Encontrei o Hilário subindo a rua e ele fez questão de parar.
—Tudo bem Hilário? Como foi o encontro com a Valquíria?
—Valesca seu Paulo e deu tudo errado.
Nem queria imaginar o que poderia ter dado errado, o que dirá saber o que deu errado, mas...
—O que houve?
—Eu passei uma água de cheiro, coloquei uma Korova nova, lógico que imitação, escovei três vezes a boca com destrificio que comprei, mandei uma bala Halze para dentro da boca, aquela preta que arde até o fiofó e fui encontrar a princesa.Tava todo feliz até que dois carcarás sanguinolentos me interpelaram e me avisaram do assalto. Nem tive tempo de reagir seu Paulo.
Não pude deixar de demonstrar minha surpresa e ele continuou.
—Fui assaltado e sofri abuso sexual...
Não pude me conter.
—Eles ...em você?
—Calma seu Paulo, assim também não. Sofri abuso e não estrupo.
Não pude deixar de rir e ele continuou:
—Os caras além de roubar a moto, ainda levaram todos os meus pertences até o patuá que ganhei no terreiro de tia Minervina eles levaram. Não contente um deles começou a me revistar e encheu a mão com o pequeno guerreiro e não soltava. Eu falei pro cara: "Meu irmão tu ta segurando o coisinha". E ele respondeu: "To vendo se tem arma". E só soltou quando o companheiro de crime gritou: "Zé Patola vamos embora antes que os meganhas cheguem". Seu Paulo ele encheu a mão com gosto. Tanto ladrão para me roubar no Rio de Janeiro e é o Zé Patola que me rouba. Assim já é demais.
Interrompi e falei:
—Ainda bem que eles não fizeram nada pior...
Não pude deixar de rir quando falei isso e continuei:
—E to vendo que te devolveram a moto.
Ele cortou a minha fala:
—Devolveram nada.
—Mas você está com a moto.
—Seu Paulo. Sou moto taxista, conheço muita gente. Depois de muitos contatos, ficou combinado que me devolveriam a moto em troca de mil reais. Eu só tinha cem para perder e tentei com os meus amigos para que me devolvessem a moto sem que eu pagasse nada. To vindo de lá onde fui pegar a moto.
O interrompi:
—Viu como é bom ter amigos. Pelo que vejo pegou a moto sem precisar pagar.
Ele deu uma gargalhada e continuou:
—O contato foi marcado numa oficina mecânica onde o dono do morro e contrabandista trabalhava como mecânico. Olha como nos enganamos com as pessoas, sou cliente do cara a anos...
Fui obrigado a concordar:
—Hilário. Quem vê cara não vê coração. Você consertava a moto com ele?
—Não seu Paulo. Cansei de comprar perfume importado com ele e nem sabia que ele era mecânico.
Não pude deixar de rir e ele continuou:
—Depois de muita conversa o cara falou: "Como tu é meu cliente há anos e já comprou muito "azzaro" vou quebrar teu galho. Quanto tu tem para perder"? Eu na mesma hora respondi que nada. "O cara fechou a cara e falou:" Assim não dá parceiro. O rapaz trabalhou e merece receber. Pelo menos cenzinho tem que rolar". Tirei os cem reais do bolso e ele mandou me entregar a moto. Como se não bastasse ainda falou: "Vê se tem mais cuidado daqui para frente. "Vê por onde anda, a cidade está muito perigosa".
Não pude deixar de rir e falei:
—E a Veronica?
—Valesca seu Paulo. Estou indo lá agora.
Subiu na moto e se foi.
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Histórias que Ninguém Conta
HumorOs textos contidos na obra são a forma do autor ver com bom humor as mais variadas passagens por ele observadas. O trabalho não tem como objetivo arrancar gargalhadas, mas antes de tudo tirar sorrisos e transformar momentos de leitura em algo leve...