— Obrigada — agradeço a minha secretária, René, quando ela coloca meu café em cima da mesa.
— A senhora deseja mais alguma coisa?
— Não, só me avise quando houver ligado para senhor Nascimento.
— Com licença — despede-se, antes de se retirar.
Hoje eu cheguei cedo. Não consegui dormir muito bem à noite. Fiquei surpresa que o motivo da minha insônia foi por causa da minha briga com Bernardo e não por causa de Vicente, como imaginei que aconteceria.
Eu achei que assim que eu tivesse algum tempo para pensar, eu cairia novamente na escuridão. Mas não fora assim. Eu chegara em casa, mentalmente exausta e me corroendo de raiva de Bernardo. Em seguida, fizera o que já venho fazendo a um bom tempo. Encarei meu telefone. Por uns bons 15 minutos. Aquela vozinha carente no fundo do meu coração implorando que ele tocasse. Mas ele não tocou. Não por causa da pessoa que eu esperava que ligasse.
Eu sei que eu tenho em minhas mãos o poder de fazê-lo tocar, eu poderia me desculpar com ela e nós voltaríamos a ser como antes. Mas a questão é, eu estou preparada para que ela saiba de tudo? Para reação dela? Será que ela ainda me veria da mesma maneira se soubesse? Ou me condenaria, como haviam feito todos os outros?
Eu já sei a resposta, afinal ela é humana. E também sei que eu prefiro viver sem sua companhia, mas sabendo que ainda tenho seu respeito, do que viver sem a sua companhia, sabendo que eu tenho seu desprezo.
Me sentindo um pouco mais melancólica, pego o café, sentindo sua quentura mas que bem vinda aquecer minhas mãos frias e me viro, encarando pela parede de vidro, o tráfico da Barra da Tijuca lá embaixo. Essa imagem me lembra de quando eu era criança e morava em São Paulo, a primeira vez que eu visitei o trabalho do meu pai. Eu ficara deslumbrada. Realmente, nossa filial em São Paulo era algo para se babar.
No dia das profissões na minha escola, eu sempre ficava meio apreensiva. Dizer que o meu pai era um CEO e muito, muito rico, não era tão interessante quando a mãe cientista, o pai que era dono de uma emissora de TV, ou a mão estilista que vivia em Paris. Mas eu me virava bem. Uma coisa que eu sei, é que eu sempre tive orgulho do meu pai.
Pego-me abrindo um meio sorriso na caneca.
Papai.
Há quanto tempo eu não paro para pensar nisso? Andei bloqueando tantas memórias por tantos anos, que ás vezes, eu esqueço que eu já tinha sido... feliz. Normal.
Viro-me novamente, ligando o monitor. Hora de trabalhar.
💠
— Há que horas o senhor Nascimento informou que estaria aqui, mesmo? — pergunto a René pelo interfone, um pouco antes da hora do almoço.
— Ás onze e meia senhora.
— Obrigada René, era só isso — desligo e suspiro.
Talvez eu devesse procurar um médico. Bipolaridade é uma doença, não é?
Mas eu acho que isso está mas para loucura. Porque eu posso ter ficado louca. Louquinha.
Há alguns dias atrás eu evita lembrar de Vicente como se ele fosse a própria imagem do capeta. E agora eu, isso aí, eu mesma, a que pessoa que o havia tentado expulsá-lo daqui a pontapés, o chamei para voltar.
Por quê? Porque eu estou ficando louca!
A verdade, quando eu cheguei em casa e percebi que aquele beijo não havia despertado nenhuma lembrança. Eu... repensei.
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Minha estrela particular
RomanceEste livro possuí e-book, veja! Isabel Montenegro não quer um relacionamento. Ela foge deles como se fossem doenças contagiosas. Tudo o que ela quer e precisa, é de um pouco mais de tempo para se dedicar a sua família; mas como ela pode conseguir...