Capítulo quatro 💠

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  Corro, o mais rápido que eu posso aguentar neste momento, as normalmente agitadas ruas de São Paulo, agora perecem totalmente inofensivas. Tenho "faded" do Alan Walker, tocando no volume máximo nos meus fones de ouvido.

  Eu posso sentir meu corpo exausto e implorando por descanso, porém minha mente se recusa a me deixar parar. Posso senti-la trabalhando a todo vapor.

  Corre.

  Respira.

  Diminuí.

  Aumenta.

  Corre mais rápido. 

  Qualquer coisa parece estar funcionando como combustível, para me distrair dos pensamentos autodestrutivos que parecem estar vindo a mais de mil por hora. A verdade é que a visita da minha mãe ontem a tarde mexeu muito comigo. De uma maneira que não era para ter acontecido.

  Eu preciso de controle. Controle e foco é o que me mantém em pé. Sem eles...

  " — Isabel querida, você precisa se acalmar — a voz da minha avó Eunice, invade o meu quarto por trás da porta, enquanto soluços e lágrimas brotam de dentro mim.

  — Eu não quero voltar pra lá! Por que vocês não me ouvem?! Argh, eu odeio todo mundo! — choro. — Vocês não conseguem ver o que eles estão fazendo comigo?! — sinto meu corpo estremecer. — Vocês são cegos ou só gostam de me ver sofrer?!

  Meu corpo doí, meu coração dói, mas acima de tudo, é o medo que está me fazendo desmoronar. Cada dia é uma tortura. Eu não suporto mais tanta coisa ruim acontecendo ao mesmo tempo."

  Paro de correr. Ofegante, arranco os fones e inspiro profundamente.

  Não pense, não sinta.

  " — Eu não sei o que está havendo com ela, Benedito. Ela sempre foi uma menina tão tranquila. Estou começando a pensar que isso não é só uma fase — escuto atrás da parede, mamãe reclamar, preocupada à papai.

  Já faz duas semanas que venho tentando convencê-los a me trocar de colégio. Eu não quero dizer a eles o que está acontecendo, eles não entenderiam. Mas está sendo tão difícil.

  — Aquele é um ótimo colégio, não vou tirá-la de lá só por que ela está tendo alguns problemas de socialização. Todo adolescente é assim. Logo, logo, isso estará acabado, você vai ver."

  Se acalma, se acalma. Está tudo bem, já passou. Você está segura agora.

  Respira, só respire.

  — Você está sentindo-se bem? Precisa de alguma ajuda? — Uma mão feminina toca delicadamente o meu braço.

  Pisco, meio confusa, finalmente liberta dos meus delírios.

  Olho para atrás, para encarar uma mulher de estatura baixa, cabelos lisos; finos, ruivos como a parte de dentro de um figo.

  Seus olhos de cor âmbar me relembram alguém.

  São realmente olhos incríveis.

  — Não — ela me olha preocupada. — Quero dizer, eu estou bem; não estou precisando de ajuda. Está tudo sob controle, foi só... — mordo o lábio inferior, me sentindo ansiosa; pense, pense  — ...uma tonteira, é isso, acho que minha pressão baixou por causa da corrida, entende? Posso ter exagerado um pouco. — minto com um sorriso.

  Ela me encara, os olhos âmbar me avaliando rapidamente e... sorri.

  — É claro, eu entendo. Quando não estou tomando conta do J.J aqui — olho para o carrinho de bebê que até agora eu não havia notado que ela estava empurrando —, ás vezes eu saio para correr um pouco; mas é importante sempre ter cuidado com nosso corpo.

Minha estrela particularOnde histórias criam vida. Descubra agora