Behind The Flashes | Jerrie

7 - Courage

Hoje seria a reunião com as gravadoras para a apresentação da letra da música, e eu estava apavorada.

Eu não fazia ideia de como era a gravadora de Jade, mas a minha era bastante rígida quanto a letra de minhas músicas. Eles tinham já um público-alvo em mente, e queriam agradá-lo a todo custo - ou seja, pelo menos metade de minhas músicas era de um pop repetitivo, com a batida clichê e a letra que gruda na cabeça. Apenas as outras músicas eram realmente de meu gosto, com letras mais profundas e significativas.

Isso acontecia com o Little Mix também. Em nossos primeiros álbuns, estava tudo bem. DNA foi um álbum bem diferente e Salute era o álbum com a nossa identidade. Como isso não agradou muito o público (afinal, aparentemente você precisa de muitos rappers e músicas repetitivas se quiser realmente fazer sucesso), tivemos que criar alguns - muitos - hits repetitivos nos álbuns seguintes por obrigação da gravadora. 

Essa pauta também causou discussão em nosso último álbum. Parecia até que qualquer coisa nos fazia chegar ao limite, e isso era exaustivo. Pareceu um bom motivo para desistirmos, pelo menos naquela época.

FLASHBACK - 2018

- Eu não vou aceitar isso! - Jesy disse, elevando seu tom de voz.

Estávamos sozinhas na sala de reunião da gravadora após uma reunião com a equipe, e tinham acabado de avisar-nos sobre todas as parcerias que achavam promissoras para o grupo - ou seja, queriam que seis das catorze faixas tivessem algum rapper conhecido junto. E Jesy não parecia muito propícia a aceitar aquilo.

Leigh-Anne levantou-se de seu lugar e sentou-se ao lado da - agora loira - Jesy. Depois da briga que elas tiveram quanto a esse álbum, elas se tornaram inseparáveis, e Leigh-Anne era, provavelmente, a única pessoa capaz de acalmar Jessica.

- Calma, meu amor. Nós não vamos aceitar isso. Eles são a gravadora, mas nós não somos escravas deles - Leigh envolveu os ombros de Jesy com um de seus braços e deitou sua cabeça no ombro da mais velha. 

- Se depois nós não teremos gravadora, mesmo, o que temos a perder? - disse Jade, com sarcasmo em sua voz. Ela andava mais distante ultimamente, e estava sendo difícil alcançá-la.

Jessica atirou uma caneta em minha noiva.

- Você é mais pessimista que eu. Quando foi que mudou tanto?

Jade olhou para suas próprias mãos com um olhar tão triste que quebrou meu coração. Jesy também pareceu notar aquilo, já que perdeu sua postura brincalhona e desvencilhou-se dos braços de Leigh-Anne, indo em direção a Jade e acolhendo-a em um abraço.

Jessica tinha uma postura muito protetora em relação à Jade, talvez porque a morena que mais a tivesse ajudado a ganhar sua autoconfiança diante os comentários maldosos que Jesy recebia. Não que eu e Leigh não ajudássemos - nós dávamos sempre o nosso melhor -, mas Jade tinha um jeito único de ajudar as pessoas. E, por esse instinto quase materno de Jessica, muitas vezes discutíamos quando Jade ficava triste comigo - o que, ultimamente, parecia cada vez mais frequente.

- Ei Jadey, o que aconteceu? - Jesy colocou uma mecha do cabelo castanho de Jade para trás da orelha, mas a mais nova não a encarou.

Jade engoliu em seco, girando o anel de noivado em seu dedo. Ela cruzou os braços e encolheu-se mais contra o abraço de Jesy.

Senti um pouco de inveja. Durante muito tempo, era eu quem a abraçava daquela maneira, e era seu porto seguro. Mas, agora, lá estava Jade, sentada do outro lado da mesa de madeira. Eu gostaria de saber por que ela estava assim, mas simplesmente não entendia.

- Eu não quero pensar na possibilidade de a gravadora nos despejar e acabar nos separando - minha noiva disse, com a voz embargada. - Eu não quero perder vocês.

- Ah, meu amor, isso nunca vai acontecer - Jesy acariciou os cabelos escuros de Jade enquanto ela escondia seu rosto no ombro de Jessica. - Nós vamos continuar juntas, sempre. Mesmo que não como um grupo. Não foi isso que sempre prometemos? Eu sempre vou estar aqui para você, Jadey. Sempre.

Eu fui a última a chegar à reunião, mas todos já estavam acostumados a isso. Sentei-me ao lado de Simon, que estava, estranhamente, no meio da mesa. Normalmente ele ficava na ponta, já que comandava a reunião. Hoje o lugar estava ocupado por Scooter.

Jade e eu apresentamos a letra, e explicamos como funcionaria cada parte. Seria um dueto, e não uma parceria. Nós não consultamos as gravadoras quanto a isso, mas chegamos à conclusão que seria melhor assim.

- É uma música animada, mas com a letra melancólica. Me lembra bastante Scared To Be Lonely, na verdade - disse Jade, continuando a falar sobre a canção. - A letra foi escrita apenas por nós duas, e já temos a batida na cabeça.

- Uma música sobre um casal que aparenta amizade para o mundo mas que, na verdade, está vivendo um relacionamento escondido? - Scooter perguntou, analisando a letra em suas mãos. - Vocês não cantaram algo parecido quando em grupo?

Percebi as bochechas de Jade se avermelharem, e sorri com aquilo. Voltei a olhar para Scooter e acenei com a cabeça.

- Sim, algo do gênero.

- Não acho que isso seja bom para sua imagem, Perrie - interveio Simon. Encarei-o sem acreditar. Ele estava mesmo, novamente, querendo mudar tudo em minhas canções?

- Muito pelo contrário, Cowell - retrucou Scooter, virando-se para meu empresário. - Imagine a repercussão que a música sobre representatividade e um amor muitas vezes repudiado, mas ao mesmo tempo libertador teria. Isso mostraria não que Perrie faz parte da comunidade LGBT, mas que ela os apoia e que eles não precisam se esconder como o casal citado na música. Ao meu ver, é uma ótima imagem a ser passada.

Simon ficou em silêncio, e eu agradeci Scooter mentalmente por calá-lo. Não eram muitas as pessoas capazes de fazer aquilo.

- Tudo bem, a música está aprovada. Após a gravação, já podemos anunciá-la - Scooter disse, sorrindo para nós. - Obrigado por enquanto. Vocês são ótimas e formam uma bela dupla. E Perrie, espero trabalhar mais com você no futuro.

E com isso, a reunião chegou ao fim.

Todos saíram da sala, exceto Jade e eu. Ela começou a guardar seus rascunhos e folhas na pasta enquanto eu permaneci em pé desajeitadamente atrás dela.

Uma vez, alguém me disse que você só precisava de vinte segundos de coragem para qualquer coisa. Talvez para pedir algo para sua mãe, ou para pedir alguém em namoro. Seja o que for, diversas coisas eram possíveis de ser feitas em vinte segundos.

Eu só precisava de um pouco de coragem.

- Então... - eu disse, me encostando na mesa de madeira, ao lado de onde Jade se organizava.

- Então...? - ela repetiu, terminando de guardar suas coisas e virando-se para mim. Olhar em seus belos olhos castanhos pareceu tornar tudo mais difícil.

Limpei a garganta antes de continuar.

- Jesy vem hoje para a cidade, e vamos a um clube aqui perto. Seria legal se você nos acompanhasse.

Os segundos que antecederam sua resposta pareceram eternos. Até que Jade abriu um sorriso.

- Claro, parece ótimo. Você passa no meu apartamento para me buscar?

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Será que agora Jerrie se encaminha ou ainda tem muita coisa não resolvida aí? Sexta-feira no Globo Repórter.

Saudades do meu Jadesy sz