Capítulo dois 💠

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É tarde da noite de uma sexta-feira e eu já deveria estar dormindo. Amanhã eu tenho treino bem cedo e ás sete eu estarei embarcando em um avião para ir à uma das nossas filiais em São Paulo. Meus irmãos estão desconfiando que alguém de lá esteja desviando dinheiro da empresa para uma conta no exterior, o que significa que terei de passar alguns dias fora. O problema é que desde a minha briga com Lídia na semana passada, que eu não tenho conseguido pregar o olho durante a noite.

   Dizer que eu me sinto magoada é pouco, mas o que mais me dói e saber que talvez ela tenha razão. Talvez eu tenha me afastado tanto da minha família por conta do meu trabalho, que talvez seja irreversível.

   Por isso, depois de virar e me revirar na cama por horas, eu desisti do sono e chamei minha melhor amiga e chefe de um dos melhores restaurantes já avaliados pela revista Foco&Reparo e pelos jornais do Rio de Janeiro, Bruna. Por que é isso que uma pessoa normal faz quando está com insônia.

   Bruna é praticamente um milagre, ela foi um bebê muito planejado e esperado. Depois de várias tentativas fracassadas e outras que deram em abortos espontâneos, sua mãe finalmente conseguiu tê-la aos trinta e sete anos de idade.

   Ela praticamente mora aqui em casa agora. Faz pouco tempo que ela perdeu os pais, eles estavam bem velhinhos e por isso, isso não parece afetá-la muito. Ela sabe que ela foi a maior conquista na vida deles. Porém ela não faz a mínima ideia de como é viver sozinha. Uma vez ela teve que ir um semana toda colorida para o trabalho por que não sabia que não se pode misturar roupa branca com colorida. Antes disso ela nem se quer sabia como se ligava uma máquina de lavar. Ela poderia muito bem contratar uma empregada mas ela diz que ainda não está "pronta" pra isso.

   Pedi a ela para parar na pizzaria que Oliver, motorista dos meus irmãos, indicasse e viesse com a pizza para uma maratona de Suits (nossa série preferida!) na Netflix.

   A campainha toca no momento em que eu havia acabado de sentar no meu sofá-cama. Gemo frustrada, pausando o episódio de 'How i met your monther' e vou até a porta. Assim que a abro, o rosto fino com a cabeça que parece ter o formato de um morango, combinado com um cabelo negro em chanel e os olhos cor whisky da minha melhor amiga aparecem no meu campo de visão. Abro passagem para ela entrar e em seguida fecho a porta.

   — Oi! O drácula ligou, ele disse que quer a casa dele de volta — ironiza ao entrar.

   — Há-há. Muito engraçado. Cadê minha pizza? — vou direto ao ponto, inspecionando suas mãos.

   Ela retira o sobretudo e começa a caminhar em direção ao meu mini bar.

   — Essas suas cortinas ainda me dão, barra, estão me dando, calafrios. Homicídio totalmente culposo contra a moda, baby. Já pensou em um dourado? Séria bem melhor que esse cinza estranho — ela me ignora.

  — Não é cinza, é um brasão p400 — resmungo.

   — Isso nem é uma cor de verdade — desvia os olhos.

   Toda vez em que ela está aqui é a mesma coisa. A grande questão é que eu sou fã de um pretinho básico e um vinho. Quase todo meu apartamento é compactado em cores escuras e neutras. Já Bruna prefere cores claras e alegres.

   — Pizza, vamos falar de pizza — digo, abrindo o frigobar e pegando o vinho que eu coloquei pra gelar mais cedo. — Trouxe de que sabor?

   Saca rolhas. Onde eu coloquei o saca rolhas mesmo?

   — Nossa mulher, baixou a Elsa em você? Que frieza é essa. Sim, eu estou muito bem e você? — dramatiza, enquanto pega algo no armário. — Hoje em dia não tá fácil ser uma amiga tão boa e prestativa assim não. Você não sabe de tudo o que eu passei para chegar até aqui. Eu, uma mulher indefesa, andando por essas ruas perigosas só pra te fazer companhia e isso é tudo o que eu ganho; você se importando mais com uma pizza do que comigo. rolo os olhos.

Minha estrela particularOnde histórias criam vida. Descubra agora