Capítulo 1

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Boa leitura 😘

...

     Aquilo era apavorante, os olhos caramelos da menina transbordando pavor e principalmente arrependimento por ter deixado seus irmãos para trás. Sim, pode ter ocorrido há uma semana, mas parece que foi hoje há poucas horas.
     Morte. Essa palavra já tem um peso por si só, mas atrelada a culpa pessoal, o peso se multiplica. A partir do momento que Alice correu desesperada aprendeu que a vida toma rumos impiedosos.
     - Tia, minha família! Todos eles! -Ela estava assustada e esses dias foram cansativos, fazendo o peso cair inteiramente sobre Alice. A linda jovem de dezessete anos agora aparenta uns trinta, seus cabelos estavam muito ilinhados, seus olhos estavam fundos e sua boca extremamente ressecada, o que reforça ainda mais a hipótese dela não ter dormido a noite passada.
     - Ei, você tem que comer e principalmente tirar essa cara de choro, se não como vai ir a delegacia falar com o delegado Wilbert? Ele quer ver você às duas horas, já são onze horas e você ainda deitada. - A senhora se levanta da cama e vai em direção à janela abrindo totalmente as cortinas, fazendo assim toda a luz do sol bater no rosto pálido de Alice.
     - Tia... - disse Alice emitindo um ruído que mais parecia com frustação.
     - Ande, levante dessa cama, parece uma criança de cinco anos. Pare de birra e vai já para o banheiro! - Ela foi relutantemente enquanto sua tia deixava o quarto. Entrou no banheiro e olhou para o espelho que estava a sua frente. "Estou realmente horrível", pensou.
     A menina ficou minuto após minuto olhando sua face que tinha uma expressão cansada, enquanto segurava firmemente a borda do lavatório. Após retirar as mãos do lavabo pode  perceber o quão branca estavam as pontas de seus dedos.
     Se despiu completamente e entrou no box, deixou que a água carregasse o que de triste tinha nela ficando apenas um buraco oco e vazio.
     - Anda Alice, está na hora! - ela desliga o chuveiro, pega a toalha e sai do box; vai à pequena bolsa que está ao lado da cama de solteiro, pega uma muda de roupa para vestir, sai do quarto sem falar nada e se direciona a sala.
     O dia estava nublado, mas nada de chuva; a delegacia era a dois quarteirões da casa de sua tia, então nem precisaria pagar um táxi. Uma rua antes de chegar ao seu destino, seu pequeno telefone vibra, mostrando que a mesma recebeu uma mensagem. Ela pega-o e visualiza o SMS que dizia...

"Bom, isso não sairá impune ou você acha mesmo que uma simples visita à policia irá mudar tudo? Sei todos os seus passos e não adianta se esconder. Seu pai está aqui me fazendo companhia e você será a próxima anjo.
Assinado: P."

     A menina paralisou olhou de um lado pro outro, porém não viu nada e nem ninguém ao seu redor, apenas o barulho forte do vento batia em seus cabelos. Com muito medo sai correndo no meio da rua, parando  apenas na escadaria da delegacia, se curvou apoiando os braços nas pernas; estava totalmente ofegante. Começou a encarar as grandes portas duplas que estavam abertas e entrou. Dando um suspiro, parou em frente ao balcão onde tinha uma moça que mal a olhou.
     - O Sr. Wilbert à espera na sala três.
     Já mais calma a menina vai seguindo o enorme corredor e observando todos que estavam ali, desde a mulher que gritava no telefone até um moço alto que estava bebendo água.
     - Alice! - Era o delegado que a chamava com uma voz bem grossa. Ao olhar para trás viu o Sr. Wilbert limpando sua mão de gordura na farda.
     - Oi...
     - Venha, entre em minha sala. - Os dois adentraram no escritório e o delegado conduziu ela a cadeira.
     - Primeiramente quero saber seu depoimento. Aquele ali no fundo é Charlie nosso escrivão, e fora isso temos algumas novidades.
     - Você já coletou meu depoimento semana passada! - Ela afirmou.
     A sala tinha ar de filme de detetive. Havia pouca luz; o escrivão estava no canto da sala e o ar condicionado era de péssima qualidade. Vira e meche ele dava aquelas tossidas e tirando aquele forte cheiro de mofo, só faltava o delegado Wilbert interpretar o papel do próprio Sherlock Holmes.
     - Não seja tão pessimista. Queremos saber de novos fatos, se aconteceu algo novo que gostaria de nos relatar.
     Ela até poderia falar sobre o SMS,
mas em vez de falar, continuou a olhar por toda extensão da sala; sua perna dava um pequeno sinal de ansiedade juntamente com a respiração rápida e o roer das unhas, voltou a encarar o delegado que estava incomodado com o barulho dos sapatos com encontro ao chão de madeira, então ela continua a falar:
     - Bom seu delegado, nesse momento não lembro de nada, mas o que podemos fazer é você falar as horríveis novidades do meu caso, aí se vier algo na minha mente que me lembre algo eu falo.
     Wilbert apenas olhou para a moça que estava muito ansiosa e disse:
     - Isso faz sentido. Como você sabe o caso ocorreu dia sete de julho da semana passada, numa sexta-feira aproximadamente no horário de dez para as onze.
     Ela o fitou e falou:
     - Na verdade foi aproximadamente dez e meia. -  Ela estava com um ar de desinteresse.
     - Enfim, que seja, entrou...
     - Antecipe delegado! Essa parte eu já sei. Vá direto para as novidades! - Ela já estava ansiosa e para ajudar o delegado planejava contar o caso todo.
     - Como quiser! Após a longa investigação chegamos a conclusão que supostamente seu pai não esteja morto, pois nenhum dos corpos que se encontravam na casa era de seu pai e tirando o fato que tinha sangue de todos, exceto o do senhor Izzak, e  você falou que apenas viu eles arrastando seu pai e não fazendo tortura corporal, o que pode ter acontecido naquele dia foi um acerto de contas: seu pai fez algo que pode ter levado alguém a uma grande fúria.
     - Meu pai está vivo? - Disse a menina esbanjando um sorriso no rosto e com lágrimas nos olhos.
     - Não posso afirmar que seu pai está vivo porque...
     - Você não pode, mas eu tenho algo que pode afirmar que ele esteja.
     O delegado a olhou e falou imediatamente:
     - Diga logo Alice o que você tem aí!
     - Bom, hoje de manhã eu recebi um SMS privado apenas assinado como P. e bem, ele estava me ameaçando, mas garantindo que por enquanto meu pai esta vivo.
     Se remechendo na cadeira, ela ía tentando pegar o celular que se encontrava no bolso de trás da sua calça. Desbloqueou-o na frente do delegado que estava a sua frente e colocou na mensagem.

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