💠 Capítulo sete

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  Não me lembro de muita coisa desde que saímos da boate. Eu sei que Bruna me levou para o carro e de algum jeito me colocou no banco de trás. A lembrança de estar usando um sinto de segurança era vivida em minha mente, mas como isso aconteceu, era a grande questão. Mas pequenos detalhes aparentemente inúteisou talvez nem tanto assim o meu cérebro de bêbada conseguiu registrar. Como o fato das mãos de Bruna estarem tensionadas controladamente sobre o volante, as suas sobrancelhas franzidas, com aquele pequeno "v" se formando bem no meio da sua testa, de uma maneira quase cômica — fofa, até. As bochechas meio coradas, o jeito como a sua boca se mexia de uma forma estranha, que era como se ela quisesse dizer urgentemente algo, mas parava antes que a frase pudesse sair. Pude observar sua testa úmida de suor, indicação de que ela estava nervosa; o jeito em que os seus olhos estavam vidrados na estrada, como se ela se recusasse a olhar para outra coisa que não fosse cimento. Naquela hora, aquilo era fascinante e incômodo

  — Você me assusta menos quando está tagarelando sem parar. — Lembro de ter zombado.

  Lembro também que ela não respondeu.

  Sei que, na hora de subir para cobertura, ela teve de pedir ajuda a seu Rebecco, o porteiro de plantão, mas conhecido por mim como o senhor da meia-noite. Eu sei que estava meio que  cambaleante e murmurando coisas sobre cavalos dançantes em discotecasou algo assim. Mas, antes que eu apagasse de vez, não sei bem em que lugar, eu me lembro de ter visto uma reflexo no espelho. Talvez fosse só neurose minha, mas os seus cabelos vermelhos como a parte de dentro de um figo e os olhos cor de mel, em um tom realmente incrível e raro, me chamou a atenção, por que eles me lembravam dos olhos de Vicente e sem saber por que, eu sorri. Descobrindo uma coisa que eu provavelmente nunca irei me lembrar.

💠

  Quando eu acordei, estava escuro. O lugar que eu ainda não havia identificado como o meu quarto, estava em completo breu, a não ser por uns números piscando em um vermelho borrado ao meu lado. Fixei minha visão naquele borro, finalmente focando, para notar que eles formavam números:

  3:14 AM.

  Gemi.

  Não por ter acordado no meio da madrugada desorientada, mas pelo cheiro incômodo de vômito que vinha de mim e pela dor latejante na minha cabeça. Quando eu finalmente consegui identificando o local como o meu quarto, eu acendi o abajur, na minha segunda mesinha de cabeceira. Mas não ajudou muita coisa. A decoração cheia de cores escuras, deixava meu quarto muito sombrio. Tentei organizar meus pensamentos, tentando entender o que havia acontecido comigo na última hora e por que parecia que um caminhão havia passado por cima de mim. Mas isso só fez minha cabeça doer mais ainda, então eu deixei para lá.

  Tentei levantar, uma pequena onde de vertigem me atingiu, nada muito grave. Não foi o suficiente para me fazer voltar para cama. Porém, um vulto, perto da janela fechada aonde uma luz fraca prateada, da lua, entrava iluminando menos de um terço da escuridão, me chamou a atenção. Não pensei em nada como gritar, pegar uma arma, ir para quarto do pânico ou chamar a polícia. Não sabia o por quê, mas sabia que eu não precisava ter medo do que quer estivesse ali. Me aproximei mais, até encontrar o rosto sereno de Bruna dormindo toda encolhida no meu sofá. As sobrancelhas franzidas, os olhos apertados e os lábios em uma linha dura. Quando ela estava chateada, até dormir, ela dormia zangada. Senti de vontade de rir, minha dor de cabeça de repente esquecida pela visão da minha melhor no meu apartamento.

Minha estrela particularOnde histórias criam vida. Descubra agora