Capítulo 34

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" I don't know what
You're going through
But there's so much life
Ahead of you
And it won't slow down
No matter what you do
So you just gotta hold on
All we can do is hold on, yeah
Yeah, you just gotta hold on
Just hold on for me"
- Hold on - Shawn Mendes

"Eu não sei pelo quê
Você está passando
Mas há tanta vida
À sua frente
E não vai ficar mais "lento"
Não importa o que você faça
Então você só tem que aguentar firme
Tudo que podemos fazer é aguentar firme
Você só tem que aguentar firme
Aguente firme por mim"
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O clima ficou muito tenso durante o resto do dia. Bia e Matheus perceberam isso e não demoraram a ir embora.

Eu não falei nada além do necessário com minha mãe e Bruno, que pareciam dois urubus vigiando a mim e a Tomás, estavam começando a me assustar. Acho que o maior medo da minha mãe era que algo - gravidez - acontecesse e atrapalhasse meus estudos - mais do que um coma já tinha atrapalhado - principalmente agora que estava me preparando para o ENEM. Ela sempre fez de tudo para que eu fosse alguem na vida, queria que eu me formasse em direito como ela, mas eu sempre quis ser como meu pai, um médico.

Ah, meu pai, como sinto sua falta. Ele saberia lidar com esse tratamento de silêncio da minha mãe. Ele provavelmente faria uma de suas brincadeiras idiotas ou contaria uma de suas piadas horríveis e quebraria o gelo, deixaria o ambiente leve e descontraído. Não estou dizendo que minha mãe me perdoaria, mas seria muito diferente. Ele iria no meu quarto a noite, faria cafuné em mim e diria um conselho seguido por algo reconfortante. Iria me desejar boa noite e que eu sonhasse com os anjos, em seguida diria que me amava, e eu responderia antes que ele fechasse a porta.

Eu realmente espero que ele esteja em um lugar melhor agora, que ele esteja em paz, pois ele merece. Ele era o meu anjo da guarda, sempre cuidando de mim, e eu aposto que, onde quer que ele esteja, ele ainda está. E eu sei que minha mãe também sente falta dele, mesmo que não toque no assunto. Na verdade, duvido que alguém que o conhecesse de verdade não sinta sua falta.

Acho que a única coisa (além dos meus amigos) que me manteve sã durante os dias que se passaram foi a presença da minha maravilhosa tia, que infelizmente iria embora em breve. Ela era a única pessoa que falava comigo em casa, além de Tomás. Minha mãe estava falando sério quando disse que as coisas não seriam iguais. Ela nem parece mais minha mãe.

Batidas na porta me fizeram desviar o olhar do dever de Matemática que estava fazendo.

- Entra. - Falei para a pessoa apoiada no batente e logo uma Bia sorridente e saltitante entrou no quarto. Ela parou do meu lado e me encarou ainda sorrindo. - O que foi? Por que está sorrindo desse jeito? Por favor, para. - Ela revirou os olhos e riu.

- Eu tenho uma ótima notícia. - ela me olhou em expectativa, como se esperasse alguma reação diferente do meu olhar inexpressivo e suspiro - Festa. Hoje. Na casa do Pedro. - Ela cantarolou, fazendo uma dancinha ridícula com as mãos.

- Esse é seu conceito de ótima notícia?

- Me pareceu uma ótima oportunidade para te tirar de dentro de casa.

- O Pedro dá uma festa quase todo final de semana.

- Mas essa é diferente, é o aniversário dele. Vai ser uma super festa. - Soltei o ar pesadamente.

- Pode ser. Os meninos vão? - Perguntei, voltando meu olhar ao caderno.

- Provavelmente. Mas mesmo se não forem, não nascemos grudadas neles. Quero que seja uma noite nossa, das meninas. Faz tempo que a gente não sai.

- Não vai ser uma "noite das meninas" com centenas de pessoas lá. - Ela revirou os olhos.

- Você entendeu.

- Tá, eu vou. Só tenho que convencer minha mãe, porque eu tenho certeza que agora ela acha que eu sou uma trabalhadora da noite que deu pro irmão e dá para qualquer um. Sem querer desmerecer a profissão.

- Ela nunca acharia isso, você sabe disso. Ela te ama e não te julgaria desse jeito.

- Então você não conhece ela. Ela julga todo mundo. Sabe aquelas pessoas que não têm o que fazer e ficam falando mal dos outros sem nem conhecer? Minha mãe. Se brincar, ela está falando mal de você desde o momento que te viu entrando pela porta até agora e você nem faz ideia. Ela é assim, falsa mesmo.

- Cuidado aí, é da sua mãe que você está falando. Ela pode ter mil defeitos, mas ainda é sua mãe e merece respeito. - Cruzou os braços abaixo dos seios - Agora levanta e vai falar com ela. - Revirei os olhos.

Minha mãe estava na cozinha preparando o que eu achava ser um bolo. Ela mexia no pingente do colar como sempre fazia quando estava concentrada. A mesma deu um pequeno pulo de susto quando me pronunciei.

- Posso falar com você? - Virou para me olhar.

- Pode.

- Eu queria saber se eu posso ir a uma festa com a Bia. - Ela arqueou as sobrancelhas.

- E alguma vez o que eu queria te impediu de fazer alguma coisa? Do que importa dizer que você não pode ir, se você provavelmente iria do mesmo jeito? - Suspirei pela milésima vez no dia.

- Olha, eu sei o que você deve estar pensando, que eu sou uma vadia. Mas eu já fal... - Comecei, já me estressando

- Você fez isso pra se vingar de mim? - Me interrompeu e largou a colher dentro do recipiente de metal - Por eu ter casado de novo depois do seu pai? Entenda, eu tinha que serguir em frente! - Ela me interrompeu.

- Me vingar? Claro que não! Você estava certa em seguir em frente, é o que papai iria querer. Mas o que eu e Tomás temos não tem nada a ver com você e meu pai. - Um suspiro pesado saiu de sua boca - Eu o amo, e o único responsável por isso é Tomás.

- Certo. - Voltou sua atenção à massa.

- Posso ir? - Já tinha perdido a vontade, na verdade.

- Faça o que quiser, Olivia. - Fez um movimento de desdém com a mão. Eu suspirei e segurei as lágrimas.

- E eu pensei que sempre poderia contar com você. - Falei baixinho.

- Você pode. - Respondeu - Mas eu preciso me acostumar com a ideia de que o garoto que eu considerava um filho se aproveitou da minha filha.

- Se aproveitou? Do que você está falando? Você está se ouvindo?! - Senti meu coração acelerar por conta da raiva e indignação. Como ela podia falar essas coisa?

- Você estava frágil emocionalmente, acordou de um coma e perdeu o pai. E ele se aproveitou disso e tirou sua inocência!

- Você está totalmente desequilibrada. Você acha mesmo que eu era uma santa? Tomás não foi o primeiro, nem o segundo... Eu quis transar com ele. - Fui um pouco mais grossa do que pretendia - Eu espero que perceba antes que seja tarde demais que o que você está falando é loucura. - Ela continuou de costas, sem responder - Eu preferia que o papai estivesse aqui. - Me virei para voltar para o quarto - Não me espere para o jantar, nem para o café. E não se preocupe, vou manter minhas pernas fechadas hoje.

Encontrei Bia deitada na minha cama olhando algo no celular.

- O que você está esperando? Não vai se arrumar? - Perguntei. Ela se levantou imediatamente, sorrindo.

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O Meu Melhor Erro (Hiatus e  Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora