💠 Capítulo três

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Enquanto a mulher continua a tagarelar sobre como é importante se prevenir e sempre conferir com os advogados se a empresa em que estamos investindo é mesmo real e confiante e blá, blá, blá... o golpe da empresa falsa não é brincadeira e blá, blá, blá... Imagino que eu não esteja com as melhores das expressões já que os demais integrantes da mesa não param de me lançar olhares furtivos vez ou outra.

A morena siliconada devia ser gerente do terceiro ou quarto departamento do segundo andar.

Devia.

Eu não errei. Depois das reclamações que eu farei sobre ela, duvido que ela continue trabalhando aqui ou que consiga emprego em qualquer outra empresa de grande porte. A fênix & Filhos Empreendimentos só oferece o melhor e essa biscate está bem abaixo do nosso nível de aceitável.

E verdade seja dita, nós somos uma das cem empresas mas seguras do país. Você precisa ser muito idiota ou muito, muito confiante, para tentar roubar uma empresa como a nossa. E mesmo que você conseguisse, pegaríamos você antes mesmo que pudesse dizer: "se ferram, otários!".

- Bom... - a voz de Geraldo, gerente desta filial, me retira dos meus pensamentos e eu me sinto mais do que agradecida. - Acho que podemos dar essa reunião por encerrada. Um bom dia a todos!

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- Senhora Montenegro? - a voz da minha secretária temporária Lúcia ou Leslie, sei lá, soa pelo telefone.

- Hum...?

- A dona Eugênia Montenegro está aqui para vê-la, senhora - anuncia.

Coloco o computador em modo de descanso, após salvar o relatório que eu estava escrevendo para enviar a Bernardo.

Meu coração se acelera e um medo estranho e desconhecido toma conta de mim.

- Maria Eugênia Ribeiro Montenegro? - replico, a testa franzida.

Por favor não seja ela.

Por favor não seja ela.

Mas quem mais seria?

- Sim senhora. Posso deixá-la entrar? - pergunta, agora parecendo meio hesitante.

O que mamãe estaria fazendo aqui? Como ela soube?

MEU DEUS!

Não está na hora de surtos Isabel, se controle, você é uma mulher adulta.

Sinto minhas mãos ficarem suadas e geladas. É como se eu tivesse nove anos novamente e houvesse feito alguma travessura.

- Pode - sussurro, tentado parecer o mais firme possível.

Poucos segundos depois, minha mãe entra apoiada em uma bengala. Ela parece elegante e ao mesmo imponente. Está muito bem vestida com esse terninho xadrez em preto e branco que realça os seus olhos negros como carvão e sua pele cor de chocolate ao leite.

Desabotoo o único botão do meu terninho azul marinho e me levanto para cumprimentá-la.

Mamãe não deveria estar aqui.

Se acalma.

Mamãe não deveria estar aqui!

Se controle.

Ela acabou de fazer uma cirurgia na perna!

Ela é sua prioridade agora.

- Mamãe... - ela levanta a mão; eu me calo na mesma hora, murchando mais rápido que flor no deserto.

Minha estrela particularOnde histórias criam vida. Descubra agora