não imaginava que envolvia tanta dor um nascimento. Foi obrigada a ir com Owen para a sala.
— Papai devia estar aqui... — Owen murmurou trêmulo e apreensivo.
— A Sive já fez partos antes — disse Brianna tentando acalmá-lo. Ouvira algumas conversas sobre aquilo nas muitas reuniões das amigas.
— Mas eu ouvi dizer que ainda não está na hora. Ainda faltam quase dois meses...
Começara pouco depois de Liam partir com os outros. Póla começou a sentir as contrações, e elas só pioraram. Até que a bolsa estourou. Owen foi correndo à casa de Tríona, e lá estava ela com Sive e Seona.
Owen estava nervoso, andando de um lado para o outro, inquieto com o barulho dos gritos de sua mãe. Quis chorar, mas não demonstraria fraqueza na frente de Brianna.
— Por favor, Owen, fique calmo — pediu Brianna com sua doce voz tremendo de inquietação.
— Ela está gritando tanto, Brianna...
No quarto, Seona e Tríona incitavam Póla a fazer força, enquanto Sive tentava retirar o bebê.
— Força, Póla! Força! A criança está saindo!
Ouviu-se um choro de criança. Um sorriso largo de alívio desenhou-se nos olhos de todas; a dor de Póla parecia ter se esvaído.
Mas o sorriso logo se apagou do rosto de Sive quando ela apanhou o menino nos braços e cortou-lhe o cordão umbilical. Tríona e Seona também perceberam a razão daquela expressão no rosto de Sive. Todas olharam para Póla. Ninguém mais sorria.
Então Póla viu.
— Não! Não! Não!
Enterrou o rosto nas mãos enquanto gritava em desespero. O horror a dominou como veneno de cobra. Batidas fortes na porta.
— Mamãe! Mamãe! O que está acontecendo? — era a voz de Owen em pânico.
A criança estava com a pele avermelhada, repleta de lanugo, uma pelugem finíssima, própria de bebês prematuros. Mas isso era normal para crianças que nascem antes da hora. Não fora isso que surpreendera as três mulheres e desesperara Póla.
Foram seus cabelos.
Cabelinhos ruivos encharcados de líquido amniótico.
Póla e Liam tinham madeixas loiras. Não foi difícil chegar a uma dedução lógica.
— Póla... Você e Jeaic... — começara Tríona, com os olhos ainda arregalados.
Os traços no rosto prematuro também lembravam Jeaic.
— Oh, meu Deus! Isso não pode estar acontecendo! Nós terminamos com isso há muito tempo... Oh meu Deus... — olhou para as três e sua voz encheu-se de ira. — Parem de me olhar assim! Parem! Me entregue essa criança!
Sive colocou o menino nos braços de Póla.
As batidas na porta eram incessantes.
— Mamãe! Abram a porta!
— Deixem-se sozinha com a criança — Póla falou com uma voz penosa.
— Póla, você...
— Agora! — o grito muito próximo à criança a fez chorar ainda mais.
As três se entreolharam, procurando apoio umas nas outras. Não tiveram outra alternativa, saíra do quarto, e trancaram-no antes que Owen pudesse entrar.
— O que estão fazendo? Deixem-me entrar, quero ver minha mãe! O que houve com ela?
Brianna estava com os bracinhos unidos em frente à boca.
— Póla está bem, Owen. O bebê também — a voz de Tríona saíra tão vacilante que ela mesma notou o quanto parecia uma mentira, embora não fosse de todo.
— Eu quero vê-la! — insistiu o garoto esmurrando a porta, exigindo que lhe entregassem a chave.
Sive olhou para Seona, depois para Tríona.
— O que Liam fará quando descobrir? — perguntou ignorando Owen.
— Descobrir o quê? Ei, olhem pra mim! Respondam-me, o que houve de errado?
Seona estava trêmula. O quarto estava quieto demais. Não se ouvia mais o choro de criança. Um assombroso calafrio tomou conta de seu ser, quase ao mesmo tempo em que suas amigas também chegavam à mesma conclusão medonha.
Sive destrancou a porta às pressas e a empurrou com força.
O quarto estava vazio. A janela estava aberta.
Um vento frio entrou pela janela, prenunciando uma nevasca que logo começou a cair.
†
Oh meu Deus! O que ela vai fazer no frio com a criança???
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Brianna e o Demônio [completo]
FantasyBrianna é a personificação da inocência. Com apenas sete anos de idade, acredita que as pessoas boas quando morrem viram borboletas e vão para o céu, e as ruins viram mariposas e vão para o inferno. Foi sua mãe quem contou a história. Sua mãe que s...