A MISSA

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Vocês não vão acreditar na missa de sétimo dia que eu tive que comparecer.

Era a missa de sétimo dia da minha vizinha, uma beata chamada Dona Eucaristia, que era conhecida como Dona Pequenina.

Vou contar a missa, porque até hoje nem eu acredito.

Fomos eu, sincero quarenta e uns e Cassinha Niterói. Um horror. Primeiro porque Dona Eucaristia era uma beata de dar dó. Vivia na igreja cochichando com as outras beatas e falando mal do alheio, além de frequentar o terreiro de tia Minervina. Na tenda espírita tomava passe e na igreja tomava hóstia.

Entramos na igreja e o que chamou logo a nossa atenção foi o padre, que além de celebrar a missa em latim, quando virava de costas para igreja e de frente para o altar, era uma gargalhada só. Também pudera, o velho toda vez que virava de costas mostrava a ponta da batina presa na cueca samba canção, com meia nesga de bunda branca aparecendo. Na parte de trás da cueca estava escrito, o senhor é meu pastor é uma imagem de santo expedito, além de uma tira de papel higiênico pendurada, que parecia um rabo. Todo mundo ria e ninguém avisava ao pobre. Teve uma hora, que ele virou e começou a dar esporro na beatada em latim. Ele deve ter xingado muita gente. O surpreendente, é que a missa era de sétimo dia e com corpo presente. É isso mesmo, a defunta estava lá em carne e osso e fedia mais que entrada de depósito de lixo.

Num determinado momento, entrou um garotinho com um troço na mão, que eu tinha visto no centro da tia Minervina, vestido de miniatura de padre e fumaçando tudo. E toca a jogar fumaça em cima da defunta. Uma velhinha que estava na última fila, acordou de um cochilo, se assustou com a fumaça e gritou.

—Fogo, fogo.

O pior não foi isso. Tinha uma bicha do lado da velhinha, que quando o garoto passou, chamou-o e falou:

— Olha só biba mirim, adorei o teu modelito, mas acho que a tua bolsinha ta pegando fogo.

Ohhhhhhhhhh bicha ignorante e ainda falava do padre para a bicha do lado.

—Olha só que acinte, com aquela perna branca o traveco lá da frente ainda fica mostrando a bunda.

Isso já era demais. Chamar o padre de traveco era a maior falta de respeito. Sem contar que começou o falatório. Só se ouvia um cochicho generalizado. Aí uma senhora da fila da frente falou: - Acho que da Dona Eucaristia está ficando estragada.

Aí o garotinho falou em voz alta:

—Que nada mãe, foi o pai que peidou de novo.

Nós três na missa e o fedor insuportável e para piorar resolveram colocar perfume no caixão. Até agora eu não sei o que era pior, a fumaceira ou o cheiro de perfume barato.

Começaram a notar que alguma coisa de errado estava acontecendo com dona Eucaristia, a defunta. Ai o mesmo garotinho do peido soltou outra perola:

—Pai, eu acho que a Dona Eucaristia não ta gostando muito da missa, porque o pé dela já tá indo embora sem ela.

Isso porque, o pé da defunta caiu do caixão.

O garoto tomou "um pedala Robinho" do pai e o filho dela muito sem graça, emendou:

— Mamãe sempre foi assim inquieta, nunca gostou de esperar.

Conclusão da história. Começou a juntar mosca em cima do caixão. Toca todo mundo a desmaiar, Cassinha passando mal e por fim levaram Dona Eucaristia com banho de creolina e tudo para o túmulo em Mesquita. ahhhhhhhhhh, esqueci de dizer, a missa foi em Japeri.

Histórias que Ninguém ContaOnde histórias criam vida. Descubra agora