VIZINHA LOIRA 1

31 1 0
                                    

Toda vez que encontro minha vizinha Mary, uma loirinha linda, sobrinha do Seu Carlos é uma festa. Transcrevo agora a última conversa quando saía para trabalhar.

—Bom dia seu Paulo, indo trabalhar?

—O dia começa cedo.

—O senhor sabe da última que aconteceu?

Não adiantaria dizer que não estava interessado, pois ela iria contar assim mesmo.

—O Red Bull da dona Zulmira morreu...

Fiquei tentando imaginar o que poderia ser o redbul. Ela viu minha cara de espanto e continuou.

—Apesar de ser brabo ela gostava muito do cachorro.

—Não seria Pitt Bull?

—Não seu Paulo, Pit Bull é aquele refrigerante que a moçada toma em festa.

Dei um sorriso e ela continuou.

— Foram chamar às pressas o seu Felizardo, aquele pederasta que mora lá na esquina...

Pensei com meus botões. Seu Felizardo é gay? Mas ela foi logo emendando.

—... Mas ele falou que só cuida mesmo de criança e o cão já estava morto mesmo.

—Pediatra? Médico Pediatra?

—Não sei se ele trata dos pés, mas acho que só se for de criança.

Ela nem respirou e continuou:

—Tão achando que foi o pedófilo que mora na avenida da dona Creusa que envenenou o Redbull.

Eu não sabia que na avenida morava um pedófilo e já ia falar para chamarem a polícia para prendê-lo, quando ela continuou:

—Eu sempre o achei meio estranho, fui cuidar de uma unha encravada com ele e ele falou que tinha que matar os bichos do meu pé com veneno.

—Podólogo?

—Não. Acho que quem poda árvore é a dona Eleucrácia, tia dele, ele só cuida de unha encravada e coisas do tipo.

Não dava tempo de me despedir porque ela emendava uma fala na outra:

—O ruim é que dona Zulmira tratava o bichinho como se fosse um filho. Ela não pode ter filhos porque seu Pascoal, marido dela, fez traqueotomia.

—Meu Deus. Seu pascoal teve problemas respiratórios. Problemas na traquéia ou algo pior?

Ela riu:

—Seu Paulo. O senhor é muito divertido. Seu Pascoal vende saúde.

­—E porque então ele fez traqueotomia?

—Porque se dona Zulmira engravidar ela pode até morrer. Aí, ele preferiu fazer a cirurgia lá no coisinha. No abusado. O senhor sabe.

—Vasectomia?

Ela deu uma gargalhada e depois soltou:

—Não foi no vaso. Foi no bigolim.

E continuou:

—Aproveitou para tirar o crepúsculo, aquela pelezinha que fica sobrando no coisinha.

—Prepúcio?

— Ele fez na hora e não foi uma previsão mais para frente. Ele não é vidente. Vidente é que faz prepúcio.

—Prenúncio. Previsão. Presságio.

Ela demonstrou toda sua condescendência:

—Também.

Por um dia, eu já tinha completado minha cota de absurdos.

—Mary eu vou precisar ir trabalhar, conversamos mais outro dia (juro que esse outro dia ia levar uns trezentos anos).

—O senhor vai passar por Manhuacú?

—Mary. Não vou para Minas.

Ela voltou a sorrir e continuou:

—O senhor é mesmo bem humorado. Que Minas. Fica entre Madureira e Rocha Mironga.

Ai meu Deus. Eu não sabia que duas estações antes de Madureira se fazia feitiço.

—Não. Não vou passar em Turiassu.

—Que pena. Senão, eu ia com o senhor.

Pensei: " Graças a Deus. " Entrei no carro rápido e fui embora antes que ela mudasse de ideia.

while(bO

Histórias que Ninguém ContaOnde histórias criam vida. Descubra agora