A PREGAÇÃO

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Quer ouvir a história de duas meninas doidas que eu conheci na internet? Elas entravam com nicks de Lindinh@ e Florzinh@. Bom, sabe como é, duras que nem coco, resolveram juntar as economias R$ 50,00 para comprar calcinhas para revender. As duas moram em Japeri e resolveram ir de trem para a cidade. Para tanto, pegaram só o dinheiro da passagem de ida e foram. O dinheiro da volta, tirariam do troco das calcinhas (sem duplo sentido). Entraram no trem vestidas com uniforme colegial. Duas cavalas de um metro e oitenta de Maria Chiquinha, mochila nas costas e emblema da escola pública, quase não estavam chamando atenção. Destino, centro do Rio de Janeiro, Saara, tradicional mercado popular. O trem mais parecia sucata de ferro velho e trepidava mais que moto escavadeira. Por fim, chegaram a Central do Brasil e logo depois ao Saara. Entraram na loja e toca a escolher calcinha, separa calcinha, troca calcinha e na hora de pagar pelas calcinhas. Cadê o dinheiro? Florzinha tinha esquecido o dinheiro em casa na cômoda do quarto. Liga para mãe para ir levar, a mãe não atendeu. Liga para o pai, esporro por telefone, meia dúzia de palavrões e o telefone desligado na cara. O que fazer? Bom, melhor voltar para casa. Mas com que dinheiro? Florzinh@ propôs pedir carona no ônibus, Lindinh@ pedir dinheiro na rua. Discutiram e Florzinh@ saiu batendo a perna indignada e sumiu no meio da multidão da Rua da Alfândega. Lindinh@ sozinha resolveu pedir dinheiro, mas quem ia dar dinheiro para aquela cavala loira e bonita, dizendo que tinha perdido o dinheiro? Ninguém. Ela então resolveu mudar a técnica, teve a brilhante ideia de dizer que tinha sido roubada. Entrou em um bar e contou a história triste, quase chorando. Um policial a paisana se identificou, em dois minutos parou uma patrulhinha e a obrigou a ir para a delegacia dar parte. Ela pensou: " vou para a delegacia descrevo um ladrão fictício, ganho o dinheiro da passagem e volto para casa. " Enganou-se. Além de ter passado mais de três horas na delegacia de molho, depois de liberada foi colocada no trem de volta. Como não entendia nada de trem, ficou no pior vagão da composição, onde só tinha barra pesada. Um monte de mau encarados começaram a olhar para ela com a mesma cara que o lobo mal olhava para a chapeuzinho vermelho. Também pudera, sainha de colegial curtinha e uns tremendos coxões. Tinha até um afro brasileiro babando no canto do vagão. Ela pensou to literalmente f... Teve uma ideia, pegou a agenda de capa preta dentro da mochila e começou a pregar. Quando chegou a Japeri, já tinha convertido dois traficantes, três ladrões, dois tarados e um viado, que já estava até falando grosso. Sem contar uma velhinha completamente senil que gritava o tempo todo, eu aceito, eu aceito e dava pulinhos. Para completar ainda arrecadou mais de R$ 50,00 para obras da igreja. Quando chegou em casa, quase as dez da noite, ainda entrou na porrada do pai, porque deixou a irmãzinha voltar para casa sozinha.

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